Os amigos espirituais nos ensinam que devemos nos desapegar de tudo o que não poderemos levar para o outro lado por ocasião da Grande Viagem. Um amigo até deu-me uma exemplificação bem simples. Eurico vivia "ligado" em rapadura. A todo instante estava comendo rapadura com enorme prazer. Vivia pensando em rapadura. Achava a coisa melhor do mundo. Comia rapadura de manhã, de tarde, à noite. Não podia viver sem rapadura. Ao desencarnar não encontrou rapadura no plano espiritual e sentiu uma falta enorme. Ficou desesperado até que, depois de muito sofrer a angústia do sentimento de perda, descobriu que aquele apego lhe era prejudicial e se libertou. Isto acontece com todas as coisas: fumo, álcool, drogas, luxúria, gula e tudo o mais.
Outro exemplo é o do rapaz que desencarnou e deixou a noiva chorosa. Pelo que ela lhe dizia, ele deduzia que "ela não poderia viver sem ele", o que é normal dizer-se quando em colóquio amoroso. Ficou desesperado no plano espiritual querendo voltar para consolá-la e não pôde porque não tinha condições e assim não lhe seria permitido vir, pois poderia prejudicar aos que ama. É um sofrimento terrível, segundo nos relatam os espíritos. Isso poderia ser evitado se antes de partir se desapegasse das ligações terrenas. Não é por estar longe que deixamos de amar da mesma forma. Quem ama sente a pessoa amada junto a si embora distante e mesmo desencarnada. Se for obrigado a ficar separado, nada se pode fazer. Se nada podemos fazer, para que se martirizar? Tem que aprender a se desapegar de coisas e pessoas. O tempo passa e depois de alguns anos o espírito tem possibilidade de rever os seus. Vê a noiva feliz e casada com outro. Quando é caso de marido e mulher, o cônjuge desencarnado vai encontrar o outro já em segundas núpcias feliz e com filho. A vida passa e nós não somos donos dela. Ela é para ser vivida com alegria, amor e tranqüilidade.
Se fizermos o exercício permanente de desligamento, evitaremos decepções no plano espiritual. Ninguém atingiu a perfeição. É difícil para a gente o "deixar pra lá" de todas as coisas, amizades e amores. Mas devemos aprender a deixarmos a sensação de posse sobre pessoas e coisas. É difícil, mas não é impossível.
Mesmo em vida, quando uma filha sai de casa, os pais ficam num tormento, pois é sempre sua menininha. Como é que vai viver? Quanto sofrimento vai passar? Será que está bem? Coitadinha será que não quer voltar? Não seria bom procurarmos saber? E tantas perguntas sem resposta, pura e simplesmente porque não reconhecemos que nosso amor é de fato egoísta. Há pessoas que sofrem muito por isso. Se não fossem possessivas, sentiriam menos. Sejamos, pois menos apegados.
Médico. Escreve às quartas-feiras. e-mail: [email protected]