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Wilson Valentim Biasotto

As belas mentiras

30 Jul 2016 - 06h00
As belas mentiras -
O título desta crônica é inspirado na obra de Maria de Lourdes Chagas Deiro, "As belas mentiras: a ideologia subjacente aos textos didáticos". Nesta obra a autora denuncia a visão irreal contida nos textos de leitura de 1º grau, o que possibilita ações antieducativas que impõe a cultura dominante. A leitura de “As Belas Mentiras” pode significar uma abertura de espaços para que “a escola encontre, talvez através dos próprios textos, didáticos, o caminho de sua libertação”.


Não encontrei a obra em minha desorganizada biblioteca para relembrar sobre o tema, mas na busca deparei-me com a revista de “Estudos Avançados”, da USP, que traz brilhante artigo de Paulo Nogueira Batista Jr. “Mitos da Globalização”, (uma bela mentira), o que me proporcionou uma convergência dos temas e levou-me a refletir sobre as belas mentiras do momento em que vivemos e procurar demonstrar aos meus caros leitores que todo cuidado é pouco ao lermos livros, revista, jornais ou mesmo ouvirmos programas noticiosos do Rádio e da Televisão.


Ouvi dizer que na administração Tetila foram colocados canos de um milímetro na Reserva Francisco Horta e que, portanto, a perfuração de poços não resolveria o problema da falta de água nas aldeias, especialmente na Bororó. Pois bem, na verdade a administração Tetila manteve contato com a UNICEF e com a Fundação de Saúde Indígena e desses encontros é que se obteve a canalização de água potável na Reserva e a distribuição de centenas de filtros para evitar a morte, principalmente de crianças, que ocorria àquela época como verdadeira epidemia.


Em relação à Avenida Guaicurus, que deveria ser um cartão de visitas para nossa cidade, o ex-governador, ao ser cobrado, especialmente pelos estudantes da UFGD e UEMS, afirmou que até outubro de 2014 entregaria uma rodovia igual às existentes na Suíça. E que ocorreu? Mais de um ano de atraso nas obras e, pior, uma construção de péssima qualidade, uma iluminação caindo por si só, uma ciclovia inutilizável, pois os entulhos nela se acumulam quando as chuvas provocam enxurradas, mesmo que pequenas.


O prefeito municipal, mesmo sendo proprietário de uma escola de ensino superior recusa-se a receber os professores da rede municipal que se encontram em greve. No caso a bela mentira resume-se na falta de dinheiro, mas ora, se não houver dinheiro basta receber os professores e fazer a demonstração do que pode e do que não pode ser feito, a exemplo do que fazíamos na administração Tetila, quando estivemos na secretaria de governo.


Outra das belas. A Folha de São Paulo recentemente deturpou vergonhosamente uma pesquisa realizada pela Instituto Data Folha, dando a impressão de que o povo brasileiro está satisfeito com o governo provisório. Incrível que o próprio ombudsman do jornal desvelou essa bela mentira.


Mais uma. Dias atrás “O Globo” em editorial defendeu a cobrança de pagamentos para os estudantes das escolas públicas de ensino superior, alegando que nos países desenvolvidos o ensino superior é pago. Duas belas mentiras: cito de memória alguns países onde o ensino é inteiramente gratuito: Alemanha, Finlândia, Dinamarca, Reino Unido, Escócia, País de Gales e por aí afora. E, segundo, a alegação de que o ensino superior é frequentado pela elite econômica do Brasil não justifica a cobrança. Distribuição de renda se faz com aplicação de impostos justos, pagando mais quem tem mais e menos quem menos tem, não com pagamento de escola.


Outra ainda. Atribuir apenas aos políticos (especialmente aos petistas) a pecha de corruptos é, praticamente, uma autodefesa dos sonegadores de impostos de empresários mancomunados com contratos ilegais e com a grande mídia. O político não se torna corrupto quando ingressa na política, mas já é corrupto antes mesmo de ser candidato.


Por fim, não que o tema se esgote. Mas dizer que o governo Temer é legítimo é a maior, a mais bela mentira de toda a história do Brasil. A presidente Dilma pode até perder o seu mandato, por estar nas mãos de alguns senadores que negociaram com Temer e Cunha a sua cassação, mas para a história, o golpe em andamento jamais será chamado de impeachment, com legalidade constitucional.


Mas, enfim, não somente as mentiras são malevolentes, como disse o poeta Alfred Tennyson, "a mentira que é meia verdade é a pior das mentiras".


Membro da Academia Douradense de Letras. e-mail: [email protected]

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