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Editorial

Escassez de Médicos

14 Abr 2011 - 07h00
Escassez de Médicos -

#Escassez de Médicos

O principal problema dos municípios brasileiros hoje não é a falta de recursos para a saúde pública, mas a escassez de médicos especialistas para atender as necessidades da população. Ainda que áreas como geriatria, urologia, nefrologia, ortopedia, cardiologia e pediatria figurem entre as mais carentes, essa falta de médicos deve-se muito mais à baixa remuneração paga pelo Sistema Único de Saúde (SUS) do que, necessariamente, pelo reduzido número de especialistas colocados no mercado todos os anos.

Ora, se para atender um plano de saúde que paga, em média, R$ 35 por consulta, os médicos já pensam duas vezes, imagine então atender pelo SUS sabendo que vai receber um valor bruto de R$ 10 por consulta, que, após os descontos dos impostos, pode cair para médios R$ 6. É justamente esse valor que um médico do SUS recebe atualmente para atender o paciente, de forma que o cidadão nunca receberá a atenção que deveria receber porque o profissional mal remunerado trabalha no limite da ética médica.

A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) chamou a atenção ontem, durante a abertura do Seminário Nacional sobre Escassez, Provimento e Fixação de Profissionais de Saúde em Áreas Remotas e de Maior Vulnerabilidade, para a necessidade de mais profissionais de saúde no Brasil, além, é claro, de criar mecanismos para distribuir melhor os médicos pelo país para, com isso, evitar que eles deixem as pequenas cidades em busca de trabalho nos grandes centros urbanos.

Muito mais importante que atrair os médicos para as cidades do interior é garantir a formação de profissionais para as áreas mais carentes, sobretudo a pediatria, cardiologia, ginecologia, obstetrícia que são fundamentais para o sucesso do Programa de Saúde da Família (PSF). Outra saída seria remunerar melhor todos os profissionais que atendem pelo Sistema Único de Saúde, mas pagar ainda melhor aqueles que trabalham nas cidades menores como forma de fazer com que cada vez mais médicos sintam-se atraídos pelos centros menores, onde poderão construir suas carreiras e viver com mais qualidade.

As prefeituras do interior ficam praticamente impedidas de concorrer com as cidades maiores na hora de contratar um médico de família. Em Dourados, por exemplo, o salário base de um profissional para trabalhar por 40 horas semanais no PSF é de apenas R$ 3.219, contra R$ 5.274 pagos pela Prefeitura de Juiz de Fora, em Minas Gerais, e R$ 12 mil pela Prefeitura do Rio de Janeiro.

Diante desse cenário fica uma pergunta: o profissional que se formar no curso de medicina da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) vai preferir ganhar um salário base de R$ 3.219 na cidade ou optará pelos R$ 12 mil oferecidos pela prefeitura da Cidade Maravilhosa? Ainda que o valor pago em Dourados possa mais que duplicar com a produtividade, é inegável que os grandes centros são muito mais atrativos para os profissionais da medicina, sobretudo para aqueles que estão em início de carreira, fator que não ocorreria se o Ministério da Saúde tivesse o cuidado de subsidiar as prefeituras menores para que elas tivessem condições de oferecer um salário melhor aos médicos.

Nesse cenário, o Ministério da Saúde pretende investir R$ 6 bilhões para fazer com que a remuneração de médicos que atendem pelo Sistema Único de Saúde atinja um patamar satisfatório até o final de 2011. Resta saber o que o pessoal do governo federal entende como patamar satisfatório, já que além de pagar R$ 10 por consulta, o Ministério da Saúde paga apenas R$ 360 por uma cirurgia de colecistectomia feita pelo SUS e o médico ainda tem que acompanhar o paciente desde a enfermaria até a alta hospitalar. Uma colecistectomia pelo SUS não vale mais que R$ 83, enquanto uma cirurgia de hérnia inguinal é remunerada em apenas R$ 78. E o que dizer de um parto cesárea, que na rede particular chega a custar até R$ 3 mil, mas pelo SUS o médico recebe exatos R$ 73? Fica claro, portanto, que tão importante quanto pagar melhor o médico que atende pelo SUS, o Ministério da Saúde deve recuperar os valores pagos por esses procedimentos, pois somente assim irá garantir a verdadeira universalização da saúde no Brasil.

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