Editorial

Buraco sem fundo

28 MAI 2018 • POR • 14h09
Hoje completa oito dias que o Brasil está mergulhado em uma profunda crise, um buraco sem fundo que afetou a vida dos brasileiros. Como afirmado aqui, na semana passada, fruto da forte crise econômica e política que assola Brasil há décadas, a greve dos caminhoneiros deixa um rastro de caos e instabilidade e, ao mesmo tempo, um sentimento de indignação nas pessoas. O que causa constrangimento em si, não é ação da categoria que comanda a paralisação do país, mas sim a desonestidade de alguns que se aproveitam como abutres em cima de um banquete anunciado. Refém da sua própria incapacidade o Governo Federal, que não conseguiu pelas vias do diálogo evitar que o pior acontecesse, teve que editar medidas consideradas radicais, como o uso das forças federais para desbloquear as entradas das refinarias e, também, de algumas rodovias.

"Quero anunciar um plano de segurança imediato para acionar as forças federais de segurança para desbloquear as estradas e estou solicitando aos governadores que façam o mesmo. Não vamos permitir que a população fique sem os gêneros de primeira necessidade, que os hospitais fiquem sem insumos para salvar vidas e crianças fiquem sem escolas. Quem bloqueia estradas de maneira radical será responsabilizado. O governo tem, como tem sempre, a coragem de dialogar; agora terá coragem de usar sua autoridade em defesa do povo brasileiro", disse o presidente da República, num discurso que pegou muita gente de surpresa, causando arrepios nos esquerdistas de plantão, mas que acabou caindo na vala da retórica, uma vez que nem tudo foi efetivamente colocado em prática, já que a própria Polícia Rodoviária Federal admitiu em algumas declarações de seus porta-vozes, que praticamente não houve desmobilização de pontos de manifestação de caminhoneiros nas rodovias do pais.

Além disso, por mais que o presidente da República tenha dito que uma "minoria radical" estava impedindo que muitos caminhoneiros cumprissem o acordo e voltassem a transportar mercadorias, praticamente nada mudou. O que se viu ao longo desses dias foi uma série de desencontros. Enquanto o Palácio do Planalto anunciava uma medida, os manifestantes respondiam com mais retaliações. Na batalha de infindáveis justificativas entre governo e grevistas, não houve vencedores. Só perdedores, que neste caso foi a própria população que foi impedida de exercer o sagrado direito de ir e vir, literalmente, uma vez que o combustível havia acabado.

Mas como diz um ditado antigo, "o que está ruim pode ficar ainda pior", pois nem só de gasolina vive o homem, mas também de tudo que ela movimenta. Enquanto as amáquinas de inúmeras rodas não movimentavam pelas estradas do Brasil, as ambulâncias, as viaturas da polícia e os carros do Corpo de Bombeiros também começaram a parar. Os hospitais, que já são limitados em sua capacidade de atendimento, diminuíram ainda mais o ritmo. Além disso, muitas residências ficaram sem o abastecimento do gás de cozinha. E nos supermercados, algumas prateleiras já estavam vazias. Por mais que os diretores do procons de cada cidade tentassem tranquilizar a população, o gosto da recessão já estava instalado no céu da boca de cada cidadão. Afinal de contas é quase inexplicável que de noite, um quilo de batata, que era vendido ao preço de pouco mais de R$ 1, na manhã do dia seguinte estivesse, e continua, custando até R$ 17.

Ontem, no sétimo dia de greve, o governo voltou a negociar com os caminhoneiros, ao mesmo tempo em que forças de segurança continuaram a desobstruir pontos de bloqueio nas rodovias de todo o país. Entretanto, a categoria dos motoristas autônomos reivindica agora desconto de 10% no valor do diesel que será cobrado na bomba, a ampliação desta redução de 30 para 60 dias e o fim da suspensão da cobrança de tarifa de pedágio para eixo elevado dos caminhões para todo o país. O que resta agora é esperar os desdobramentos. Há os que apostam na continuidade do caos, na tentativa de continuar tirando proveito da situação. Mas existem também aqueles que acreditam que a tempestade irá passar e que dias melhores virão.