Cultura

Ator sul-mato-grossense estrela curta-metragem na Mostra de Tiradentes

Diretor celebra seleção do seu 1º curta-metragem para um dos maiores festivais de cinema do país; veja imagens inéditas

19 JAN 2022 • POR • 10h37
Joana (Oz Ferreira) e Miguel (Tero Queiroz) em cena do filme "Dois Bois" - Maria Reis

O curta-metragem de ficção “Dois Bois”, dirigido pelo mato-grossense Perseu Azul, estreia às 18h de 23 de janeiro na 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes. O público poderá assistir de casa, pois a mostra estará em uma versão on-line neste 2022. 

O ator sul-mato-grossense Tero Queiroz está no elenco dando vida à “Miguel”, personagem que é irmão da protagonista “Joana” (Oz Ferreira). Na história, os dois são filhos de “João” (Antônio Alípio).

"João", no centro; à direita, "Miguel" e à esquerda, "Joana" (Foto: Maria Reis)

 

Estão no elenco ainda: Sandro Lucose – dando vida à “Freitas”; Rafael Alves, vive o personagem “Dionísio”; José Diniz dá vida ao peão “Salustiano” e a personagem “Dona Branca” (Ádila Safi). Apenas Tero é de MS, o restante do elenco é mato-grossense.

Ao chamar os sul-mato-grossenses para assistar o filme, Tero agradeceu o convite de Azul e celebrou o cinema brasileiro. “Um presente enorme. Eu li o roteiro e fiquei animado demais para contar essa história. O Miguel surgiu de maneira forte, que me causa um nó na garganta. A leveza do personagem para suportar a tragédia me fascina. Só tenho a agradecer ao Perseu e a toda a equipe profissional e gentil que me acolheu nesse projeto. É uma honra poder trazer mais uma história ao mundo. Assistam “Dois Bois”, prestigiem o cinema nacional, ele é forte, lindo, estiloso, único!”, manifestou.

Tero Queiroz dá vida à Tero Queiroz dá vida à "Miguel" no filme "Dois Bois". Foto: Maria Reis 

 

A Mostra de Tiradentes acontece na cidade de Tiradentes (MG), com início programado para a sexta-feira (21.jan.22) e segue até sábado (29.jan.22). Para assistir “Dois Bois”, basta que o interessado acesse plataforma www.mostratiradentes.com.br. A programação é gratuita. “Dois Bois” tem classificação indicativa de 14 anos.  

A HISTÓRIA

O diretor Perseu Azul em entrevista ao MS Notícias disse que o filme “Dois Bois” aborda o tema da vingança, sobreposto por uma disputa parental, sublinhada de ciúme, inveja e sina. “Após passar toda a infância e juventude apartada de sua família, Joana retorna ao pantanal para cumprir o último desejo de sua recém falecida mãe”, é a sinopse do curta.

“O filme poderia acontecer em qualquer época após a invenção da pólvora, pois seu conflito central é atemporal, mas um dos veículos de cena denuncia que a história acontece ao redor dos anos 2000”, adiantou o diretor.

Conforme Azul, a história do filme é inspirada em um livro. “É uma história inteiramente ficcional, livremente inspirada pelo conto homônimo do co-roteirista Pedro Leite”, esclareceu.

Para evitar e spoiler, Azul sintetiza dizendo que a história busca desvendar o mistério que circunda o retorno da protagonista para a casa da família no fundão do Pantanal.

O ELENCO

A escolha do elenco foi uma decisão importante para obter o resultado que desejava. “Nesse filme quis misturar atores experientes e não atores. A direção para o elenco foi muito pautada pela co-criação da história pregressa dos personagens principais”, detalhou Azul.  

Ele explicou que o processo de escolha de cada um dos atores foi “surpreendente e ao mesmo tempo, inevitável”. “A protagonista é minha companheira de vida, Oz Ferreira, que, além de ter vasta experiência em teatro, me ajudou de diversas formas na construção dessa história e da personagem que ela interpreta, a Joana”, ressaltou.

Confiança e cumplicidade foram os adjetivos que levaram o diretor a buscar Tero Queiroz em MS. “Tero Queiroz, como Miguel, sempre foi uma certeza, pois já havíamos trabalhado juntos e encontrado lugares de muita confiança e cumplicidade”, apontou. Tero atuou na série “Insustentáveis”, onde conheceu Azul, um dos diretores. 

Com desejo de quebrar estereótipos, assim Azul chegou ao ator que daria vida à “Freitas”. “O Sandro Lucose, no papel de Freitas, surgiu como uma revolução, deixando o personagem mais novo e abusado, o que ajudou com a quebra de estereótipo do latifundiário tradicional”, descreveu.

No tio Azul enxergou “João”, pai de “Miguel” e “Joana”. “O papel mais desafiador, a meu ver, sempre foi o do pai de criação da protagonista, o João. Confiei ele a meu tio, Antônio Alípio, tio Tonico, que após uma carreira como ator e diretor de teatro na juventude, se afastou dos palcos por quase 20 anos, retornando à atuação em Dois Bois”, disse.

Após o tio ser confirmado, Perseu também deu para a mãe um papel na história. “Minha mãe, Ádila Safi, que sempre quis ver de perto o que a ovelha desgarrada (eu) fazia, topou interpretar a Dona Branca, um papel que parece estar à mercê da história, mas que cresce e assume cumplicidade com a protagonista no desfecho”, revelou.

A MOSTRA E O DIRETOR

A 25ª Mostra aconteceria de forma presencial nesse ano, mas após a virada do ano e o aumento dos números da Covid-19, a programação foi transferida para o formato on-line.

“Quando o enviei para Tiradentes, ele ainda estava em processo de colorização e tratamento de som. Entramos na mostra Panorama, que compete pelo prêmio de público e que iria se realizar na forma presencial e virtual. No entanto, com o último surto de covid-19, todas as mostra presenciais em Tiradentes foram canceladas, restando somente a mostra virtual”, lamentou o diretor.

Considerada uma das maiores mostras do cinema brasileiro contemporâneo, Tiradentes se tornou importante para o cinema independente.

À reportagem, Azul destacou que se sentiu lisonjeado em ser selecionado salientando com seu 1º curta de ficção. “Ser selecionado em Tiradentes é uma imensa alegria, esse foi o primeiro filme que enviei para lá, é também meu primeiro curta ficcional”.

 

Apesar de estar estreando na direção de curta-metragem ficcional, Azul tem outros projetos de ficção sendo comercializados. “Na verdade, minha carreira no audiovisual se construiu, no início, com conteúdo para internet, em sua maioria curtas documentais e clipes. Mais tarde, com o advento do FSA, conseguimos realizar duas séries para TV, uma documental de 5 episódios e uma comédia de 13 episódios, ambas, após atingirem abrangência nacional através das Tvs Públicas, especialmente a TV Brasil e a TV Cultura, estão agora disponíveis em plataformas de VoD, a ficcional, chamada Insustentáveis, está na Amazon Prime Vídeo, a documental, O Muro, está na Amazon e no Itaú Cultural Play”, comentou Azul.

Conhecido por suas produções em grande parte no gênero do cinema documental, Azul comentou o gosto. “Pois vejo nele a possibilidade de conhecer gente” ... Ele, porém, disse ser puxado para a ficção. “Me puxa, pois, com ela posso recortar e misturar essa gente e, se a sorte me encontrar trabalhando, por vezes até fazer uma mistura que se assemelha à gênese de gente”, metaforizou.

Ao falar da estética do filme, Perseu revelou que ambienta a história ficcional no gênero faroeste. “O filme é um faroeste, marcado por câmeras fixas, movimentos simples e quadros abertos que capturam a vastidão do Pantanal, fotografia dirigida por Renato Ogata”, resumiu.

Para chegar a esse resultado, Perseu explicou que contou com a arte, minimalista, repleta de signos regionais, dirigida por Heitor Gomes. “Para a direção de som, contei com Matheus Lazarin, que nos ajudou a ouvir o Pantanal e trazer a atmosfera da fauna e sons geológicos para cada cena. A trilha sonora foi composta pelo maestro Murilo Alves, que além de excelente musicista é um grande pesquisador dos sons do bioma onde gravamos”, destacou.

AS GRAVAÇÕES

O curta-metragem foi gravado em uma pousada há 50km de Poconé (MT), na Transpantaneira. O local, muito visitado por turistas, foi ocupado por uma equipe de 23 pessoas, incluindo elenco e equipe técnica. 

Azul disse que o bioma se mexe inteiro e aprender a lidar com isso é essencial para o êxito do projeto.  “É preciso aprender a lidar com os bichos, não só os jacarés, bandos de pássaros e cobras, mas também, e principalmente, com os insetos, como os carrapatos, além de todos os tipos de muriçocas, piuns, pernilongos, mutucas e borrachudos”, lembrou.

Quando perguntado se está feliz com o resultado do projeto, Perseu se esquiva. “(sic) Eu prefiro deixar a alegria quanto ao resultado artístico e narrativo pro público avaliar. O que me alegra pessoalmente, é ter conseguido realizar essa obra com pessoas pelas quais eu desenvolvi e/ou aprofundei minha relação de respeito profissional e amizade”. Ele acrescenta que apesar de ter filmado “Dois Bois” em meio a pandemia, todas as medidas de segurança foram adotadas. “Também me alegra o fato de termos realizado a obra sem nenhuma ocorrência de covid-19 ou outra enfermidade, assim como sem acidentes e desentendimentos de nível pessoal”, concluiu.

O diretor acredita que “Dois Bois" é, esteticamente, bebe de muitas fontes. “Acredito ter conseguido investir tempo suficiente para dar-lhe uma identidade autoral, que bebe em diversas fontes, claro, mas que também verte de mim”, opinou. 

Veja íntegra da equipe de "Dois Bois", exceto o elenco:

Roteiro: Perseu Azul e Pedro Leite;
Empresa produtora: Cérberos Filmes;
Produção executiva: Daniel Calil Cançado;
Direção de produção: Sara Alves;
Montagem: Danilo Daher;
Fotografia: Renato Ogata;
Direção de arte: Heitor Gome;
Trilha sonora: Murilo Alves;
Mixagem: Matheus Lazarin;
Som direto: Paulo Monarco;
Edição de som: Matheus Lazarin e João Ises;
Cenografia: Ginovan Lima;
Figurino: Maria Reis.

O filme foi financiado com recursos da Lei Aldir Blanc. Azul lembrou que a produção de cinema autoral está aquecida, muito, ou totalmente, em virtude da Lei Aldir Blanc. “No entanto, é preciso ressaltar que o Mato Grosso tem realizado um ótimo trabalho mantendo uma continuidade dos investimentos em audiovisual, diversificando as linhas dentro dos limites impostos pelo curto orçamento destinado à Cultura. Minha crítica é: faltam investimentos privados e retornos sociais do setor mais rico do estado, o agronegócio”, cobrou. 

Quem assistir "Dois Bois" verá é um filme que mistura intimidade, contemplação e vingança. "Com os clássicos duelos de faroeste e o improviso bem executado do cinema de guerrilha organizada", finalizou.