Policia

Professor acusado de pedofilia desabafa

19 JUL 2011 • POR • 19h51
Professor quebrou o silêncio e falou ao O PRO-GRESSO sobre sua prisão Foto: Hédio Fazan
João Rocha


DOURADOS – Depois de passar 40 dias preso na Penitenciária de Segurança Máxima Harry Amorim Costa (Phac), de Dourados, professor acusado de pedofilia, pela ex-mulher, ganha a liberdade e quebra o silêncio. Na presença do advogado de defesa Maurício Nogueira Rasslan, ele falou das acusações, do tempo que passou preso e também do desafio que terá pela frente para recomeçar a vida, do lado de fora da prisão.

Essa é a primeira vez que o professor fala com a imprensa, depois de ser acusado pela ex-esposa de molestar a filha adotiva, de 12 anos, de gravar vídeos, fazer fotografias e armazenar conteúdos pornográficos num notebook da família.

Depois de sair da Phac, na tarde de ontem, por volta das 15h, o professor seguiu direto para o escritório do advogado onde recebeu a reportagem do O PROGRESSO para dar entrevista. Bastante tranquilo ele disse que passou 30 dos 40 dias dentro da capela da penitenciária, um espaço de 3 metros por 8 que dividiu com um médico e o advogado Antônio Paulo, que também está preso acusado de pedofilia.

Durante todo o tempo que passou preso ele leu muito. “Foram cerca de 50 livros, dos mais variados temas. Li o velho testamento inteiro também. No último mês comecei a trabalhar no Raio da Saúde, na penitenciária. Foram momentos de tensão, medo e angustia”, ressalta o professor.

Emocionado ele conta que o momento mais difícil que passou dentro do presídio foi o dia do aniversário do filho. “Minha maior preocupação eram meus filhos. Queria saber como eles estavam. Meu filho fez quatro anos e eu não estava perto dele”, declara o professor.

Questionado sobre as acusações, com segurança reafirmou que é inocente e que acredita na Justiça. “É difícil acordar e ver que a sua vida está completamente despedaçada. Meu pesadelo esta acabando, a verdade e a Justiça estão começan-do a aparecer. Estou com muita força para recomeçar”, ressaltou.

O professor fez questão de enfatizar que trabalhava muito, cerca de 16h por dia. Ele explica que dava 15 aulas diaria-mente, divididas em duas escolas particulares e em uma do Estado, nos três períodos. Nos finais de semana também ar-rumava tempo para coordenar um curso pré-vestibular, em uma universidade da cidade. “É difícil ter tantas ocupações e de repente ver tudo sendo tirado de você. Na prisão aprendi a ter paciência, a valorizar o pouco que tenho e as coisas simples da vida. Um café já me deixava contente”, detalha.

Antes de ser preso o professor conta que foi para Ribeirão Preto, onde moram seus familiares, para contar sobre o que estava acontecendo e que retornou mesmo sabendo que poderia ser preso. “Voltei por que não devo nada e não tenho o que esconder. Não sou de fugir. O bom é que recebi o apoio incondicional da minha família”, explica.

Nesse instante o advogado interrompeu a entrevista para mostrar um abaixo assinado feito em favor do professor, onde constavam mais de 100 nomes de pais de alunos, professores e funcionários das escolas onde o acusado leciona. “Quando peguei o caso disse ao meu cliente que não advogo para pedófilo e ele me convenceu que era inocente, por isso peguei esse caso”, salientou Maurício Rasslam.

Ao saber que a Justiça havia deferido o pedido de liberdade provisória, o professor conta que ficou dois dias sem dormir aguardando o alvará de soltura, que aconteceu na tarde de ontem. “Foi muita emoção. Uma mistura de expectativa com alegria”, enfatizou.

Ele conta que agora vai aproveitar que as escolas estão de férias para reorganizar a vida e as finanças, já que a ex-mulher ficou com todos os cartões de créditos e bancários dele. “Depois disso devo procurar um médico para ver como anda a minha saúde e também procurar os meus patrões. Quero ver se consigo minha ‘vida’ de volta”, concluiu o professor.

A defesa entrou, no dia 13 desse mês, com o pedido de Hábeas Corpus, no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, para o trancamento da ação penal alegando irregularidades na fase do inquérito policial. O pedido será analisado pelo desembargador Carlos Eduardo Contar.