Meio Ambiente

Poluição das águas e desmatamento são desafios do próximo prefeito

Arquiteta Leia Klein alerta para a necessidade de tirar do papel o Plano de arborização de Dourados

23 NOV 2020 • POR Rozembergue Marques, Especial para O PROGRESSO • 14h59

A poluição dos córregos, desmatamento e abandono de parques ambientais em Dourados preocupa a arquiteta e urbanista Leia Klein, professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unigran. Em entrevista ao O PROGRESSO ela fala sobre qual seria o tratamento ideal para o polêmico binômio desenvolvimento urbano versus sustentabilidade. Antes restrito aos rodapés dos Programas de Governo, o desenvolvimento sustentável vem a cada dia ganhando mais espaço e merecendo inclusive capítulos específicos no rol de propostas apresentadas aos eleitores. A professora dá dicas importantes sobre temas que vem sendo tratados na campanha eleitoral, como a gestão dos parques ambientais e o já elaborado mas ainda no papel Plano de Arborização da cidade.

“O crescimento urbano é um processo essencial para a valorização das cidades, mas para que isso seja benéfico precisamos associar a relação homem e natureza, priorizando a qualidade de vida e o equilíbrio do ecossistema”, avalia a professora, alertando para o fato de que “esse processo sem um bom planejamento resulta em uma série de alterações na composição dos elementos naturais, interfere no bem-estar humano, afeta a biodiversidade e modifica o ecossistema, por isso a importância das diretrizes sustentáveis nas cidades”.  

Tema que vem sendo muito debatido nesta campanha eleitoral, a existência de parques ambientais, como o Arnulpho Fioravanti, o Antenor Martins e o Rego D’Água, é vista como um “privilégio” por Leia Klein. “As Cidades que possuem e preservam os parques urbanos são cidades privilegiadas, pois além de servir para o lazer possuem benefícios intangíveis como os associados à contemplação e interação da paisagem”, pondera a professora. “Infelizmente a maioria das áreas verdes que podem ser destinadas a parques encontram-se bastante alteradas.  Áreas que em sua maioria foram criadas para garantir a conservação das nascentes do córrego, encontra-se bastante antropizada devido à ausência de vegetação nativa, e em alguns casos despejo de esgoto clandestino e disposição de lixo”, lamenta a especialista. “São necessárias estratégias inteligentes de recuperação e manejo dessas áreas para que, de fato, cumpra seu papel de parque urbano, que é de proporcionar o lazer à população e o contato com a natureza, assim como de garantir a preservação da biodiversidade local”, propõe.


“Nossa cidade dispõe  de nove córregos: Laranja Doce, Água Boa, Rego-d’água, Paragem, Curral de Arame, Chico Viegas, Engano, Laranja Hay e Jaguapiru, todos encontrando-se em péssimo estado de conservação, alguns com ligações clandestinas de esgoto, recebem grande carga de efluentes domésticos, resíduos de óleo combustível e lixo”, assinala a professora, enfatizando a necessidade de eliminar o escoamento clandestino de esgoto com a implantação de interceptores, e garantir uma fiscalização para evitar futuras contaminações. No caso das matas ciliares, “Plantio de espécies arbóreas nativas para proteção e conservação das nascentes, espécies de rápido recobrimento da área, como as gramíneas para evitar o assoreamento”.  

Ainda no que se refere aos parques ambientais, Leia Klein ressalta que as pessoas precisam se sentir convidadas a entrar e permanecerem nessas áreas. “É recomendável que haja espaços de contemplação, jogos, caminhada, leitura, caminhos estratégicos e divertidos pelos parques com o intuito de despertar a curiosidade e a descoberta, proporcionar também momentos de educação ambiental”, recomenda.

A arborização da cidade, que também tem sido muito debatida nesta campanha sobretudo por conta do esgotamento da vida útil das árvores existentes e os transtornos a cada temporal, também foi comentada pela professora. “Nas cidades, as árvores desempenham um papel muito importante na melhoria da qualidade de vida da população e do meio ambiente. A arborização tem a finalidade de propiciar um equilíbrio ambiental entre as áreas construídas e o ambiente natural alterado”, explica, para em seguida ponderar: “Um Plano de Arborização deve levar em consideração não somente os valores culturais, ambientais e sociais, como também aspectos importantes para se garantir a segurança e a mobilidade dos cidadãos e evitar situações conflitantes entre a arborização e equipamentos urbanos como fiações elétricas, postes de iluminação, muros e passeios, permitindo o direito de ir e vir”.

A professora finalizou reforçando a importância dos parques ambientais: “a criação e manutenção de parques urbanos vêm ao encontro com as necessidades, pois as áreas verdes contribuem na obtenção de uma boa qualidade de vida no ambiente urbano, eleva o valor ecológico e humanístico, diminuindo o efeito ilha de calor, pois essas áreas verdes funcionam como o pulmão da cidade, exerce influência na regulação do microclima local, na qualidade do ar, no abrigo à fauna, e na permeabilidade e fertilidade do solo, no amortecimento de ruídos e poeiras”, reiterou.