Dom Darci usou uma passagem bíblica para citar o combate ao mal (Gn 3,15). Metáforas à parte, quero acreditar que aqueles que afirmaram que o bispo foi castigado pelo Papa, ao ser transferido na quarta-feira seguinte, como arcebispo de Diamantina, MG, o fizeram por ignorância religiosa e não por má fé. Um bispo auxiliar, pensando socialmente, quando assume como bispo titular é "promovido", sendo nomeado arcebispo, como foi o caso, a "promoção" é ainda maior. Desta forma, não houve castigo, também não houve promoção, porque na lógica eclesial cargos não são ascensões!
Um bispo quando tem seu nome anunciado publicamente para novos serviços, pessoalmente, já tem conhecimento do fato há tempos, portanto, ele já sabia da nomeação por parte do Papa Francisco, no mínimo há 15 dias. Além disso, não seria o Papa um irmão se o castigasse, mas ditador se usasse essas prerrogativas, como se os bispos não tivesse autoridade própria. Com amizade, sugiro aos desinformados estudar um pouco teologia, especialmente a disciplina Eclesiologia.
Uma semana após a polêmica com o "epíscopo", as ruas do país foram tomadas por protestos contra a corrupção, e seus agentes. Um nome sobressai na multidão de cartazes, faixas e coisas afins, o juiz Sérgio Moro. À frente da operação Lava Jato, este homem repercute como salvador da pátria, e faz jus ao título. Na história da nação nunca se viu uma ação tão efetiva contra corruptos de grande "calibre". Porém, o próprio Sérgio Moro, em nota, ressaltou que não é o único responsável pelo novo momento social brasileiro, o trabalho é partilhado pela Polícia Federal, o Ministério Público e outras instituições que caminham de mãos dadas para passar o Brasil a limpo.
As ruas revelam insatisfação justificada, mas não são suficientes para mudar a grave crise instalada nas esferas públicas e sociais. Na operação "Mãos Limpas", ocorrida na Itália, políticos poderosos e grandes empresários foram colocados na cadeia, mas não houve o resultado posterior esperado, lá, os políticos, que são os responsáveis pela elaboração das leis, usaram desta prerrogativa, para abrandar e criar novas regras com intuito de livrar os corruptos das punições. Não basta ter leis, elas precisam ser justas! Quem faz as leis pode simplesmente tornar legal o que é injusto, com o intuito da não punição!
Se não houver uma mudança legislativa, novos políticos, com mentalidade nova, a operação Lava Jata terá um efeito imediato, necessário, bem-vindo, mas não transformará as estruturas carcomidas pela imoralidade. Por isso, outras instituições precisam de organização e perseverança para vigiar. Ações como projetos de Lei de iniciativa popular devem receber maior atenção da população, neste caso, um projeto louvável é o de iniciativa do Ministério Público, que propõe 10 medidas, que se aprovadas como leis, podem inibir os políticos a não se reorganizarem em novas aglomerações partidárias, assim como, punirá severamente aqueles que agora brincam com a justiça, como se ela valesse só para os pobres.
A população saindo às ruas, não pode dormir calmamente como se tudo estivesse resolvido, a mudança de um país exige o envolvimento de todos, exige que o povo seja honesto, inclusive na hora de votar, e isto não significa não receber favores somente, para além desse mal entendido, honestidade ao votar requer escolher pessoas que não corroborem com "velhas raposas", que há anos, décadas, estão na política e não realizam aquilo que prometeram.
As ruas são um excelente sinal, mas é só o começo, o caminho é longo!
Pároco da Catedral de Dourados, MS. e-mail: [email protected]