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Editorial

Devolução de Cheques

21 Jul 2011 - 06h50
Devolução de Cheques -


Num momento em que o governo federal comemora o menor índice de desemprego nas principais regiões metropolitanas do Brasil, ao mesmo tempo em que celebra o que classifica como aumento da renda média do trabalhador brasilei-ro, números do Indicador Serasa Experian de Cheques Sem Fundos revelam que a proporção de cheques sem fundo emitidos apenas no primeiro semestre de 2011 é a maior desde 2009, ou seja, exatos 1,93% do total de 508,8 milhões de documentos compensados foram devolvidos porque o emitente não tinha dinheiro em conta para honrar o compromisso.

No primeiro semestre do ano passado a taxa medida pelo Indicador Serasa Experian de Cheques Sem Fundos ficou em 1,87%, menor que os 2,3% apurados no primeiro semestre de 2009. Os economistas, como não poderia ser diferente, já acharam os culpados: orçamento doméstico mais apertado; expansão do endividamento do consumidor; inflação reduzindo os rendimentos familiares; altas taxas de juros; elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e, por último, as restrições ao crédito.

O Indicador Serasa Experian de Cheques Sem Fundos aponta que a maior elevação do percentual de cheques sem fundo no primeiro semestre foi constatada em Roraima, onde 12 em cada 100 cheques compensados foram devolvidos por falta de fundo, enquanto a menor taxa ficou em São Paulo, com 1,4 cheque devolvido por cada grupo de 100 compensações. Fica claro, com isso, que ao tirar dinheiro de circulação e reduzir a oferta de crédito com o objetivo de conter a inflação, o governo federal acabou fomentando o calote.

Por mais que o governo federal e sua equipe econômica tentem vender a imagem de otimismo, garantindo que o pior momento já passou e que o Brasil está pronto para liderar o crescimento na América Latina, os indicadores apontam o contrário. Essa realidade derruba por terra o discurso de recuperação da economia, ou seja, se o número de cheques sem fundos ficou maior não é porque o consumidor gosta de calote e sim porque o dinheiro simplesmente saiu de circulação diante do cenário negativo que o mercado financeiro vislumbrou para o primeiro semestre de 2011.

O primeiro reflexo do aumento na devolução de cheques por falta de fundos é sentido no comércio, já que a maioria desses documentos acaba parando em casas de factoring e quando ocorre a devolução o resgate tem que ser feito pelo comerciante, inclusive com o pagamento de taxas e juros adicionais cobrados pelas empresas que ganham dinheiro trocando cheques pré-datados. O fato é que o consumidor brasileiro, ainda que seja reconhecido o esforço para ficar na adimplência, continua mais inadimplente do que nunca, fazendo com que o mercado varejistas fique cada vez mais cauteloso na hora de receber um cheque pré-datado como forma de pagamento. Tanto, que a maior parte das lojas de departamento está dando preferência para a venda com carnês, onde o calote é infinitamente menor. Na grande parte delas, o cheque simplesmente foi banido, tanto para a venda à vista quanto a prazo, cuidados que se justificam pela análise dos números do Indicador Serasa Experian de Cheques Sem Fundos.

Essa é uma situação que só deve melhorar quando o país começar a gerar mais empregos para quem precisa trabalhar, ou seja, para a massa de operários sem qualificação que ficou desempregada com o fechamento de dezenas de milhares de postos nas usinas de álcool e açúcar, na agricultura e na pecuária. A inadimplência também depende da queda da taxa real de juros para, pelo menos, um dígito e quando a recuperação da atividade econômica der o primeiro passo. Essa rea-lidade, porém, parece ficar cada vez mais distante a partir do momento que o Banco Central decide manter a taxa Selic de juros em 12,5%, fator que prejudica a economia real, pois desestimula o consumo, a produção pelas empresas e, por consequência, a geração de empregos. Nesse cenário, o Mato Grosso do Sul aparece com o quinto menor percentual no vo-lume de cheques sem fundos do país, com devolução das lâminas emitidas ficando em 1,80%, ou seja, a cada mil paga-mentos feitos com cheques pelos sul-mato-grossenses, 18 foram devolvidos

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