O pacote amparado por mais de dois milhões de assinaturas prevê a classificação de corrupção em crime hediondo e como crime o enriquecimento ilícito, além da tipificação de caixa dois como crime e até o fechamento de partidos envolvidos em corrupção de forma sistemática. O fato é que independente do projeto de iniciativa da Câmara de Combate à Corrupção e o Ministério Público Federal, a corrupção tem colocado mais gente atrás das grades em todo o Brasil e basta ver o que acontece hoje em Mato Grosso do Sul onde ex-deputado federal e empresários estão presos em virtude da Operação Lama Asfáltica e, recentemente, vereadores, secretários municipais e prefeitos foram parar na cadeia por crimes de corrupção. Levantamento realizado pelo Ministério da Justiça revela que em quatro anos a corrupção passiva cresceu 438,7% entre os crimes que culminaram com condenação e prisão em todo o país, tanto que o censo nacional da população carcerária de 2010 indicava 93 presos por crimes dessa natureza, enquanto em 2014 esse volume chegou a 501 registros e neste ano estima-se que já existam quase 1000 pessoas cumprindo pena por condenações em virtude de corrupção.
O levantamento mostra que a corrupção ativa também aumentou no período, passando de 575 prisões em 2010 para 942 ocorrências em 2014, alta de 63,8, mas, ainda assim, esses dois crimes respondem por apenas 0,2% do total contabilizado nas cadeias brasileiras. Contudo, a baixa proporção dos crimes de corrupção dentro do universo da população carcerária, onde delitos como roubo e furto predominam, não é exclusividade do Brasil. Estudo realizado pela Câmara de Combate à Corrupção do Ministério Público Federal revela que a presença de condenados por esse crime é baixa em qualquer parte do mundo devido à dificuldade de obtenção de provas para colocar os corruptos atrás da cadeia. Essa dificuldade ocorre tanto nos casos de corrupção ativa, que se materializa quando o particular oferece proveito indevido ao funcionário público, quanto nos episódios de corrupção passiva, que ocorre quando o agente do Estado solicita, recebe ou aceita promessa de vantagem ilegal. A sensação é que parte considerável dos agentes públicos já ingressa na política predisposta a levar algum tipo de vantagem indevida, o que acaba favorecendo a prática da corrupção.
Talvez por isso o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava-Jato, tenha afirmado que a corrupção no Brasil é suprapartidária. Talvez por isso, as propostas do pacote de combate à corrupção vão desde a veiculação de campanhas custeadas com parte do orçamento dos governos para publicidade a mudanças na lei para limitar o uso de recursos protelatórios no Poder Judiciário. Existe ainda a proposta de aumentar a pena mínima, que hoje é de dois anos, para quatro anos de prisão, punição que pode chegar a 25 anos dependendo dos crimes em conexão, como a lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha, por exemplo. Além da corrupção envolvendo agentes públicos, a incidência de outros crimes contra a administração pública também aumentou nos últimos anos entre a população carcerária, com o contrabando e descaminho saltando de 267 presos em 2010 para 714 em 2014 e o número de penas por concussão e excesso de exação, passando de 42 em 2010 para 51 em 2014.