Em tempo algum da história humana obtivemos tanta informação ao nosso alcance; jamais estivemos com o Ego tão inflado; nunca estivemos tão perto da extinção de comportamentos sociáveis, como as interações in loco, olho no olho; em época alguma os consultórios psiquiátricos e psicológicos estiveram tão procurados.
Talvez estejamos vivenciando um adoecimento coletivo, que antagonicamente está nos tornando egocêntricos. Não percebemos de forma mais clara os sintomas, justamente por a doença de o individualismo agir de forma silenciosa, diminuindo paulatinamente a nossa capacidade de amar e de conviver com o outro.
Em tempos de proliferação eletrônica da vaidade, está tornando-se regra a mão direita saber o que faz a esquerda e a esquerda o que faz a direita. Atualmente devido a ubiquidade digital, que através das mídias sociais nos possibilita estar em vários lugares ao mesmo tempo, tudo o que fazemos depende de uma dose de satisfação febril advinda de um retorno daquilo que expomos. Estamos uns mais, outros menos, ostentando o que não possuímos, o que não somos, enquanto o Ego espanca os atributos e as virtudes que nos tornam humanos, tudo em busca de um assento no status ou a obtenção de rótulos tipificados pela indústria cultural.
Segundo psicanalistas, o Ego é uma instância psíquica conciliadora situada entre o Id e o Superego, mas, sem controle é um tirano que não admite que outro senhor, além dele, direcione a vida de quem é picado pela mosca da vaidade. Cabe ressaltar, que todos nós trazemos no âmago da alma a necessidade de uma determinada aprovação, seja de parentes, colegas e\ou amigos, entretanto, quando o nível do tolerável é ultrapassado essa busca por aprovação torna-se doença e o próprio Ego faz o vaidoso não se ver como um doente.
Especialistas do comportamento humano acreditam que o gatilho desencadeador da inflação do Ego seja a vaidade. Para os filósofos a vaidade está manifesta em tudo aquilo que é vazio, vão, sem cor, trata-se de um pano de fundo que ilude a primeira vista, obscurecendo o enorme vazio que há por detrás da falsa imagem que o vaidoso cria como linha defensiva ante o outro, para que não perceba as lacunas não preenchidas que trás na alma. As ilusões defensivas criadas pelo vaidoso são tão fortes, que ele acaba sendo engolido por elas, ou seja, acaba acreditando piamente na própria mentira.
Na história humana são inúmeros os vultos que se deixaram tomar pelo descontrole do Ego através da vaidade, entre eles estão: Napoleão, Hitler, Mussolini, Stalin, e etc. Lideres que adoeceram e arrastaram multidões para a morte ao defenderem e\ou contrariarem o que esses homens julgavam ser o correto. Esses ditadores julgavam-se senhores do mundo, mas, na verdade eram escravos do Ego e o Ego sem controle é como um animal faminto que não se sacia facilmente.
Filosofias orientais acreditam na elevação espiritual ao dissolver a noção do Ego através do autoconhecimento, desfazendo-se do status, rótulos, posses e da vaidade. Para essas filosofias como o budismo, o mal estar da civilização tem sua raiz e causa primeira na inflação do Ego, pois nele está toda origem de guerras, infelicidade, miséria e fome.
Se observarmos a grande transformação pela qual passou a humanidade nos últimos 100 anos e a gama de novos costumes, regras e abusos que a tecnologia trouxe a reboque é possível, ao menos suspeitar que a humanidade esteja doente, pois atualmente devido a capacidade de exposição sem fronteiras à disposição de todos, o EU está aos poucos se sublevando contra o NÓS.
A inflação do Ego através da vaidade se fosse uma manifestação física e não psíquica, se manifestaria no umbigo, o centro do corpo, que o vaidoso julga ser o centro do mundo. Estamos correndo um sério perigo ao direcionar aos poucos, nossos olhares para nossos umbigos, nos julgando únicos e autossuficientes recolhendo nossas mãos das mãos do outro, desconectando assim do espírito de coletividade, que ao longo de milênios nos transformou em humanos.
Se continuarmos pautando nossa vida quase que integralmente no mau uso das tecnologias a nossa disposição, cultivando a vaidade e com ela o isolamento silencioso, em poucas décadas sucumbiremos como seres humanos sociáveis, nos tornando uma legião de solitários depressivos, mergulhados em mundo paralelo e irreal.
Jornalista, Especialista em Comunicação e Marketing / Especialista em Jornalismo Político. e-mail: [email protected]