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Amy faz show bipolar em SP e acaba ofuscada por Janelle Monae

17 JAN 2011 • POR • 17h12
Amy Winehouse durante show em São Paulo - Foto: Mateus Mondini/G1
De um lado a festa e a vitalidade de dois artistas que não mediram esforços para conquistar o público: cantaram, dançaram, recordaram histórias engraçadas e até pintaram quadro no palco. De outro, uma cantora apática, cambaleante, esquecida de que era ela a grande estrela.

Foi o que aconteceu na noite de sábado (15), no Anhembi, em São Paulo, durante a última apresentação de Amy Winehouse no país depois de passar por Florianópolis, Rio de Janeiro e Recife. Com bons shows de abertura, Janelle Monae e Mayer Hawthorne, novos nomes do soul, desbancaram a cantora britânica, que um dia foi coroada diva do gênero.


Pouco à vontade no palco, Amy se comportou de forma bipolar. Alternava momentos de puro desânimo, no qual não conseguia nem terminar os versos das canções, com rápidos ataques de euforia. Era quando arriscava uma dancinha, rodopiava de braços abertos ou corria ao encontro do backing vocal Zalon Thompson - ele que cantou duas músicas durante a apresentação. E sem esquecer a letra.

Se foi possível reconhecer e fazer coro para os hits do álbum “Back to black” (2006), os fãs devem agradecer à vigorosa banda que acompanhou a cantora. Os nove músicos no palco reproduziram com fidelidade os geniais arranjos de estúdio de “Just friends”, “Love is a losing game”, “Tears dry on their own” e “Me & Mr. Jones”.

A depender da voz de Amy, travada, irregular e por vezes tão baixinha que chegava a ser engolida pela dos cantores de apoio, até o “no, no, no”, de “Rehab” passaria sem chamar atenção.

Entre goles e gargarejos de um líquido em um copo colorido a que Amy recorria com insistência, ela até esboçava sinais de uma reação. Aconteceu, por exemplo, quando entoou “Boulevard of broken dreams”, cover de Tony Bennett. Ali se ouviu um pouco de seu grave poderoso à Etta James e um certo domínio de palco. Mas tudo muito fugaz, talvez por respeito à canção de um de seus ídolos.

Ao todo, foi 1h12 de apresentação. Tire aí uns 10 minutos em que que a cantora gasta apresentando sua banda, mais 10 para as duas faixas de Zalon, outros 5 em que ela simplesmente deixa o palco e vai para o bastidores sem explicação. Não, não, não: com os descontos, o show de Amy não teria nem uma hora - contando o bis.

Livre dos elementos de mise en scène – que inclui trechos do clássico “Metropolis”, de Fritz Lang, passando em telões – Janelle segue brilhante quando é econômica. Caso de seu cover para “Smile” - a balada de Charlie Chaplin que era a favorita de Michael Jackson - acompanhada apenas por um guitarrista.

A homenagem ao rei do pop também aparece nos diversos “moonwalks” que a cantora desliza pelo palco e em sua entrada triunfal ao som de “I want you back”, dos Jackson 5. Para Janelle, nada de menos é mais. Mais é mais mesmo.

Ao lado da cantora, o americano Mayer Hawthorne também foi atração de abertura para Amy Winehouse. Apresentou baladinhas felizes como “Maybe so, maybe no” e “Your easy lovin\' ain\'t pleasin\' nothin\'”, ambas de seu único álbum, “A strange arrangement”, e fez um cover para “Beautiful”, de Pharrel Williams.

Com seu terninho azul-claro, gravatinha borboleta e óculos de aros grossos, ganhou o público na base da simpatia e com uma banda competente. Destaque para o guitarrista ao lado, que chacoalhava a cabeleira sem parar. Um “Slash particular”para Hawthorne.

O cantor arrancou risos dos fãs que estavam ali para ver Amy Winehouse ao contar que foi confundido no aeroporto de Florianópolis com o “Homem-Aranha” Tobey Maguire e que escreveu muitas músicas que falam de amor, mas algumas são safadinhas e falam apenas de sexo. No começo do show, também pediu que o público “celebrasse a vida”. Mais anti-Amy, impossível.