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Antonio Carlos Siufi Hindo

Canudos, a História do Brasil!

04 Mar 2016 - 09h46
Canudos, a História do Brasil! -
Antonio Carlos Siufi Hindo


Esses dias atrás, assisti a um importante programa educativo na TV Senado que mostrava uma interessante palestra proferida na cidade de Brasília pelo historiador Ariano Suassuna. No curso da sua palestra, o conferencista surpreendeu a todos dizendo que quem não conhece a Revolta de Canudos não conhece a História do Brasil. Suassuna foi de uma felicidade incrível ao lançar esse desafio histórico e singular para o povo brasileiro de todas as faixas etárias a respeito desse fato político, social e também de cunho religioso, que sacudiu o sertão baiano durante os anos de 1896 e 1897, e que teve na liderança incontestável de Antônio Vicente Mendes Maciel, alcunhado por Antônio Conselheiro, o seu principal líder.


Canudos mostrou a face mais amarga do sertanejo brasileiro vivendo uma vida de dor e de desencanto diante da brutalidade das políticas públicas que partiam do Palácio do Catete, na cidade do Rio de Janeiro, contra as suas pretensões de paz, de progresso e de desenvolvimento social. Gritavam, sobretudo, os seguidores de Antonio Conselheiro, contra os grandes latifúndios improdutivos, as secas cíclicas, que castigavam os sertanejos, o desemprego crônico que maltratavam os chefes de família que, dia após dia, constatavam a fraqueza da prole e o seu destino sempre trágico.


Engrossava a fila desses desesperados os ex-escravos que viajavam pelas estradas dos sertões excluídos também do acesso à terra e com reduzida oportunidade de trabalho. Nessa quadra de angústia, aquele amontoado de miseráveis se apegaram então com as promessas feitas por Antônio Conselheiro, que recomendava a resistência armada, como única forma de poupar os humildes habitantes do sertão do clima de exclusão social e econômica a que eram submetidos.


Canudos, não queria a volta da monarquia, nem defendia outra estrutura de governo. Suplicava apenas que o governo central dispensasse às suas reivindicações um remédio que pudesse colocar fim àquela dor e sofrimento. Nada mais. Foi exatamente isso que Suassuna quis mostrar para os seus ouvintes. Ele fez um alerta histórico e patriótico da nossa pobreza extrema, já naquela época. E concitou a todos a se reflexionar no sentido de que aquela triste realidade persiste até os nossos dias. Canudos preocupou o governo federal. Vários derrotas, as tropas federais sofreram diante da valentia de um povo que lutou resignado com as armas que tinham à sua disposição para afastar o perigo da opressão, da desgraça, da desconfiança, da desesperança que sempre circundavam os lares daquelas pessoas humildes.


Na última e decisiva missão, o governo resolveu enviar o seu próprio ministro da Guerra, Carlos Machado Bittencourt, para comandar pessoalmente as operações militares. Os horrores da guerra foram denunciados pela carnificina produzida. Uma grande quantidade de corpos já em adiantado estado de putrefação, inclusive o do próprio Antônio Conselheiro, estavam expostos à vista dos sobreviventes. Ato de pura sandice.


Mas o pior estava por acontecer. Quando as tropas retornaram para a cidade do Rio de Janeiro vitoriosa, o próprio presidente Prudente José de Moraes e Barros fora pessoalmente ao cais do porto da cidade do Rio de Janeiro receber o seu ministro vitorioso. E eis que, de repente, no próprio cais, surge um dos seguidores de Antônio Conselheiro empunhando uma arma branca e marchou tresloucado para ferir de morte o presidente que, foi poupado, porque, o seu ministro, vendo o perigo que corria o chefe do governo, se interpôs, entre a vítima e o agressor, e recebeu, ele próprio, o golpe fatal. Essa passagem histórica está esculpida em nossos anais. Ela reflete a nossa preocupante realidade econômica e social. O desemprego, a inflação, o derretimento da nossa moeda, a falta de perspectiva para a retomada do desenvolvimento envolve a todos nessa situação, que também precisa preocupar o governo federal a tomar as iniciativas, que a camada mais simples da população está a reclamar.

Promotor de Justiça aposentado. e-mail: [email protected]

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