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Editorial

Instabilidade Nacional

18 Mar 2016 - 10h18Por Marcelo Humberto Do Progresso
Instabilidade Nacional -
Em meio a instabilidade nacional agravada pelos escândalos políticos dos últimos dias, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal manifestou ontem o incômodo com a indicação do Subprocurador-Geral da República, Eugênio de Aragão, para ocupar o cargo de Ministro de Estado da Justiça, uma vez que o Subprocurador possui relação de subordinação com o atual Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, responsável por eventuais acusações dos membros do governo envolvidos na Operação Lava Jato. Os delegados da Polícia Federal alertam que a participação direta da Procuradoria-Geral da República no governo, por meio do Ministério da Justiça, não é recomendável porque pode comprometer a necessária isenção do Procurador-Geral para conduzir os eventuais processos criminais contra integrantes do governo do qual ele participa. Uma defesa da ANDPF é emblemática; a autonomia da Polícia Federal e a independência do Ministério Público são princípios que precisamos defender nesse momento de intensa instabilidade política no país. Resta agora à sociedade brasileira e à própria Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal manterem a vigilância sobre eventuais ingerências do novo ministro da Justiça.


Toda essa instabilidade tem mobilizado setores da sociedade organizada, a começar pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que decide hoje se apoia ou não o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O presidente nacional da OAB, Claudio Lamachia, alerta que a nação está perplexa, uma vez que as conversas gravadas entre o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff e outras autoridades, revelam um quadro gravíssimo que se abate sobre o país. Para a OAB, as referências desairosas, deselegantes e desrespeitosas à Ordem dos Advogados do Brasil, ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso Nacional, com a utilização de termos impronunciáveis, atestam a precária visão que algumas figuras públicas guardam e expressam sobre as instituições nacionais. A Ordem dos Advogados do Brasil reiterou o compromisso com a sociedade brasileira, na defesa da Democracia e do Estado de Direito e repeliu os termos com que importantes instituições foram tratadas, defendeu a apuração rigorosa dos fatos e depositou confiança na missão a cargo do Supremo Tribunal Federal.


Em outra frente, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e as Federações das Indústrias manifestaram extrema preocupação com o agravamento da crise política e econômica que o Brasil atravessa. Em nota, a CNI alerta que os empresários, assim como todos os brasileiros, estão perplexos diante da grave deterioração do cenário político, que submete o país a uma situação sem precedentes em sua história recente. De fato, o caos em que mergulhou a política nacional gera um quadro de profundas incertezas, que piora as perspectivas da economia, já abalada pela mais séria recessão dos últimos 25 anos, justamente num momento em que o Brasil vem sendo duramente prejudicado pela paralisia decisória que o afastou do caminho do crescimento, provocando o aumento do desemprego, a elevação da inflação e o fechamento de empresas. A CNI é taxativa ao destacar que os efeitos da crise ética, política e econômica têm sido catastróficos para empresas e trabalhadores, alertando que ninguém suporta mais assistir ao espetáculo deprimente em que se transformou a política brasileira.


De fato, toda essa situação revela o mais profundo desprezo das autoridades pela opinião pública nacional, uma vez que mesmo diante de graves episódios de corrupção, a presidência da República decide elevar à condição de ministro de Estado uma pessoa que é investigada por crimes contra o erário. Neste cenário, a manifestação da CNI é dura: é imprescindível restabelecer a governabilidade e restaurar a moralidade no trato dos assuntos públicos, adotar melhores práticas administrativas e implantar medidas favoráveis à estabilidade social, ao emprego e ao desenvolvimento. Em meio a toda essa crise, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) manifestou apoio ao juiz federal Sérgio Moro na condução dos processos relacionados à Operação Lava Jato, ressaltando que o magistrado retirou o sigilo do processo de interceptação telefônica deferido judicialmente em face do ex-presidente Lula, que revela diálogos de graves repercussões, inclusive com a presidente Dilma Rousseff.

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