Dia a Dia

Sapateiros e marceneiros sobrevivem à tecnologia e ganham espaço na pandemia

Aos poucos, essas atividades voltam a ter força e já são consideradas como profissões “do futuro”

5 NOV 2020 • POR Luiz Guilherme, Especial para O PROGRESSO • 09h16

Com o surgimento e crescimento exponencial da internet algumas profissões literalmente acabaram ou, se adaptaram aos avanços tecnológicos, acompanharam tendências de mercado superando os períodos de crise. Entram nesta lista atividades como alfaiates, amoladores de faca, caligrafistas, barbeiros, costureiras e seleiros.

No entanto, o bom profissional acaba sendo se sobressaindo de acordo com a qualidade do serviço prestado e claro, do atendimento. Entre as profissões que podem ser consideradas ‘tradicionais’ estão os sapateiros e marceneiros, afinal, quem nunca precisou consertar um sapato, bolsa, ou necessitou de um reparo no armário, em uma mesa?

Aliando tecnologia e conhecimento, essas duas atividades estão, aos poucos, retornando e se tornando ‘profissões do futuro’. Ao O PROGRESSO, Luciano Almeida conta que já viveu dias melhores como sapateiro. Apesar de pequeno, o douradense viu a cultura do descarte crescer ano após ano. “Quando comecei, há mais de 30 anos, era comum ser procurado para concertar sapatos, tênis, até bolsas, mas hoje parece que as pessoas preferem comprar, do que trazer para arrumar. Há alguns clientes fiéis que ainda me procuram, porém em vista do que era antes, quando comecei, não é mais”, comenta.

Por outro lado, a pandemia da Covid-19 fez muita gente repensar o orçamento domiciliar, e economia doméstica e não descartar mais aquele chinelo com o solado descolado. Já era tendência, no entanto, foi acelerada neste ano de crise sanitária global. “Apesar do movimento, do serviço não ser o mesmo de quando iniciei, muitos clientes passaram a dar mais vida para a bolsa, ao sapato nesses meses de pandemia, e acredito nessa era de reaproveitamento, o que pode render mais alguns anos de trabalho”, enfatiza Luciano.

Situação semelhante em relação à marcenaria. Reutilizar um móvel, dar outra funcionalidade àquela estante, são hábitos já adotados por alguns cidadãos em todo o Mundo, no entanto, foi agora na pandemia, como já mencionado, que isso cresceu ainda mais. Afinal, com orçamento menor e o movimento ‘fique em casa’, o jeito foi se readaptar.

“Nesses pouco mais de sete meses se tornou praticamente normal eu ser chamado para reparar algum móvel, fazer pequenas manutenções, ou até mesmo receber clientes aqui com essa demanda. Penso que a marcenaria está entre as profissões que continuarão ativas no mercado”, afirmou Nelson Souza dos Santos que também começou há aproximadamente 30 anos e viu as transformações provocadas pela tecnologia.

Desemprego

O PROGRESSO apurou junto ao Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) que o setor de serviços, que incluem sapateiros e marceneiros, apresentou saldo positivo nos primeiros oito meses de 2020. Até a produção desta reportagem, haviam sido criados 546 novos postos de trabalho no setor em Dourados.

No Mato Grosso do Sul, serviços apresentou retração, com 449 postos de trabalho a menos, ou seja, de demitiu mais do que contratou. Cenário semelhante no Brasil, já que 489.195 postos de trabalho no segmento de serviços foram fechados entre janeiro e agosto.