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Bugre ou Índio? Como tratar o nativo brasileiro?

29 ABR 2012 • POR • 06h51
Wilson Matos da Silva *

A definição do Wikipédia a enciclopédia livre para o termo índio, São: povos aborígenes, autóctones, nativos, ou indígenas, aqueles que viviam numa área geográfica antes da sua colonização por outro povo ou que, após a colonização, não se identificam com o povo que os coloniza. A expressão povo indígena, literalmente "originário de determinado país, região ou localidade; nativo", é muito ampla, abrange povos muito diferentes espalhados por todo o mundo. Vê-se assim, que índio é um termo aceitável sem conotação pejorativa, por isso o nativo adotou como nome.



O colonizador português usou o termo bugre, para de forma preconceituosamente tratar o nativo como sendo um ser sem almas e traiçoeiro, um tomado pelo espírito de um capitalismo selvagem, saqueador e aventureiro se arvorou desatinadamente nas nossas riquezas naturais, desta forma, confrontando-se com as idéias e vivências milenares das nossos povos indígenas em relação ao trabalho e a toda sorte de riquezas da relação escravocrata que se estabeleceu entre o “colonizador” e os nossos povos. Tudo isso significou um abismo cultural entre os nossos povos e os nossos algozes “visitantes”. Essa percepção errônea se traduz em reações sistemáticas de discriminação em todos os aspectos, condenando-nos assim, ao ostracismo e ao degredo coletivo, mal costume que se arrasta até os dias atuais.



Já mencionei aqui, em outro momento o significado do termo “BUGRE”: A origem da palavra vem do francês bougre; De acordo com o dicionário Houaiss possui o primeiro registro no ano de 1172 e significa 'herético', que por sua vez vem do latim medieval (século VI) bulgàrus. Como membros da igreja greco-ortodoxa, os búlgaros foram considerados heréticos, e o emprego do vocábulo para denotar a pessoa indígena liga-se à idéia de 'inculto, selvático, não cristão' - uma conotação de forte valor pejorativo.


O termo bugre originou-se num movimento herético, na Europa, durante a Idade Média, representando uma força contrária aos preceitos ditados pela ortodoxia da Igreja. Surgiu no século IX, na Bulgária, tendo sido batizado como bogolismo inspirado no nome do padre Bogomil, considerado fundador da seita herética. O ‘bugre’ vai reaparecendo na lembrança do europeu, com uma identidade já construída, acompanhando a idéia da infidelidade moral, porém com novos elementos, próprios da nova situação. Os bugres surgiram de uma sociedade muito fechada e de fundamentação radicalmente religiosa. Não parece verossímil uma história tão complexa e antiga para um personagem alcunhado e tratado, hoje, em diversas cidades do Brasil, como "João-Ninguém".


Fica claro que o termo é pejorativo, para identificar aqueles que apresentam alguns traços físicos específicos - "cabelo de flecha, liso, escorrido"; "olho rasgado, nariz meio achatado"; "escuro sem ser negro" - que estão associados a aspectos culturais, sociais, psíquicos e econômicos também específicos: "o bugre é rústico, atrasado"; "o bugre verdadeiro é do mato, aquele que está escondido, mais agressivo e arredio"; "o bugre que está na cidade é mais dócil, pode ser trabalhador, mas é traiçoeiro". Infelizmente o que a garota escreveu facebook ao se referir aos índios kaiowá, integrante Bros MC’s, retrata apenas o pensamento de uma grande maioria da sociedade hipócrita e preconceituosa, que se julgam raça superior.


No MS, a demarcação das terras indígenas é o estopim para tanta discriminação. Esta insegurança, este medo, esta angústia manifestam-se, dentre outras formas, na retomada do preconceito contra o índio, que figura como bugre/bode-expiatório para tudo o que é negativo, indesejável e condenável. Nessas significações de infiel e traiçoeiro somadas às modernas práticas econômicas e políticas da modernidade, encontram-se os pares preguiçoso-vagabundo e estrangeiro-inteiramente outro. Daí deriva uma matriz biológica – deficiente/incapaz e violento/desordeiro - também presentes no imaginário sobre o bugre na sociedade brasileira.


O simples fato de os índios reclamarem os seus direitos à terra, há muito negado pelo estado brasileiro, é o bastante para nos condenarem. Deveriam pensar, afinal, o que meio dúzia de latifundiários ficarem sem algumas fazendas diante do imensurável e gigantesco esbulho à custa de sangue indígena inocente. Conte á um amigo o significado da palavra carinhosa “buguinho” ou “está sujo parecendo um bugre”. Dignidade e respeito ao índio nativo, gênese da HISTÓRIA brasileiro brasileira.

É índio, Advogado e Jornalista, Coordenador Regional do ODIN, Presidente da OAB 4ª Subseção Dourados wilsonmatosdasilva@hotmail.com