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Editorial

Comércio penalizado

03 Mar 2016 - 08h35
Comércio penalizado -
Amultiplicação no número de lojas fechadas ao longo da Avenida Marcelino Pires, bem como nas demais áreas comerciais de Dourados, retratam uma crise nacional vivida pelo comércio, justamente uma das principais bases do emprego formal no país. Basta percorrer a Marcelino Pires, Hayel Bon Faker, Joaquim Teixeira Alves, Weimar Gonçalves Torres e as vias transversais para constatar que o volume de pontos comerciais fechados nunca foi tão grande na segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul, agravando ainda mais uma crise que já atingiu o setor da construção civil, da indústria da alimentação e sucroenergético. A expectativa de uma safra recorde, frustrada pela temporada exagerada de chuvas, também deve penalizar o comércio nos próximos meses, gerando ainda mais desemprego e, por consequência, inadimplência nos mais diferentes setores da economia não apenas douradense, mas, também, de todo Mato Grosso do Sul. No fundo, este cenário é nacional e até mesmo as grandes redes de magazines começam a sofrer com a queda no consumo e com a inadimplência galopante.


O comércio tem apelado à criatividade, às promoções e ao corte de custos tem para salvar o varejo de uma nova retração nas vendas em 2016, mas o desemprego crescente, elevado endividamento das famílias e crédito caro provocaram o fechamento de quase 100 mil lojas somente no ano passado em todo o Brasil. A pesquisa mais recente da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revela que os comerciantes sofrem cada vez mais com a demanda insuficiente e os elevados custos com mão de obra, fatores que devem elevar o volume de demissões nos próximos meses, tanto que, em fevereiro, o indicador de emprego no comércio caiu 3,3 pontos, para o menor nível da série histórica, iniciada em março de 2010. Os números são preocupantes: a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo estima a demissão de 245 mil trabalhadores formais neste ano, contra mais de 181 mil vagas fechadas pelo comércio em 2015. Esse quadro negativo gera um efeito cascata, ou seja, pessimistas com a economia, com a queda na renda e com o desemprego, os brasileiros seguem contendo os gastos, derrubando ainda mais o consumo.


Este cenário começou a se agravar no ano passado, quando as vendas no varejo restrito encolheram 4,3%, o pior resultado desde 2001, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) iniciou a pesquisa. No segmento ampliado, que inclui veículos e material de construção, o recuo no consumo ficou em 8,6%, ajudando a derrubar em 8% o Produto Interno Bruto (PIB) do comércio no ano passado e configurando o pior resultado desde o início das Contas Nacionais em 1948. Ainda assim, 10,5% da renda gerada no Brasil no ano passado saiu do comércio, contra 11,1% em 2014, números que foram agravados por resultados como os obtidos pelo Grupo Pão de Açúcar, que teve prejuízo de R$ 314 milhões. A Via Varejo, braço do Grupo Pão de Açúcar que reúne as marcas Casas Bahia e Ponto Frio, vai intensificar os cortes de investimentos e deve ser mais seletiva no crédito diante do preocupante aumento da inadimplência observado atualmente. A rede fechou 23 lojas e demitiu mais de 11 mil funcionários no ano passado e o lucro líquido encolheu 99,7% ante o ano anterior, ficando em apenas R$ 3 milhões.


O IBGE revela que o Brasil fechou 2015 com 9,1 milhões de pessoas desempregadas somente nas regiões metropolitanas, volume 41,5% maior que o apurado no ano anterior. O governo, que poderia facilitar o crédito, anda na contramão e mantém as taxas de juros brasileiras entre as mais altas do mundo, superando até mesmo a Argentina, Rússia e países africanos. Parece que empresas e pessoas físicas estão caminhando para a bancarrota, fator que pode ser facilmente comprovado com o aumento de inclusão de nomes no Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) de quase todas, senão todas, as cidades brasileiras. As empresas estão encontrando dificuldades para pagar em dia seus compromissos financeiros e acabam puxando a inadimplência para cima, fator que pode interromper até mesmo os índices positivos de geração de emprego em todos os Estados brasileiros. Enquanto as pessoas jurídicas ainda podem recorrer às linhas de crédito para capital de giro, as pessoas físicas aparecem em situação de desespero em virtude da elevação dos juros, do desemprego e da queda na oferta de crédito.

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