
Eles informaram ao procurador da República que 15 propriedades estão ocupadas hoje nas imediações da Reserva Indígena. Antes do início da audiência, as sitiantes Maria das Graças e Rosângela dos Santos, que moram no sítio Boa Terra, relataram o terror que estão vivendo. "A gente permanece nas casas, porém estamos vivendo sob tensão e terrorismo, já que o indígenas rondam o sítio com facão, foice e com estacas estão demarcando terras, inclusive da família", conta Rosãngela. "A gente não deixa a casa sozinha por medo de saque, como fizeram em propriedades vizinhas", completa Maria das Graças.
A sitiante Vanilda Alves revela que teve que sair às pressas com a família no dia 7 de março, quando o sítio foi invadido. "A minha propriedade foi transformada em uma espécie de base dos invasores", lamenta. "É lá que os índios invasores fazem reunião e traçam estratégias, em meio a minha casa, que foi depredada e saqueada", completa Vanilda.
O sitiante Antônio Carlos revelou que teve um bezerro furtado na noite desta quinta-feira. "A gente continua na casa, mas também é vigiado pelos invasores, que rodeiam o sítio e montaram barracos bem próximo a propriedade", explica. "Minha família está assustada, com medo de permanecer no local, mas não temos para onde ir e seguiremos lutando pela nossa propriedade", ressalta Antônio.
Ao deixar a reunião com o procurador da República, o produtor rural Gino Ferreira disse que a audiência foi importante para que o representante do Ministério Público Federal tivesse a real noção do que está ocorrendo hoje no entorno da Reserva Indígena de Dourados. "O procurador afirmou que iria neste sábado ao local para conversar com os invasores e pacificar essa questão", relatou Gino Ferreira. "Ele disse ainda que iria pedir ao Poder Judiciário a determinação de uma operação conjunta entre Polícia Militar e Polícia Federal para garantir a segurança ostensiva dos índios e dos moradores, já que existe, inclusive, risco de confronto entre os próprios índios.
Anteontem, o capitão da Aldeia Bororó, Gaudêncio Benitez, o vice-capitão da Aldeia Jaguapirú, Silvio de Leão, e o presidente do Conselho Indígena da Aldeia Bororó, Silvano da Silva Duarte, procuraram o Ministério Público Federal para denunciar que o grupo de índios que invadiu diversas propriedades particulares nas imediações da Reserva Indígena de Dourados, agora ameaçam invadir a própria Aldeia Bororó. "A gente não concorda com as ocupações que esse grupo está fazendo, mesmo porque os líderes não são da reserva, são professores, funcionários públicos e até de outras etnias", enfatiza Gaudêncio Benitez. "A gente estava só observando esse momento até anteontem, quando esse grupo tentou invadir as terras da Aldeia Bororó, ameaçando expulsar as famílias e agredindo verbalmente as mulheres", completa o capitão.
Segundo as lideranças, a situação está muito crítica e o confronto entre os próprios índios é iminente. "Um grupo de mais de 100 índios que moram na Aldeia Bororó está se amando com facão e foice para se defender desse grupo que agora ameaça invadir as terras dos próprios índios", denuncia Silvano da Silva Duarte.