No mundo atual resulta inquestionável que a melhor forma de convivência pacífica entre os povos e nações ainda é o regime democrático. Ele foi um legado precioso dos gregos que resultou aperfeiçoado ao longo dos séculos por governos e povos sempre desejosos de procurar o desenvolvimento, a prosperidade com respaldo sempre nos princípios da justiça social.
Nenhuma dúvida salta aos olhos do mais incauto essa verdade que nos remete a uma reflexão ainda maior. A alternância do poder constituído é o seu tentáculo maior. Mas essa maravilha criada pelo homem tem suas limitações e resultam sensíveis quando os governantes desrespeitam as suas comezinhas normas de boa convivência que precisam estabelecer com os seus governados.
A corrupção, a inflação desenfreada, o desemprego, a alta carga tributária que impede o rápido processo de desenvolvimento com o oferecimento de bens e riquezas são alguns dos sintomas que fazem acionar o sinal de alerta que algo não vai bem e pode piorar. Nesses momentos de aflição e de angústia da nação é que surgem as oportunidades sempre preocupantes para aflorar no seio da sociedade a figura do ditador, do tirano, do salvador da pátria, deem o nome que quiserem dar para tirar o país do marasmo e do inferno para o qual foi remetido, sem a autorização do povo.
Assim foi, na Alemanha de Hitler, na Itália de Mussolini, na Espanha de Franco e entre nós o raio de ação e de alcance dessa situação inóspita não resultou diferente. Antes mesmo da nossa Independência, D. João VI advertiu seu filho, Pedro, mandando que colocasse logo a Coroa na sua cabeça antes mesmo que qualquer aventureiro dela lançasse mãos. Pedro I foi o nosso primeiro ditador. Dissolveu a Assembléia Nacional Constituinte, e logo depois constituiu um grupo de juristas para redigir a nossa primeira e autoritária Carta Constitucional, a de 1824. Vargas foi outro deles. Seu governo surgiu pela fragilidade do Estado. A roubalheira era a palavra de ordem. Os interesses regionais nunca alcançavam o homem simples do povo. A angustia, tomou conta então da nação, e o grito de revolta explodiu como a única alternativa de buscar na oração inflamada do ditador o destino radiante que todos aguardavam.
Nenhum povo gosta da fome e da miséria circundando os lares e também não gosta da falta de saúde, para atender os seus familiares; da falta de segurança para o exercício da sua atividade laboral e da Justiça para assegurar os direitos que resultam inalienáveis e consagram a grandeza do ser humano. Quando essas circunstancias malditas rondam o território nacional, e resultam agravadas com a corrupção desenfreada, que cobre de vergonha o, orgulho e a honra nacional que enriquece apenas uns poucos em detrimento do conjunto da população, está formado o quadro auspicioso para o surgimento desta figura indesejável que é o ditador.
Em época recente tivemos o regime militar. Ele resultou desgastante porque subtraiu do povo a sua mais elegante forma de eleger os seus representantes políticos, o voto. Mas suprimiu também outros tantos e sagrados direitos que não podemos olvidar. A democracia é uma joia preciosa e encantadora que precisamos cultivar sempre com boas ações, bons propósitos, especialmente, com sabedoria singular no ato de escolher os nossos representantes políticos. Essas oportunidades são renovadas a cada dois anos. Depende apenas de nós mesmos criarmos as condições para dar vida ao regime democrático afastando de vez a escuridão que na maioria das vezes sentimos no curso de um regime de força. Na democracia sabemos quando um governo começa e termina. Na ditadura, não.