Poesia

O amor e o vento

25 OUT 2021 • POR • 10h00

*João Linhares

Quero aprender arvorês.
Quem fala o idioma das árvores encaulece 
e cria raízes profundas;
beija a terra úmida;
nunca briga com passarinhos;
sorve o pó da essência;
enamora o tempo,
não envelhece a alma;
aproveita da chuva o néctar do céu.
O rugido do trovão desperta do marasmo. 
Os fios louros da cabeleira solar resplandecem felicidade 
e trazem esperança.
E esta, a esperança, 
é a bailarina que dança 
nas cachoeiras do ribombar cósmico
e agita os espíritos rumo ao infinito
espelhado no amor.
E o universo é menor que o amor. 
O universo é filho dele, 
fruto de um ósculo de luz que soprou vida
e criou as borboletas, os colibris, 
o carvalho e os riachos...
A água que brota do chão é amor líquido. 
É vida e verbo, 
eternidade instantânea, 
como a do poeta que abraça seus versos
e vive neles, 
mas não é correspondido, 
pois amor não tem dono, 
amor é livre e voa com os beija-flores, 
cava com as minhocas, 
nada com os peixes
e sossega com o vento, 
sedento, 
num balé contínuo, 
rítmico, 
estupendo!


*João Linhares, Promotor de Justiça do Ministério Público de MS. Integrante da Academia Maçônica de Letras de MS. Mestre em Garantismo e Processo Penal pela Universidade de Girona (Espanha). Especialista em Controle de Constitucionalidade e Direitos Fundamentais pela PUC-RJ.