Projeto

Costura afetiva ganha espaço na pandemia e retalhos viram arte

21 AGO 2020 • POR • 09h08

Desenvolver habilidades que estão no DNA, adormecidas. Esse também pode ser uma consequência desses tempos de isolamento social. A jornalista e professora de redação Cristine Medeiros deixou guardada por muito tempo a máquina de costura herdada da mãe e, depois de atuar como voluntária no corte de máscaras a serem doadas para profissionais  da linha de frente no combate à pandemia, resolveu confeccionar máscaras para doação. Nesse meio tempo, ela foi desafiada pela filha a confeccionar uma calça pijama inspirada na personagem Rachel (da série Friends). Assim, Cristine resgatou uma memória afetiva, de quando observava e ajudava a mãe, costureira que fazia verdadeiras obras de arte. A avó materna também dominava essa habilidade. Despretensiosamente, foi feita a primeira peça.

“Pela visibilidade de minha filha nas redes sociais, ao publicar a peça produzida por mim, ela começou a receber pedidos de amigos, também fãs da série”, relata Cristine. Desde então, as encomendas semanais, sob medida, passaram a se repetir e a iniciativa começou a ser organizada: Louise na administração do processo (do pedido à entrega) e Cristine na produção das peças. Nascia a Um a Um – Costura Afetiva, como foi batizado o empreendimento.

“Quem mora em Dourados retira as peças em nossa casa, respeitando o distanciamento e estamos enviando, pelos Correios, para vários estados do país”, conta Louise, que administra por meio das redes sociais, os dados de cada pedido. “A comodidade de poder escolher padronagem, informar medidas para a peça e realizar o pagamento de forma remota tem conquistado nosso público, que muitas vezes não encontra esse tipo de peças em lojas de departamento”, observa ela. A produção é limitada por semana para que os pedidos sejam atendidos com eficiência. Todas a peças são passadas a ferro quente e vaporizadas com álcool 70  e cada embalagem também é higienizada para a entrega, mantendo a segurança dos consumidores.

“No início do isolamento, destinamos o lucro da produção para ações sociais, ajudamos uma família carente por meio da igreja e depois doamos material para o Lar do Idoso. Hoje nosso foco é manter a sustentabilidade do projeto com lixo zero e por isso lançamos calças infantis,  croppeds e roupas para Pets, a fim de melhor aproveitarmos os tecidos e temos projetos para produzir itens de decoração com o mesmo fim. As bordas que sobram da overloque utilizamos como enchimento de almofadas e os retalhos utilizáveis doamos para artesãs parceiras que os transformam em arte e evitam a produção de lixo”, declara Cristine.

A empreendedora revela que ficou chocada com a informação do relatório “A new textiles economy: Redesigning fashion’s future”, lançado Ellen MacArthur Foundation, com o apoio da estilista Stella McCartney. “Saber que a indústria da moda gera o equivamente a um caminhão de lixo de sobras de tecido por segundo, fez com que a ideia de economia circular e reaproveitamento fizessem parte do DNA do nosso projeto”, ressalata ela. Com o material doado, a artesã Aline Barros e sua mãe Tania, transformam os retalhos em  laços, turbantes e tapetes, evitando que esse material  vá parar no aterro sanitário. “Produzir renda, produtos que satisfaçam os clientes de forma segura e ainda preservar a natureza é o que de melhor podemos fazer nesse momento”, finaliza Cristine,  ressaltando que o próximo passo é transformar o projeto em MEI.