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Wagner Cordeiro Chagas

A redemocratização em Mato Grosso do Sul

29 Mar 2016 - 11h47
A redemocratização em Mato Grosso do Sul -
O dia 15 de março é marcante na história de Mato Grosso do Sul, pois foi quando se iniciou, no ano de 1983, o primeiro governo eleito pela vontade popular, sob o comando de Wilson Barbosa Martins e Ramez Tebet, governador e vice, respectivamente, ambos do PMDB. Wilson e Ramez elegeram-se em 15 de novembro de 1982 (eleição esta que foi objeto de minha pesquisa de mestrado na UFGD), num pleito histórica tanto para o estado quanto para o Brasil, já que significou o restabelecimento das eleições diretas aos governos estaduais, as quais haviam sido suspensos pelo regime militar, no ano de 1966.


Graças à uma frente política que abarcava desde comunistas a antigos aliados do regime autoritário, Wilson Martins venceu o candidato governista, o ex-prefeito de Dourados José Elias Moreira (PDS) e outras duas candidaturas de pouca estrutura de campanha, mas que tinham uma destacada carreira política: a do ex-ministro do governo João Goulart, Wilson Fadul (PDT) e a do jovem deputado federal Antônio Carlos de Oliveira (PT).


O governo Wilson Barbosa Martins sucedeu o de Pedro Pedrossian (PDS) - que se tornaria seu maior rival político - e inaugurou uma nova fase na política estadual: a das normalizações democráticas, já que entre 1979 e 1980, o estado viveu uma instabilidade política oriunda das disputas pelo poder entre as elites dirigentes locais, o que levou 3 governadores nomeados a administrar Mato Grosso do Sul: Harry Amorim Costa, Marcelo Miranda Soares e Pedro Pedrossian (Londres Machado, então presidente da Assembleia Legislativa, governou por algumas semanas, duas vezes de modo interino, em 1979 e 1980).


Wilson Martins e seu irmão Plínio Barbosa Martins, deputado federal eleito em 1982, fazem parte da tradicional família Barbosa, oriunda de Minas Gerais e que adquiriu terras no então Sul de Mato Grosso na região conhecida como Campo da Vacaria. Os irmãos iniciaram a carreira pública num dos partidos mais conservadores do Brasil, a UDN, e pertenceram a ala apelidada de Bossa Nova, um grupo com posicionamentos progressistas. Wilson e Plínio tinham posicionamentos políticos alinhados a centro-esquerda, tanto é que com o início da ditadura militar em 1964 e a instituição do bipartidarismo, eles optaram pelo MDB, de oposição moderada ao regime. No ano de 1969, Wilson Martins teve seu mandato de deputado federal cassado pelo Ato Institucional número 5 (AI-5), por seus posicionamentos democráticos.


Em conformidade com a historiadora Marisa Bittar, o primeiro governo Wilson Barbosa Martins implantou no estado mecanismos de administração democrática e participativa. Exemplo disso foram os programas Sindicalizando Muda, que incentivava os trabalhadores a se organizarem através de sindicatos; o Congresso Educação para a Democracia, conjunto de reuniões voltadas a elaboração de uma política educacional os valores democráticos, que contou com a participação dos movimentos estudantis universitários e secundaristas, a Federação dos Professores de MS (FEPROSUL), atual FETEMS, entre outra entidades. As manifestações artísticas, de acordo com pesquisa do historiador Gilmar Caetano, destacaram-se por meio da criação da Fundação de Cultura (FCMS).


Além dessas políticas implantadas, o governo Wilson Martins trouxe para Mato Grosso do Sul o grito das ruas que marcou o Brasil nos anos de 1983 e 1984, os comícios das Diretas Já, movimento que reivindicava a aprovação da Emenda Constitucional do deputado federal Dante de Oliveira (PMDB-MT), que restabelecia eleições diretas para a Presidência da República. Com a reprovação desta e a conseqüente campanha de Tancredo Neves (PMDB) à Presidência para as eleições indiretas de 1985, o governo Wilson deu total incentivo a esta candidatura, realizando em Campo Grande e outras cidades comícios e reuniões. Naquele mesmo ano, seguindo os rumos do governo federal, a gestão peemedebista fortaleceu ainda mais a redemocratização ao apoiar a legalização do Partido Comunista Brasileiro (PCB), cujos militantes tiveram importante papel nas eleições de 1982 e na elaboração das políticas sociais e educacionais do governo.


Em abril de 1986, Wilson se desincompatibilizou do cargo para disputar uma vaga no Senado nas eleições daquele ano. Em seu lugar assumiu o vice-governador Ramez Tebet (PMDB) que ficou encarregado de encerrar o mandato. Wilson Martins e Rachid Derzi se elegeram senadores, ambos pelo PMDB, e o então senador Marcelo Miranda (PMDB), tendo como principal cabo eleitoral o Plano Cruzado, foi eleito governador.


Mestrando em História pela UFGD e professor em Fátima do Sul. e-mail: [email protected]

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