Cinema

Thiago Rotta: o multimídia e sua história de dedicação ao audiovisual

“Estão matando sonhos”, diz cineasta sobre o que chama de desmonte do cinema nacional

14 NOV 2021 • POR Rozembergue Marques, especial para O PROGRESSO • 15h07
Thiago Rotta: “Desde criança eu já sonhava em ser ator, cantor ou diretor” - Divulgação

O diretor, produtor, roteirista e ator Thiago Rotta, um dos expoentes do cinema em Dourados, nunca enfrentou o dilema sobre se seria bombeiro, médico, engenheiro ou outra profissão “tradicional”. A observação foi feita pelo próprio Rotta, em entrevista a O Progresso.

“Sempre que me perguntavam o que ia ser quando crescesse eu respondia que ia ser ator, cantor ou diretor”, lembrou, observando que começou a fazer teatro ainda criança, na escola. Mas, contou, foi quando sua família se mudou de Dourados que a opção foi natural. “Hoje eu estou com 37 anos, então já são 27 anos de vida me dedicando e construindo essa história”, se orgulha o cineasta.
Rotta correu atrás (quase uma saga) para buscar a formação necessária para atuar em diversas frentes, como dirigir, produzir e atuar. “Entrei pra faculdade de publicidade e vi que não era muito ligada ao audiovisual. Mudei para produção em multimídia, mas o curso era focado a um mercado local. Na faculdade não estavam me ensinando o que eu queria, eu não tinha as respostas de como produzir, de como ser um diretor, como ser um produtor, então eu me mudei para o Rio de Janeiro”, relatou. “Fui com o firme objetivo de aprender, atuar. Trabalhei como ator em projetos para o multishow, para o canal do youtube “Anões em Chamas”, fiz participação na globo e cada passo desse eu aprendia o que eu queria, que era como produzir para o audiovisual”, prosseguiu, destacando o apoio da família e o aproveitamento das oportunidades. “Graças a Deus e a meus pais a oportunidade de sair daqui e ir aprender e vivenciar o tal “mercado”. Aprendi muito com o Ian SBF (Porta dos Fundos). a maior parte dos trabalhos que fiz ele era o diretor, e sempre observei muito como ele fazia, como me dirigia, eu observava muito, eu queria aprender, e até hoje ele é uma bússola de referência pra mim. Admiro muito o trabalho dele”, disse sobre as suas referências no mundo do audiovisual nacional.

Quando voltou a Dourados,
Rotta “colocou a mão na massa”.
Chegando aqui, o que fazer? mercado para ator não existia e foi então que o jovem e empolgado cineasta pensou rápido: “Não existia ainda. É a hora de colocar em prática o que eu aprendi e o que eu observei”, raciocinou. Começou a produzir vídeos para internet, teve um canal chamado Sapo Terrorista, depois um outro chamado Desculpa aí. Ganhou dois prêmios na mostra MAD daquele ano e finalmente conseguiu abrir, em sociedade com o irmão, a produtora Plug Produções, que funcionou até 2019. A Plug produziu duas séries de TV com investimento da Ancine: “Guateka”, que conta de forma ficcional a história da formação do grupo de rap indígena BRO MC’S (5 episódios, transmitidos na TV Brasil e também no canal Futura) e “Natacha”,  uma série que conta a história de 4 amigas que viajam para homenagear a amiga travesti que foi brutalmente assassinada. Uma história que homenageia a diversidade e que ainda não foi lançada.

Sobre o cenário local desta que é considerada a “sétima arte”, Rotta não esconde o pessimismo. “Falta investimento, falta preparo, falta informação, falta qualificação. E isso não é culpa do produtor, isso é culpa do estado em todas as esferas que não investe na formação dessas pessoas”, avalia o diretor/produtor/ator. “Nós não temos estrutura alguma para produção audiovisual de pequeno, médio ou grande porte, E existem tantas coisas que poderiam ser feitas para melhorar isso, a começar pelo Plano Municipal de Cultura”, propõe.

No plano nacional, a avaliação de Rotta é ainda mais cáustica e faz coro com grande parte da produtores culturais de várias áreas. “Sob o governo Bolsonaro o audiovisual brasileiro acabou. Só tem espaço para os grandes que tem portas abertas com os canais de tv e os streams.  Houve uma ação orquestrada para “quebrar”, desmontar um setor que é mais rentável do que o automobilístico. Com as duas séries que produzimos aqui, trouxemos quase 3 milhões de reais que foram investidos na cidade com as produções”, ponderou, finalizando a entrevista com a opinião de que o Governo Federal, ao sabotar a produção nacional, “está matando sonhos”. “Para mim é pura maldade esse desmonte. Estão matando sonhos, dando oportunidades apenas para os grandes, privando de oportunidades quem está começando”, lamenta.

Desde 2020 a plug se fundiu com a Caio filmes e foi criada a 3 primos produtora criativa. “Hoje eu estou totalmente focado nesse projeto e as produções para o mercado publicitário, que aliás também é um mercado carente, principalmente de qualidade”, considera, vislumbrando e planejando para o futuro a produção de conteúdo, séries de tv, curtas metragens, longas metragens, conteúdos para internet e outras mídias.

“Acredito que essa seja uma das minhas melhores fases no audiovisual, Temos trabalhado muito, criado muito, e também estudado muito buscando sempre mais qualidade, e isso é uma semente para o que projetamos para o futuro”, aposta o dedicado diretor.