Não encontrei a obra em minha desorganizada biblioteca para relembrar sobre o tema, mas na busca deparei-me com a revista de “Estudos Avançados”, da USP, que traz brilhante artigo de Paulo Nogueira Batista Jr. “Mitos da Globalização”, (uma bela mentira), o que me proporcionou uma convergência dos temas e levou-me a refletir sobre as belas mentiras do momento em que vivemos e procurar demonstrar aos meus caros leitores que todo cuidado é pouco ao lermos livros, revista, jornais ou mesmo ouvirmos programas noticiosos do Rádio e da Televisão.
Ouvi dizer que na administração Tetila foram colocados canos de um milÃmetro na Reserva Francisco Horta e que, portanto, a perfuração de poços não resolveria o problema da falta de água nas aldeias, especialmente na Bororó. Pois bem, na verdade a administração Tetila manteve contato com a UNICEF e com a Fundação de Saúde IndÃgena e desses encontros é que se obteve a canalização de água potável na Reserva e a distribuição de centenas de filtros para evitar a morte, principalmente de crianças, que ocorria à quela época como verdadeira epidemia.
Em relação à Avenida Guaicurus, que deveria ser um cartão de visitas para nossa cidade, o ex-governador, ao ser cobrado, especialmente pelos estudantes da UFGD e UEMS, afirmou que até outubro de 2014 entregaria uma rodovia igual à s existentes na SuÃça. E que ocorreu? Mais de um ano de atraso nas obras e, pior, uma construção de péssima qualidade, uma iluminação caindo por si só, uma ciclovia inutilizável, pois os entulhos nela se acumulam quando as chuvas provocam enxurradas, mesmo que pequenas.
O prefeito municipal, mesmo sendo proprietário de uma escola de ensino superior recusa-se a receber os professores da rede municipal que se encontram em greve. No caso a bela mentira resume-se na falta de dinheiro, mas ora, se não houver dinheiro basta receber os professores e fazer a demonstração do que pode e do que não pode ser feito, a exemplo do que fazÃamos na administração Tetila, quando estivemos na secretaria de governo.
Outra das belas. A Folha de São Paulo recentemente deturpou vergonhosamente uma pesquisa realizada pela Instituto Data Folha, dando a impressão de que o povo brasileiro está satisfeito com o governo provisório. IncrÃvel que o próprio ombudsman do jornal desvelou essa bela mentira.
Mais uma. Dias atrás “O Globo” em editorial defendeu a cobrança de pagamentos para os estudantes das escolas públicas de ensino superior, alegando que nos paÃses desenvolvidos o ensino superior é pago. Duas belas mentiras: cito de memória alguns paÃses onde o ensino é inteiramente gratuito: Alemanha, Finlândia, Dinamarca, Reino Unido, Escócia, PaÃs de Gales e por aà afora. E, segundo, a alegação de que o ensino superior é frequentado pela elite econômica do Brasil não justifica a cobrança. Distribuição de renda se faz com aplicação de impostos justos, pagando mais quem tem mais e menos quem menos tem, não com pagamento de escola.
Outra ainda. Atribuir apenas aos polÃticos (especialmente aos petistas) a pecha de corruptos é, praticamente, uma autodefesa dos sonegadores de impostos de empresários mancomunados com contratos ilegais e com a grande mÃdia. O polÃtico não se torna corrupto quando ingressa na polÃtica, mas já é corrupto antes mesmo de ser candidato.
Por fim, não que o tema se esgote. Mas dizer que o governo Temer é legÃtimo é a maior, a mais bela mentira de toda a história do Brasil. A presidente Dilma pode até perder o seu mandato, por estar nas mãos de alguns senadores que negociaram com Temer e Cunha a sua cassação, mas para a história, o golpe em andamento jamais será chamado de impeachment, com legalidade constitucional.
Mas, enfim, não somente as mentiras são malevolentes, como disse o poeta Alfred Tennyson, "a mentira que é meia verdade é a pior das mentiras".
Membro da Academia Douradense de Letras. e-mail: [email protected]