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Editorial

Mudando de Nome

21 Jun 2011 - 05h01
Mudando de Nome -
21.06.2011 - Mudando de Nome

As constantes confusões na hora de identificar o Estado, seja nas novelas da Rede Globo, nos discursos no Congresso Nacional, nos Seminários de Turismo e, sobretudo, durante a passagem de autoridades nacionais por essa Unidade da Federação, que insistem em dizer Mato Grosso ao invés de Mato Grosso do Sul, levaram o governador André Puccinelli a abraçar uma causa que foi defendida durante os dois mandatos do antecessor dele: a mudança do nome de Mato Grosso do Sul. Nas próximas semanas, a Assembleia Legislativa deve receber do governador a missão de organizar audiências públicas para ouvir a sociedade sobre a proposta e, mais importante, coletar sugestões do novo nome para o Estado.

Definida a nova nomenclatura, o ideal seria levar a proposta à avaliação da sociedade por meio de um plebiscito, onde todos poderão dizer sim ou não à mudança que atingirá tantos os que nasceram nessa terra há 33 anos, quanto os que já habita-vam na época da divisão. O sensato, no entanto, é que não ocorra mudança do nome do Estado.

A alegação da maioria para a troca de nome é que o MS está com 33 anos e ainda não tem uma identidade cultural de-finida, como já acontece com o caçula Tocantins, que separou-se de Goiás mas não adotou o nome de Goiás do Norte, como aconteceu na época de divisão de Mato Grosso. Esse raciocínio pode até ter uma ponta de lógica, mas o fato é que o Tocantins, cuja capital é Palmas, não nasceu Goiás do Norte para depois virar Tocantins, ao contrário de Mato Grosso do Sul que já nasceu MS e, portanto, deve ser respeitado como Mato Grosso do Sul.

Na visão simplista é como se a mudança de nome pudesse significar a solução para todos os problemas do Estado, o que, fundamentalmente, não corresponde com a realidade. Mesmo assim, ao deixar de ser Mato Grosso do Sul para se tornar um Estado com outro nome, a Unidade da Federação poderá ganhar com a exploração do turismo ecológico, já que dois terços do Pantanal estão localizados em solo sul-mato-grossense, por exemplo.

Contudo, apesar da beleza natural ser fundamental, turista é atraído por infra-estrutura hoteleira, rodovias em estado de trafegabilidade, segurança, atendimento profissional e, sobretudo, preço justo. Se Mato Grosso do Sul não fatura com turismo tudo que as autoridades esperam que faturasse, então o problema é muito mais de logística que simplesmente de nome do Estado.

Além dessa questão, outros pontos indicam que a mudança do nome do Estado não passa pelo crivo do bom senso, a começar pelo desrespeito com aqueles que, em 1977 aceitaram que parte do então Mato Grosso passasse a formar o Estado de Mato Grosso do Sul. Desde então, quem era mato-grossosense passou a ser considerado sul-mato-grossense e agora, se a mudança do nome do Estado vingar, como serão chamados os nativos desse Estado? Outra falta de respeito será com aqueles que nasceram após a divisão do Estado e que, portanto, sentem orgulho de ser sul-mato-grossense. Como o governo espera tirar a identidade dessa parcela da população, formada por todos que têm menos de 33 anos?

Outro ponto preocupante: a mudança de nome significaria uma despesa de proporções gigantescas para todos os seto-res produtivos desse Estado e, principalmente, para os cofres públicos. Todas as empresas e indústrias teriam que gastar para adequar as embalagens dos seus produtos ao novo nome, além das despesas contábeis e jurídicas; os cidadãos terão que gastar para providenciar novos documentos; os órgãos públicos, sempre tão burocráticos, teriam que gastar milhões para ganhar uma cara nova; enfim, se para as autoridades o Estado ainda não tem uma identidade cultural definida, não será mudando o nome que essa identidade seria construída.

Fica a esperança que os deputados estaduais, reais represen-tantes do povo no Poder Legislativo, possam trocar a simpatia pela razão e sensatez, ouvindo a população sul-mato-grossense sobre essa proposta e, mais importante, deixando claro para todos os pró e contra dessa medida que parece muito mais de cunho pessoal do que, propriamente, de necessidade ou de construção de uma identidade cultural.

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