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Editorial

Percepção da corrupçãoPercepção da corrupção

30 Nov 2015 - 08h23Por Marli Moreira
Percepção da corrupçãoPercepção da corrupção -



O jornal Folha de São Paulo publicou ontem pesquisado instituto Datafolha mostrando que, pela primeira vez, a corrupção é apontada pelos eleitores brasileiros como o principal problema do país, quebrando um paradigma já que o tema nunca havia aparecido na liderança das preocupações dos brasileiros desde que o levantamento começou a ser feito, em 1996. Na pesquisa, que ouviu 3.541 pessoas entre os dias 25 e 26 de novembro, ou seja, após a prisão do senador Delcídio do Amaral (PT), líder do governo federal no Senado da República, a corrupção foi lembrada por 34% dos entrevistados, enquanto a saúde, que sempre apareceu como principal preocupação das pessoas, foi citada por apenas 16%, seguida pelo desemprego, apontado como a maior preocupação por 10% dos entrevistados pelo Datafolha e pela educação e pela violência, ambos com 8%. Os números não poderiam ser diferentes, já que a corrupção custa R$ 85 bilhões por ano aos contribuintes brasileiros, dinheiro suficiente para tirar 16 milhões de pessoas da miséria; para construir 1,5 milhão de casas populares e acabar com o déficit habitacional.

O dinheiro que se perde pelo ralo da corrupção daria ainda para pagar 34 milhões de diárias de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) nos melhores hospitais do país; para garantir o pagamento de 17 milhões de sessões de quimioterapia; para construir 241 quilômetros de linhas de metrô e para construir 36 mil quilômetros de rodovias. A corrupção é hoje o maior câncer da máquina pública brasileira e precisa ser extirpada para que o país possa crescer de forma sustentável, tanto que na pirâmide da roubalheira 19% dos casos de corrupção com o dinheiro público estão concentrados nas prefeituras e Câmaras Municipais, enquanto os governos estaduais e Assembleias Legislativas respondem por 30% dos registros de corrupção e a maior parte desse câncer está enraizado no governo federal, nos ministérios, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, que respondem por 51% da roubalheira com o dinheiro público. Apenas para que os leitores tenham ideia sobre as organizações criminosas que se instalaram no poder com o simples objetivo de meter a mão no dinheiro público, dos mais de R$ 85 bilhões que são desviados todos os anos, os governos municipais, estaduais e federal conseguem identificar pouco mais de R$ 7 bilhões.

O mais preocupante é que o volume de dinheiro recuperado não chega a R$ 500 milhões, ou seja, os corruptos levam toda vantagem do mundo e a impunidade serve como incentivo para que essas quadrilhas continuem roubando os cofres públicos. Apenas na esfera federal, o volume de dinheiro que se perde por meio da corrupção é gigantesco. O Ministério da Saúde, que vive numa crise crônica de falta de recursos, sofre todos os anos com desvios de R$ 2,2 bilhões, seguido pelo Ministério da Integração Nacional com desvios de R$ 1,1 bilhão e pelo Ministério da Educação, onde o Tribunal de Contas da União apura superfaturamento e desvios que chegam a R$ 700 milhões. No Ministério da Fazenda o volume que escoa pelo ralo da corrupção chega a R$ 617 milhões, enquanto no Ministério de Emprego e Renda esse total é de R$ 475 milhões, com o Ministério do Planejamento é apontado com irregularidades no volume de R$ 440 milhões; o Ministério do Meio Ambiente com R$ 260 milhões; o Ministério da Cultura com R$ 184 milhões; o Ministério da Ciência e Tecnologia com R$ 130 milhões e o Ministério da Previdência com irregularidades na ordem de R$ 120 milhões.

A questão é: o que falta para que os organismos de fiscalização como o TCU, a Controladoria Geral da União e o próprio governo federal adotem mecanismos de acabar com essa roubalheira? O fato é que em apenas um ano, a corrupção consume um montante suficiente para modernizar todas as rodovias brasileiras e ainda tirar do papel todos os projetos de expansão ferroviárias, inclusive o ramal da Ferroeste que partiria de Maracaju, em Mato Grosso do Sul, e chegaria ao porto de Paranaguá, no Paraná. Hoje, a corrupção consome algo entre 1,38% a 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB), prejudicando o aumento da renda per capita, o crescimento e a competitividade do país, além de comprometer a possibilidade de oferecer à população melhores condições econômicas e de bem-estar social. Parece exagero, mas o dinheiro que se perde com a corrupção nas três esferas do poder seria suficiente para garantir escola em período integral para 51 milhões de alunos do Ensino Fundamental e Médio.

O número

34% dos entrevistados pelo Instituto Datafolha apontam a corrupção como o maior problema enfrentado pelo país na atualidade, enquanto a saúde pública vem em segundo lugar para 16% dos entrevistados.

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