Brasil

Governo Lula adota pronome neutro 'todes' em eventos; ministra tem projeto contra linguagem neutra

Em ao menos seis eventos de ministros, os cerimonialistas usaram "todes". Por exemplo, a que comandou a solenidade de transmissão de cargo do ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida

7 JAN 2023 • POR Redação • 14h00
Empossamento de ministros no dia 1º de janeiro - Ricardo Stuckert/Divulgação

A primeira-dama Rosângela da Silva, conhecida como Janja, o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e cerimonialistas usaram a palavra “todes” em cerimônias ao longo desta primeira semana do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Apesar do uso de “todes”, a atual ministra do Turismo, quando deputada federal, Daniela Carneiro (União Brasil), foi coautora de um projeto de lei que busca vedar a utilização de linguagem neutra por escolas públicas e privadas.

“Todes” não faz parte das normas oficiais da língua portuguesa. No entanto, vem sendo utilizada como um pronome neutro para se dirigir a pessoas não binárias — que não se identificam exclusivamente com o gênero masculino ou com o gênero feminino.

O termo é incentivado pelo público LGBTQIA+ como forma de inclusão. O pronome “todes” já foi utilizado em post no Twitter pelo Museu da Língua Portuguesa, em 2021. Naquele mesmo ano, o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou a proibir o uso da linguagem neutra em projetos financiados pela Lei Rouanet.

Nos últimos dias, Janja, Alexandre Padilha e cerimonialistas, entre outros, optaram por incluir a linguagem neutra ao cumprimentar o público presente. “Boa noite, gente. Boa noite a todos, todas e todes”, declarou Janja, ao se dirigir às pessoas na cerimônia de transmissão de cargo da ministra da Cultura, Margareth Menezes.

No mesmo evento, a antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz e o secretário-executivo do Ministério da Cultura, Márcio Tavares, também usaram a palavra.

Padilha começou o discurso na cerimônia de transmissão de cargo como ministro falando “Boa tarde a todas, a todos e a todes”.

Em ao menos seis eventos de ministros, os cerimonialistas usaram “todes”. Por exemplo, a que comandou a solenidade de transmissão de cargo do ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida.

O projeto de lei contra a linguagem neutra apoiado por Daniela Carneiro foi originalmente apresentado pela deputada federal Geovânia de Sá (PSDB-SC) em agosto de 2021 e, então, recebeu o apoio oficial da atual ministra, então deputada, como coautora.

O texto propõe que “fica vedada às escolas públicas e privadas a utilização de linguagem neutra em todos os seus materiais didáticos e documentos oficiais”.

“Faz parte da riqueza e exatidão de nossa língua que a flexão de gênero se estruture dessa forma, expressando perfeitamente os dois gêneros biológicos. Nos plurais, a forma masculina cumpre o papel de englobar feminino e masculino – algo que não é exclusividade do português e que todo brasileiro é capaz de entender desde muito cedo”, diz trecho da justificativa do projeto.

“Entretanto, recentemente, alguns grupos da sociedade passaram a tentar instituir a chamada ‘linguagem neutra’, inventando palavras que seriam classificadas como de gênero neutro. Trata-se de uma deturpação da Língua Portuguesa que, para nossa surpresa, tem sido utilizada por algumas poucas escolas em seus documentos e até mesmo na comunicação com os alunos”, afirma outra parte.

“Ora, uma língua é adquirida, é aprendida, não é inventada; e não é aceitável que essa ilegítima invenção seja reproduzida justamente no local onde os estudantes deveriam aprender a utilizar a Língua Portuguesa de acordo com as regras gramaticais. Para proteger os estudantes brasileiros e evitar tal afronta ao papel do ensino escolar, apresentamos o presente Projeto de Lei, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para vedar a utilização de linguagem neutra em escolas públicas e privadas de todas as etapas de ensino”, conclui.

CNN