Tráfico crescente

Dez vezes mais cara, supermaconha chama atenção dos traficantes

Em Mato Grosso do Sul, esse ano foram apreendidos 780 quilos da droga, avaliada em R$ 15 milhões

12 NOV 2019 • POR Valeria Araújo • 10h49
Na Polícia Federal e PRF as apreensões são crescentes em todo MS - divulgação

Até 10 vezes mais caro e sete vezes mais forte que a maconha comum, a supermaconha ou “skunk”, droga produzida em laboratório com uma concentração maior de THC (tetraidrocanabinol), chama a atenção dos traficantes na fronteira de Mato Grosso do Sul. Esse ano, as forças policiais no Estado já retiraram de circulação 780 quilos do entorpecente, o que em grandes centros do País poderia custar até R$ 15 milhões.  Devido aos custos de produção elevados do skunk, a droga ficou conhecida como “maconha de rico”, pois seu preço é bem superior ao da maconha comum. 

Na Polícia Federal as apreensões são crescentes. Em 2017 foram 2,2 quilos, em 2018 foram 24,37 quilos e em 2019 já são 35,6 quilos da droga. A Polícia Rodoviária Federal apreendeu 282,26 quilos da droga nas rodovias federais de MS. 
De acordo com dados da segurança pública, as maiores apreensões acontecem agora, no período de colheita do skunk, que vai de setembro a dezembro. A produção é realizada no Paraguai e destinada para outros países da América do Sul, passando pelo Brasil e MS que é um dos maiores corredores do tráfico de drogas e armas. 
De acordo com pesquisadores, o Skunk tem uma preparação especial e mais cara do que a convencional. Para ela se desenvolver é necessário condições especiais de temperatura, luminosidade e umidade, geralmente em estufas, com técnicas do sistema hidropônico. Enquanto uma planta da espécie de cannabis sativa comum mede cerca de 1,8 m, a planta cultivada nessas condições alcança apenas 30 cm. Como resultado, enquanto na maconha comum a concentração de THC é de 2,5%, no skunk pode chegar a 40%.
Para o usuário, não há como diferenciar a maconha do skunk visualmente, mas as forças policiais a reconhecem pela embalagem diferenciada e cheiro mais potente. As sensações ao consumir determinada quantidade de skunk, são bem mais intensas do que a maconha, devido ao maior índice de THC no skunk. 
 
Esquisofrenia e psicoses 


O médico Alessandro de Matos Santos
 
Em Dourados o médico psiquiatra Alesandro de Matos Santos, alerta para os riscos do uso da supermaconha. Ele cita, por exemplo, pesquisa publicada em abril de 2018 no Translational Psychiatry que indicou efeitos do THC em neurônios derivados de células-tronco, alterando funções relacionadas à biologia do RNA (ácido ribonucleico, na sigla em inglês) e à regulação da cromatina, semelhantes ao encontrado no autismo e na esquizofrenia. Em relação ao intelecto, trabalho publicado em 2012 no Proceedings of the National Academy of Sciences mostrou que o uso de cannabis resulta em redução de 8 pontos no QI de usuários entre os 18 e os 38 anos.
Citando artigo publicado na Unidade de Pesquisa e Álcool (UNIAD), o médico alertou ainda que diversas outras pesquisas mostraram alterações cognitivas, com prejuízos para a memória e as funções executivas, restando
a dúvida se isso é reversível. Resta a esperança de que a pronta interrupção do uso impeça danos de longo prazo, mas há claros indícios de menor rendimento escolar e na carreira profissional dos usuários persistentes de canábis. Mesmo depois da remissão de episódios agudos, algumas psicoses crônicas como a esquizofrenia são irreversíveis, pois deixam sequelas. Somente a cannabis e a metanfetamina tem associação demonstrada com psicoses crônicas.
Em 2016, uma extensa investigação, reunindo resultados de 10 estudos, com mais de 66.000 indivíduos, calculou que o risco para psicoses crônicas é 3,9 vezes maior em usuários frequentes de cannabis com alto teor de THC, confirmando que o efeito é “dose-dependente” e, portanto, compatível com relação causal.