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Editorial

Agricultura Orgânica

18 Jan 2017 - 10h57
Agricultura Orgânica -
O caminho da população mundial em busca de uma vida mais saudável passa necessariamente pela mudança de hábitos alimentares. Em outros tempos, praticamente não haviam alternativas, nem condições favoráveis para que isso acontecesse. Embora ainda exista um grupo mais seleto de consumidores, já é possível ter acesso a produtos completamente livres dos agrotóxicos. Eles são frutos de uma prática positiva, que vem crescendo no planeta, que é a agricultura orgânica.


O que dá respaldo a essa tendência salutar e que vem conquistando milhares de adeptos, não só no campo do consumo, mas também da produção, é um estudo recente e ousado, realizado pela Universidade Estadual de Washington, que mostra que a agricultura orgânica pode ser usada para alimentar de maneira eficiente toda a população mundial. O relatório foi denominado "Agricultura Orgânica para o Século 21" e, com base em centenas de experiências acadêmicas sobre o tema afirma que, com este tipo de produção é possível ter rendimentos suficientes aos produtores, ao mesmo tempo em que melhora as condições ambientais e dos trabalhadores rurais.


Para os especialistas a solução para a agricultura é mesclar métodos orgânicos com tecnologias modernas usadas nos plantios tradicionais. Alguns dos pontos enfatizados defendem a rotação de culturas, gestão natural de pragas, diversificação agrícola e pecuária, melhoras na condição do solo a partir de uso de compostagem, adubação verde e animais. Na realidade, não se trata da invenção da roda, mas de uma tomada de posição diante dos problemas ambientais que afetam o homem e o meio em que ele vive, gerando conseqüências graves que aceleram o surgimento de doenças cancerígenas e outros tipos de males. E assim, através de algumas práticas que visam exclusivamente o lucro, o veneno é servido em doses mortais, que contaminam a população.


No entendimento dos autores dessa proposta que conta com o aval da Organização da Nações Unidas, a agricultura orgânica é capaz de satisfazer todas as necessidades alimentares do mundo, independente das mudanças climáticas. Segundo eles, algumas fazendas orgânicas têm o potencial para produzir altos rendimentos em consequência da capacidade mais elevada de retenção de água nos solos cultivados sem agrotóxicos. A partir do ponto de vista econômico, principalmente quando se fala obtenção de grandes lucros, o estudo é transparente e deixa claro que, apesar de ser rentável, o cultivo orgânico proporciona ganhos menores do que os tradicionais, quando se fala em cifrões. Em compensação o ganho pode ser medido com a régua ambiental e coletiva. Outro aspecto interessante é o fato de que os sistemas agrícolas orgânicos garantem maior benefício social, o que resulta em um planeta mais saudável e sustentável.


Enquanto alguns países apostam no futuro da agricultura orgânica, no Brasil a proposta ainda se arrasta pelos gabinetes políticos, sob os efeitos de leis que ainda não influenciam nem na produção, nem no consumo. Apesar do crescimento superior a 30% verificado em 2016, produção de alimentos orgânicos no Brasil ainda enfrenta diversos entraves políticos, econômicos e estruturais.


A boa notícia é que tramita na Câmara dos Deputados, um Projeto de Lei, que pretende facilitar a produção e circulação dos alimentos orgânicos. A proposta também defende a desoneração tributária sobre alimentos orgânicos e os insumos utilizados na sua produção. Os defensores das mudanças que podem auxiliar no fomento à agricultura orgânica, afirmam que o comércio de produtos sem agrotóxicos pode chegar a 10 bilhões de reais em 2020. Essa projeção indica que existe um nicho de mercado que não atinge apenas produtos primários, como hortaliças e frutas, mas também a produtos industrializados.


Conforme dados do Organics Brasil, programa ligado à Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, a expectativa de crescimento das exportações para os próximos anos tendem a ultrapassar a faixa dos 40%. Esse resultado, ao mesmo tempo em que merece comemoração, porque é superior às médias registradas nos Estados Unidos e na Alemanha, também sugere cautela, já que a ofensiva da indústria dos agrotóxicos é eficiente na estratégia da sedução, na medida em que oferece lucros milionários.

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