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Editorial

Veneno sem fiscalização

26 Jun 2018 - 07h00
Veneno sem fiscalização -
Apesar da Agência Nacional de Vigilância Sanitária ter proibido o uso do carbofurano, um veneno largamente utilizado pela agricultura brasileiro na produção de alimentos, na prática quase nada mudou. Trata-se de um produto extremamente tóxico, segundo a Organização Mundial da Saúde, que é espalhado no solo e nas sementes de vários produtos da mesa do brasileiro, a exemplo das hortaliças. Além da proibição, a medida estabelece um prazo de três meses para o fim da produção, importação e comercialização de agroquímicos à base deste ingrediente. Entretanto ao que tudo indica, o veneno continua sendo utilizado de forma clandestina. Apesar da existência de inúmeros estudos e da denúncia feita pelo cineasta Silvio Tendler, no documentário ‘O veneno está na mesa’, a proibição só veio depois que a apresentadora Bela Gil (filha do cantor Gilberto Gil) liderou uma campanha através das redes sociais. Antes da decisão, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária lançou consulta pública sobre o assunto. Entretanto, somente agora ela publicou resolução determinando que todos os produtos que contenham o carbofurano são proibidos de aplicação no Brasil, principalmente pela presença dos resíduos nos alimentos e também na água, o que representa risco agudo à população brasileira, podendo causar malefícios à saúde humana. Com a decisão, está proibida a utilização direta do composto nas culturas de algodão, amendoim, arroz, batata, cenoura, feijão, fumo, milho, repolho, tomate e trigo. Em todas as demais culturas, a agência proibiu a aplicação aérea e na costa. Em relação às culturas de banana, café e cana-de-açúcar, a agência estabeleceu um prazo de seis meses para a descontinuação completa do uso a partir da data de publicação. Esse tempo venceu e nada foi modificado.Na realidade, a medida adotada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária não constitui nenhuma novidade. Em alguns países a decisão foi tomada há alguns anos. Os Estados Unidos, por exemplo, proibiu o composto em 2009 e o Canadá, em 2010. A China vetou o uso de carbofurano em vegetais, árvores frutíferas, chás e medicamentos fitoterápicos em 2002. Seguindo o mesmo raciocínio, na Europa, relatório de agência regulatória concluiu que o carbofurano representa risco à saúde da população pelo consumo de alimentos e pelo consumo de água. Segundo levantamentos do Instituto Nacional do Câncer, a presença de substâncias tóxicas nos alimentos produzidos no Brasil é alarmante. Pelos cálculos do órgão, cada brasileiro consome, anualmente, o equivalente a cinco litros de veneno. Mas isso também não é novidade, já que desde 2008, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de consumo de agrotóxicos. Enquanto nos últimos dez anos o mercado mundial desse setor cresceu 93%, no Brasil, esse crescimento foi de 190%, de acordo com dados divulgados pela própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Segundo o Dossiê Abrasco, considerado um alerta sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde, 70% dos alimentos in natura consumidos no país estão contaminados por agrotóxicos. Desses, 28% contêm substâncias não autorizadas. Além disso, os alimentos processados são feitos a partir de grãos geneticamente modificados, com altas doses de substâncias químicas. De acordo com especialistas, mais da metade dos agrotóxicos usados no Brasil atualmente, são banidos em países da União Europeia e nos Estados Unidos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, entre os países em desenvolvimento, os agrotóxicos causam, anualmente, 70.000 intoxicações agudas e crônicas. Diante de tantos malefícios, a saída para o Brasil e para o mundo ainda está no consumo de alimentos orgânicos, que não levam nenhum tipo de agrotóxico em seu cultivo, é uma alternativa para se proteger dos agrotóxicos. Porém, ela ainda é pouco acessível à maioria da população. Em média 30% mais caros, esses alimentos não estão disponíveis em todos os lugares.

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