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País não está preparado para dengue

06 Abr 2011 - 20h38
País não está preparado para dengue -
DOURADOS – O sistema público de saúde do Brasil, incluindo Mato Grosso do Sul, não está preparado para enfrentar epidemias de dengue, segundo a avaliação do médico infectologista Rivaldo Venâncio da Cunha, professor do curso de medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Segundo o especialista, a lentidão do sistema público favorece as mortes por dengue, apesar de a doença exigir um tratamento simples. “Tratamento com soro é a coisa mais primária do mundo, não exige alta tecnologia”, diz o infectologista. “O paciente vai na unidade de saúde e enfrenta uma fila gigante pelo atendimento.

Esta falta de acesso favorece as mortes”, acrescenta. Em MS, este ano já foram 7.143 casos notificados, com três mortes suspeitas – uma delas já descartada.

Segundo o médico Rivaldo Venâncio, os números de contaminação pela dengue em 2010 estão longe de serem classificados como uma epidemia, já que estamos a apenas um mês do inverno – período de frio e com menos ocorrência de chuvas. “No frio, a reprodução dos ovos e do mosquito adulto ocorrem com menor velocidade”, afirma.

Em 2010, mais de 7 mil pessoas já procuraram o sistema de saúde para notificar a doença, segundo a Secretaria Estadual de Saúde. Destas, 12 tiveram algum tipo de complicação – entre elas, febre hemorrágica da dengue e dengue com complicação.

Três óbitos já foram registrados, sendo que um deles, do município de Bandeirante, já foi descartado. Outros dois, ocorridos em Campo Grande, ainda estão sendo investigados.

Os números registrados neste verão ainda estão longe do acumulado em 2010, quando houve a maior epidemia de dengue da história de Mato Grosso do Sul – foram mais de 81 mil casos, com pelo menos 40 mortes confirmadas pela doença.

No entanto, apesar dos índices mais baixos neste ano, oito municípios de MS já estão em situação de alto risco, segundo o coordenador estadual de controle de vetores, Aldecir Dutra. São eles: Coxim, Cassilândia, Paranaíba, Ribas do Rio Pardo, Batayporã, Rio Verde, São Gabriel do Oeste e Bandeirantes, onde o índice de notificações é bastante alto, em comparação com o número de habitantes.

Segundo Aldecir Dutra, nestes locais já houve reforço nas ações de combate ao mosquito Aedes aegypti. “Estes municípios concentram 80% a 90% dos casos da doença no Estado”, afirma. Segundo Dutra, o excesso de chuvas nos últimos meses tem dificultado as ações programadas, facilitando assim a proliferação do mosquito transmissor. “A dengue é uma doença vetorial de difícil controle.

Além disso, estamos em uma região de fronteira com cinco Estados e dois países e passamos por um período atípico muito longo de chuvas. Todos estes fatores favorecem a reprodução do mosquito”, diz ele.
#####Controle
Na avaliação do infectologista Rivaldo Venâncio, as medidas adotadas no Estado não têm sido suficientes para o controle do mosquito transmissor.

Segundo ele, este controle não depende apenas da saúde e engloba uma série de ações, envolvendo o meio ambiente, serviço de abastecimento de água, coleta de resíduos sólidos e, ainda, auxílio da população. “Sem este controle não é possível um casamento entre o setor público e a sociedade organizada”, diz ele.

O especialista explica também que a circulação do vírus tipo 4 em MS é inevitável. Segundo ele, resta saber apenas quando o novo tipo da doença irá penetrar no Estado – já há casos confirmados no Pernambuco, Roraima, Pará, Piauí, Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia.

Segundo ele, a dengue tipo 4 é menos agressiva que os outros tipos, mas poderá causar uma nova epidemia devido à falta de imunidade da população. “Quando há entrada de um novo tipo de vírus, o índice de infestação é maior porque está todo mundo vulnerável”, afirmou.

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