Saúde

Sequelas da Covid: “Minha depressão foi potencializada”, diz sobrevivente

A cabeleireira Edimara Santos Minella , contraiu a doença em julho ao mesmo tempo com o pai, de 80 anos e o marido, 56. Ela diz que até hoje tem sequelas da Covid-19 e alerta as pessoas para se cuidarem

5 NOV 2020 • POR Marli Lange, Especial para O Progresso • 07h55

“Só quem contraiu Covid-19 entende o drama. Não desejo isso para ninguém; quem sai dessa doença em estágio avançado é um sobrevivente”, é o que alerta a cabeleireira douradense Edimara Santos Minella, 47 anos. Em julho ela contraiu a Covid-19 e ficou internada cerca de dez dias. Ela conta que a doença potencializou a depressão que já vinha tratando há anos. “Em certos momentos tinha certeza que iria morrer; não tinha vontade de viver”, relembra.

Ela conta que precisou fazer quatro exames para confirmar que havia contraído a Covid-19 e que só foi internada porque estava com muita falta de ar, tosse intermitente, febre muito alta e pulmão comprometido.

Edimara relata que os primeiros sintomas foram uma leve dor nas pernas, dor de cabeça e febre baixa. Ela achou que fosse uma “gripizinha” e tomou um Dipirona. Só que não.

No outro dia o quadro dela se agravou. Com febre alta, falta de ar e uma tosse insistente, correu para o médico. O primeiro exame não constatou a Covid-19 e Edimara foi medicada e dispensada para se tratar em casa.

Como o quadro não melhorou, ela voltou fez o segundo teste e novamente deu negativo. Fez o terceiro e deu parecido. Nesta altura, Edimara já estava muito mal. Mesmo sem resultado positivo para Covid-19, a cabeleira foi internada. Havia uma desconfiança forte por parte dela e do médico de que realmente seria a Covid-19 porque a cabeleireira teve contato dias atrás com uma mulher contaminada e que inclusive, dias depois, veio a óbito. “Ninguém sabia que a mulher estava doente, só depois que fiz a unha dela que descobrimos. Ela foi internada e morreu, inclusive contaminou vários membros da família dela. Um cunhada dela também morreu”, disse a cabeleireira.

Com isso, Edmara fez uma tomografia e constatou que o pulmão estava bastante comprometido, tomado por manchas escuras. Foi internada imediatamente e começou um tratamento pesado para reverter o quadro. Apenas no quarto exame, depois que a doença já tinha se estabilizado, é que foi confirmado o diagnóstico para  Covid-19.

Ela conta que passou por momentos em que realmente achou iria morrer por causa da sufocação por falta de ar, falta de apetite, e foi quando o organismo começou a ficar debilitado. Não sentia paladar, não sentia cheiro e começou a se entregar à doença. Edimara já fazia tratamento para depressão e há anos toma remédio controlado. “Não sentia ânimo para nada, fiquei sem tomar banho, sem vontade de comer. Pensava que não fazia sentido se alimentar se iria morrer”, relembra.

Pai e marido

Neste período em que esteve internada na Cassems, seu pai, Luiz Pereira dos Santos, de 80 anos, pré-diabético, também contraiu a Covid-19.   A exemplo da filha, teve os mesmos sintomas e a doença não foi diagnosticada no primeiro teste. O idoso só foi internado porque o médico achou que poderia ser pneumonia, já que com a tomografia constatou que o pulmão estava comprometido. Por causa da idade, ficou na UTI. Depois de dias é que Covid-19 foi diagnosticada. “Por causa da tosse, meu pai teve que tomar xarope e isso alterou o quadro pré-diabético e como eu, também entrou num quadro depressivo”, conta a cabeleireira.

Depois de alguns dias na UTI, o pai de Edimara foi encaminhado para o quarto, onde ficou com a filha se recuperando. “Eu como já estava estabilizada da doença ajudava cuidar do meu pai durante os dias de internação”, comenta. Pai e filha ficaram internados cerca de dez dias e conseguiram superar a doença. Apesar de ter se curado da Covid-19, passados três meses, aproximadamente, Edimara ainda diz que ficou com sequelas, pois ainda não sente o paladar; algumas vezes sente ainda muito desânimo e mal estar.

Ela ainda toma remédio para depressão, e diz que não pode parar por enquanto. “Acredito que a Covid potencializou os problemas que já tinha, agora só com tratamentos e, dar tempo ao tempo”, avalia.

Edimara explica que o marido, o jornalista Ricardo Minella, 56, também contraiu a Covid-19 na mesma época, mas no caso dele, a doença foi bem leve, apesar de ter um histórico de problemas cardíacos. “Teve um quadro de diarreia, perdeu um pouco o paladar e atacou a labirintite”, disse a mulher.

Ela acredita que, apesar de se alimentar bem e de forma correta, estava com a imunidade baixa e por isso, o quadro se agravou. O pai dela, depois que saiu do hospital, se recuperou muito bem, apesar da idade. “Ao contrário de mim, meu pai não ficou com sequelas”, disse Edimara.

“O que preocupa é que muitas pessoas não ligam e acham que nunca vão pegar a doença. Tem que se cuidar e orar a Deus que isso nunca aconteça porque, se a doença agravar, muitos não aguentam e morrem porque além dos sintomas da Covid, potencializa outros problemas que já carregam”, alerta Edimara.