Cultura

Falta de incentivo ameaça a produção literária em Dourados

Editoras alternativas são ‘saída’ para escritores que buscam lançar suas obras

28 OUT 2020 • POR Luiz Guilherme, Especial ao O PROGRESSO • 13h04

Se por um lado a internet tem influenciado para que os consumos de livros físicos diminuam, por outro, a falta de incentivo financeiro e até mesmo do município de Dourados, pode estar ameaçando a produção literária. A afirmação é do presidente da Academia Douradense de Letras, Marcos Coelho, em entrevista ao O PROGRESSO.

“Temos, infelizmente, um viés cultural que não tem atuado com eficiência nos setores culturais governamentais, em todos os âmbitos, seja Federal, Estadual e Municipal, as leis existem e muito bem pensadas, porém é necessário maior a articulação do próprio setor artístico-lítero-cultural nesse sentido, como a conclusão do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca, em andamento há tantos anos, que se tornado realidade, norteará o segmento e as ações públicas que atendam esse setor”, pontuou.

Marcos Coelho citou que a Academia tem trabalhado para que o plano se torne realidade, no entanto, por força do momento da pandemia da Covid-19 e período eleitoral, para 2020, não seja mais possível. Segundo ele, também há falta de incentivo da iniciativa privada, que em Dourados, considerando que é a maior cidade do interior de Mato Grosso do Sul, poderia ter a organização de feira literária, tendo como referência a Feira de Parati, no Rio de Janeiro.

Atualmente, a saída para escritores locais conseguirem produzir suas obras e lançá-las é justamente editoras alternativas que proporcionam baixo custo na produção e formas de financiamento. “Hoje é uma das poucas ou quase a única alternativa. Sabe-se do livro artesanal, porém não são todos que detêm a habilidade necessária para o fazê-lo. Assim, surge espaço alternativo de editoras que diagramam, montam o livro e facilitam o pagamento da impressão gráfica da obra para posterior comercialização. O ponto é o recurso financeiro do próprio autor do projeto literário”, mencionou Coelho.

De acordo com o presidente, são aproximadamente dez editoras alternativas em Dourados que produzem obras dos mais variados tipos como romances, antologias, obras poéticas, e vários gêneros literários. Atualmente, segundo Marcos, a tendência tem sido a comercialização do livro enquanto item de consumo.

No entanto, apesar das dificuldades enfrentadas pelos escritores douradenses, existe o projeto ‘Estante Mágica, com recurso utilizado por professores da área distrital de Dourados, Mato Grosso do Sul, e subsidiados pela própria comunidade. Aquém, o município fomenta em escolas públicas e privadas a produção literária entre os alunos, e merecem destaques a Escola Municipal Sócrates Câmaras, com produção de antologias, a Loide Bonfim, Fazenda Mia, Etalívio Penzo, Firmino Vieira de Matos, a Coronel Firmino e a Padre Anchieta. Dourados segue firme no incentivo à leitura e produção, se tornando referência para outras cidades. O projeto de produção textual teve início com professores na escola Firmino Vieira de Matos, no distrito de se tornando modelo no estímulo à escrita e leitura dos alunos das séries iniciais, com fomento também à produção artística. Nominado Projeto Escritor, a atividade figura como uma das mais interessantes iniciativas literárias da Grande Dourados nos últimos tempos.

O projeto teve início em 2016, e estimulou os alunos a refletirem e construírem textos com a história da própria família, resgatando biografias e produzindo roteiros do dia a dia que contribuíram para a produção das obras literárias e ilustrações que foram devidamente publicadas, através do ‘Estante Mágica. As professoras, Sandra Regina Piesante de Matos e Flávia Vicini, foram as idealizadoras do projeto.