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Editorial

Ameaça meteorológica

10 Nov 2015 - 07h00
Ameaça meteorológica -


A Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência climática da Organização das Nações Unidas (ONU), anunciou ontem que o nível de concentração dos gases de efeito estufa atingiu novo recorde no ano passado e foi responsável por grande parte das mudanças climáticas em todo o planeta. O estudo - que não mede as emissões de gases de efeito estufa, mas a sua concentração na atmosfera – revela que o dióxido de carbono, o principal gás com efeito estufa de longa duração, aumentou para 397,7 partes por milhão no ano passado, níveis preocupantes para o aquecimento global. Essa elevada concentração do dióxido de carbono provocou, além de temperaturas globais mais elevadas, novos fenômenos meteorológicos extremos, como vagas de calor, inundações, derretimento do gelo e aumento do nível do mar e da sua acidez. O relatório da agência da ONU é divulgado a três semanas da Cúpula do Clima de Paris (COP21), que visa adotar medidas para limitar o fenômeno do aquecimento global, mas é pouco provável que os líderes mundiais fiquem sensibilizados com esse problema, mesmo porque a concentração de gases do efeito estufa aumenta ano após ano.

Como se não bastasse a presença maior de dióxido de carbono na atmosfera, o metano, o segundo gás com efeito estufa de longa duração, também atingiu novo recorde de concentração no ano passado, ficando em 1.833 partes por milhão. Detalhe: 60% das emissões de metano foram provocadas pela atividade humana, principalmente a pecuária, o cultivo de arroz, a exploração de combustíveis fósseis, elevando em 254% as concentrações desse gás na atmosfera, desde os níveis da era pré-industrial. Outro alerta da Organização Meteorológica Mundial é que o protóxido de azoto, cujo impacto no clima em um período de 100 anos é 298 vezes maior que o do dióxido de carbono e que também contribui para a destruição da camada de ozônio, que protege dos raios ultravioleta do sol, registrou o ano passado uma concentração de 327,1 partes por bilhão, ou 121% dos seus níveis antes da era industrial. É por essas e outras que a Organização das Nações Unidas afirmado que as possibilidades de limitar o aquecimento global a 2º graus Celsius (°C) estão diminuindo rapidamente.

A ONU já não acredita no sucesso de uma eventual cruzada mundial para conter o aquecimento do planeta e já aposta que as emissões mundiais de gases de efeito estufa ficarão entre 8 bilhões e 12 bilhões de toneladas acima das metas definidas para 2020. Detalhe: ainda que os países membros da ONU cumpram os acordos de redução das emissões de gases que provocam o aquecimento do planeta, os cientistas estimam que, se o aquecimento global ficar abaixo dos 2°C, as piores consequências poderão ser evitadas, mas, segundo o relatório, isso implicaria reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 14% até 2020. A estimativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente é que as nações desenvolvidas devem despejar cerca de 59 bilhões de toneladas de gases do efeito estufa até 2020, número que significaria 1 bilhão de toneladas a mais do que previsto. O relatório alerta que o setor agrícola é responsável por 11% das emissões de gases de efeito estufa e cobra medidas capazes de assegurar a redução desse impacto no meio ambiente.

O fato é que pouca coisa deve mudar, já que as 190 nações que reúnem-se na Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 21), que começa em 30 de novembro e vai até 11 de dezembro, em Paris, vão apenas negociar propostas para um acordo global sobre o clima que entrará em vigor somente em 2020. A sensação é que os país desenvolvidos não levam os alertas da ONU a sério, tanto que até hoje não surtiu um único efeito prático o relatório apresentado na Conferência sobre o Clima, realizada em Cancún, no México, no início de 2010, quando foram divulgados estudos apontando que, a partir de 2030, as mudanças climáticas no planeta causariam indiretamente a morte de cerca de um milhão de pessoas por ano. Nem mesmo o alerta que o aquecimento global poderá causar prejuízos anuais de US$ 157 bilhões aos países desenvolvidos serviu para mobilizar os líderes mundiais em torno de metas de redução da produção dos gases tóxicos aos planeta. A ONU prevê que, a partir de 2030, as 190 nações do planeta serão afetadas em suas políticas de saúde pública, por desastres climáticos, pela perda do habitat humano devido à desertificação e à elevação do nível do mar, e, principalmente, em virtude do estresse econômico.

O número

60% das emissões de metano foram provocadas pela atividade humana, principalmente a pecuária, o cultivo de arroz, a exploração de combustíveis fósseis.

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