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Opinião

Baldasso: O ministério da ignorância

12 Jul 2011 - 07h00
Baldasso: O ministério da ignorância -
Jorge Luiz Baldasso


Quando “Seu Creysson” – aquele personagem caricato do “Casseta & Planeta”- lançou sua candidatura à Presidência da República, tinha como uma de suas metas a criação do “Ministério da Ignorância”, em substituição ao combalido e cada vez mais desacreditado “Ministério da Educação”. Era piada, é claro, mas, como toda piada tem seu lado verdadeiro, seria interessante discorrer sobre esta inusitada alteração na nomenclatura daquela pasta tão importante para o futuro da nação – afinal, talvez nunca antes na história deste país aquele ministério esteja merecendo tanto esta nova denominação (com todos os créditos para Seu Creysson, o patrono da ideia).

Não estou exagerando! Um estudo promovido pela OCDE com 470 mil alunos de 65 países, coloca o Brasil na vergonhosa 53ª posição. Vejam só, nossos alunos estão no mesmo nível dos de Trinidad e Tobago em leitura; em matemática nos equiparamos aos da Albânia, e no ranking geral ganhamos apenas de países miseráveis e atrasados como Quirguistão, Kazaquistão e Azerbaijão. O Brasil é também o país que menos gasta com educação – só 3,9% do PIB, o que levou aquele organismo a sentenciar, severamente: “a porcentagem do PIB gasta em educação demonstra a prioridade que os governantes dão a esta questão”.

Institutos de pesquisa nacionais também confirmam este resultado pavoroso; numa avaliação feita em 2009 pelo IDEB, os alunos do ensino fundamental tiraram nota 4,6, numa escala de 0 a 10; no ensino médio a situação é ainda mais grave: nota 3,6. E, pasmem, o ministro da educação comemorou (esperava um resultado pior).

Nada contra o ministro. Se, entretanto, meu filho um dia me apresentasse um boletim com média 3,6 eu ficaria muito preocupado com o futuro dele.
Mas, afinal, o que fez a educação pública ir tão ao fundo do poço? Não existe uma resposta fácil, mas o que se percebe é que há um conflito em que o viés ideológico assumiu a primazia sobre aquilo que deveria ser o objetivo da educação pública.

O resultado é que, ao invés de se preocupar em ensinar o que deveria ser ensinado, entrega-se aos alunos livros que tentam convencer que falar errado é certo (quem não concorda é preconceituoso), mostram a eles filmes sobre homossexualismo (a pretexto de fomentar a tolerância), criam-se cotas raciais (quando a inclusão social passa pela melhoria da qualidade do ensino), e até queriam censurar Monteiro Lobato, pois alegavam que seus livros tinham conotação racista.

Professores estão desestimulados, não só por causa do salário aviltante, mas também porque perderam a autoridade e o direito de disciplinar (já que é crime “constranger” um menor) e os próprios pais tem dificuldades em lidar com a rebeldia dos filhos, que não podem mais ser castigados fisicamente - quem vai fazer isso é a polícia, quando atingirem a maioridade.

Resumindo: nossas autoridades, ocupadas demais em disseminar conceitos de utilidade duvidosa, se esqueceram de dar prioridade à qualidade do ensino da gramática, matemática, história, ciências... O resultado é que a maioria dos alunos hoje não consegue entender um enunciado simples, nem fazer as quatro operações matemáticas.

Uma situação lamentável para o ensino público, unanimemente considerado o fator mais importante para afastar as pessoas da miséria, da violência e das drogas, e o caminho mais curto e seguro para a prosperidade e a justiça social, com resultados muito mais promissores do que as políticas de bolsas família e a distribuição de cestas básicas. Além disso, um povo culto vota melhor e não se deixa manipular.


Mudar o nome do Ministério da Educação para Ministério da Ignorância seria uma solução; ele permaneceria com esta denominação até que o nível dos estudantes do país alcançasse uma marca razoável em termos educacionais - pelo menos uns dois degrau acima do quase semianalfabetismo atual. Ou seja, aquela pasta só voltaria a ser chamada “Ministério da Educação" quando fizesse por merecer este nome.


É claro, muitos se sentirão ofendidos, dirão que isso é ultrajante, um golpe em nossa autoestima, mas, convenhamos, talvez assim passemos a levar a educação no país mais a sério. Devemos isso a nossas crianças e nossos jovens.

######Médico

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