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Empresa destrói estrada e deixa índios sem água em Dourados

23 Mai 2016 - 15h20
Índios flagraram momento exato da destruição na estrada - Índios flagraram momento exato da destruição na estrada -
Valéria Araújo



Indígenas da Aldeia Jaguapiru estão denunciando empresa que teria invadido a reserva e destruído uma estrada, a principal via de acesso para um poço com água potável, já que há 45 dias a comunidade sofre com o desabastecimento.

De acordo com o indígena Tiago Fernando, no dia 12 de maio, uma retroescavadeira e um trator pertencentes a uma empresa que fica localizada ao lado da reserva, trafegaram por uma estrada no interior da Reserva e a deixaram intransitável, além de de destruir bens particulares e patrimônios públicos. "Não havia autorização para entrarem na aldeia e muito menos para provocarem os estragos", destaca.

O problema se torna ainda mais grave porque esta estrada era a única de acesso a um poço em que 5 famílias pegavam água para beber. Segundo o indígena, o desabastecimento acontece porque um poço que abastece 70% da comunidade está sem manutenção. "Ficamos totalmente sem água. É muito triste ver minha avó, uma senhora de idade tomando água suja porque agora a única alternativa que sobrou foi um poço desativado, cuja água é imprópria para o consumo", lamenta.

O caso foi denunciado no Ministério Público Federal e na Fundação Nacional do Índio (Funai), mas nenhuma providência foi tomada até o momento. A comunidade cobra que o poder público obrigue a empresa a fazer os devidos reparos na estrada.

#### Desabastecimento

A falta de água na Reserva vem provocando uma série de transtornos. O primeiro deles é que as escolas já estão dispensando os alunos mais cedo. O segundo, são os postos de saúde superlotados com crianças apresentando problemas de saúde devido a falta de água.

De acordo com o indígena Levanir Machado, coordenador de Esportes da Associação Indígena Douradense (Assind), as escolas não tem como fazer a limpeza, nem fornecer água para as crianças beber e lavar as mãos. "Eles estão saindo por volta das 9h pela manhã porque passam cede na escola, já que todas as torneiras estão secas", destaca.

Nos postos de saúde a falta de água também influencia. "As crianças acabam tomando água de poços contaminados. Em nossa Reserva não há rede de esgoto, que muitas vezes fica a céu aberto e próximo dos poços. As unidades de Saúde estão registrando o aumento no número de crianças doentes", destaca. Com as torneiras secas, Levanir precisa andar no mínimo 200 metros para encontrar água num poço artesiano de um vizinho para preparar os alimentos.

"É um grande sofrimento para as famílias. Eu chego para buscar água num vizinho, que já está com a bomba do poço estragando devido a grande quantidade de gente que está pegando água no local. Tenho que ir pelo menos 3 vezes lá e quando chego tem uma fila de mais de 20 pessoas. Vejo que em breve nosso vizinho terá que reduzir a quantidade de água disponibilizada para não danificar os equipamentos. Isto nos preocupa porque a água que pegamos lá mal dá para preparar o almoço e a janta. Estamos passando muita cede aqui, sem contar com nossas condições de higiene que ficam prejudicadas. Meus filhos nem querem ir mais para a escola", destaca, observando ainda que há vizinhos doentes que estão tendo que sair de casa, mesmo com suas limitações para buscar água. "Meu vizinho anda de muletas e o outro trata alzheimer. É muito difícil para eles passar por esta situação",

O problema da falta de água na Reserva dura há anos. O PROGRESSO mostrou no ano passado que em alguns casos a comunidade indígena estava arriscando a vida entrando em fazenda particular para conseguir água. No ano passado O PROGRESSO mostrou que a Reserva conta com seis poços para abastecer uma população que chega a cerca de 17 mil pessoas. Quando uma uma dessas unidades ficam sem funcionamento e outras duas sem muita vazão, a falta de água nas duas aldeias se torna mais grave.

### SESAI

O Diretório Especial de Saúde Indígena, órgão ligado a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), informou ao O PROGRESSO, que ao saber do caso, equipes de engenharia do saneamento foram mobilizadas para resolver a situação. Eles chegaram a fazer uma visita no local. O PROGRESSO tentou contato com a Secretaria, mas sem sucesso.


Indígenas gravaram o momento exato em que maquinários destruíram a estrada:

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