O que dá respaldo a essa tendência salutar e que vem conquistando milhares de adeptos, não só no campo do consumo, mas também da produção, é um estudo recente e ousado, realizado pela Universidade Estadual de Washington, que mostra que a agricultura orgânica pode ser usada para alimentar de maneira eficiente toda a população mundial. O relatório foi denominado "Agricultura Orgânica para o Século 21" e, com base em centenas de experiências acadêmicas sobre o tema afirma que, com este tipo de produção é possível ter rendimentos suficientes aos produtores, ao mesmo tempo em que melhora as condições ambientais e dos trabalhadores rurais.
Para os especialistas a solução para a agricultura é mesclar métodos orgânicos com tecnologias modernas usadas nos plantios tradicionais. Alguns dos pontos enfatizados defendem a rotação de culturas, gestão natural de pragas, diversificação agrícola e pecuária, melhoras na condição do solo a partir de uso de compostagem, adubação verde e animais. Na realidade, não se trata da invenção da roda, mas de uma tomada de posição diante dos problemas ambientais que afetam o homem e o meio em que ele vive, gerando conseqüências graves que aceleram o surgimento de doenças cancerígenas e outros tipos de males. E assim, através de algumas práticas que visam exclusivamente o lucro, o veneno é servido em doses mortais, que contaminam a população.
No entendimento dos autores dessa proposta que conta com o aval da Organização da Nações Unidas, a agricultura orgânica é capaz de satisfazer todas as necessidades alimentares do mundo, independente das mudanças climáticas. Segundo eles, algumas fazendas orgânicas têm o potencial para produzir altos rendimentos em consequência da capacidade mais elevada de retenção de água nos solos cultivados sem agrotóxicos. A partir do ponto de vista econômico, principalmente quando se fala obtenção de grandes lucros, o estudo é transparente e deixa claro que, apesar de ser rentável, o cultivo orgânico proporciona ganhos menores do que os tradicionais, quando se fala em cifrões. Em compensação o ganho pode ser medido com a régua ambiental e coletiva. Outro aspecto interessante é o fato de que os sistemas agrícolas orgânicos garantem maior benefício social, o que resulta em um planeta mais saudável e sustentável.
Enquanto alguns países apostam no futuro da agricultura orgânica, no Brasil a proposta ainda se arrasta pelos gabinetes políticos, sob os efeitos de leis que ainda não influenciam nem na produção, nem no consumo. Apesar do crescimento superior a 30% verificado em 2016, produção de alimentos orgânicos no Brasil ainda enfrenta diversos entraves políticos, econômicos e estruturais.
A boa notícia é que tramita na Câmara dos Deputados, um Projeto de Lei, que pretende facilitar a produção e circulação dos alimentos orgânicos. A proposta também defende a desoneração tributária sobre alimentos orgânicos e os insumos utilizados na sua produção. Os defensores das mudanças que podem auxiliar no fomento à agricultura orgânica, afirmam que o comércio de produtos sem agrotóxicos pode chegar a 10 bilhões de reais em 2020. Essa projeção indica que existe um nicho de mercado que não atinge apenas produtos primários, como hortaliças e frutas, mas também a produtos industrializados.
Conforme dados do Organics Brasil, programa ligado à Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, a expectativa de crescimento das exportações para os próximos anos tendem a ultrapassar a faixa dos 40%. Esse resultado, ao mesmo tempo em que merece comemoração, porque é superior às médias registradas nos Estados Unidos e na Alemanha, também sugere cautela, já que a ofensiva da indústria dos agrotóxicos é eficiente na estratégia da sedução, na medida em que oferece lucros milionários.