Crise

Venezuelanos viajam para comprar remédio e comida no Brasil

18 JUL 2016 • POR • 10h52
Jossi Guillen viajou 10h para comprar comida para os cinco filhos em Pacaraima - Foto: Emily Costa/ G1 RR
A crise econômica na Venezuela está provocando uma corrida de venezuelanos a Pacaraima, cidade no Norte de Roraima e na fronteira com o país. Diariamente, centenas de pessoas chegam ao município, que tem pouco mais de 10 mil habitantes, em busca de comida e remédios.

O comércio de Pacaraima, que fica a 250 km de Boa Vista, tem funcionado de domingo a domingo, e a movimentação é grande já nas primeiras horas do dia. No último sábado (16), às 9h a cidade já estava lotada de venezuelanos.

Eles faziam filas para comprar itens básicos como arroz, farinha de trigo, óleo, macarrão, margarina e açúcar. Os mantimentos são para alimentar famílias inteiras que sofrem com o desabastecimento de alimentos na Venezuela. Para atender à demanda dos clientes do país vizinho, lojas especializadas em eletrônicos ou peças de carro estão abrindo espaço nas prateleiras para vender comida.
Venezuelanos formam fila para comprar comida em ateliêr transformado em mercado para venda de alimentos

A fronteira entre Brasil e Venezuela é marcada apenas por cancelas, e o tráfego de veículos é praticamente livre nos postos de fiscalização das polícias Federal e Rodoviária Federal. Apenas os estrangeiros que pretendem ir para outras cidades do país é que precisam pedir visto no posto da PF.
Na Venezuela não tem arroz, azeite, açúcar e, se tem, é com o preço muito alto [...] São 11 horas de viagem, mas vale a pena, porque terei comida em casa"


A comerciante venezuelana Rosa Maria, de 53 anos, tem um restaurante na cidade de Puerto Ordaz e precisou percorrer quase 700 km até Pacaraima para comprar comida. Ela diz que a falta de alimentos na Venezuela está destruindo os negócios das famílias e ameaçando a sobrevivência dos filhos.

"Vim comprar comida para minha família e para o meu restaurante em Puerto Ordaz. Na Venezuela não tem arroz, azeite, açúcar e, se tem, é com o preço muito alto e não tenho como comprar", diz. Enquanto dava entrevista, a comerciante aguardava um táxi para levá-la de volta a cidade natal. "Serão 11h de viagem, mas vale a pena porque terei comida em casa".

O operário Jossi Guillen, de 53 anos, também enfrentou uma longa viagem para chegar a Pacaraima. Ele saiu de Sán Felix, no Sul da Venezuela, e viajou por 10h para comprar comida e alimentar os cinco filhos que o esperam em casa.

A Venezuela está passando por uma crise muito intensa. Ganho R$ 2 por dia na empresa de alumínio em que traballho. Por isso, não consigo comprar comida lá, porque quando encontramos alimentos, eles são muito mais caros do que aqui no Brasil. Então, temos que vir aqui para comprar mantimentos e conseguir sobreviver lá", conta Guillen.

A corrida por alimentos se intensificou bastante nos últimos 30 dias, segundo os comerciantes de Pacaraima. A procura por comida é tanta que muitos empresários da cidade resolveram vender alimentos. Assim, é comum ver lojas que antes eram voltadas a venda de artesanatos, bijuterias, pneus e até baterias de carro sendo transformadas em pequenos mercados.

"A gente não teve escolha. Tivemos de começar a vender comida também, se não as vendas caem e ficamos sem dinheiro. Os venezuelanos não querem nada além de comida, então tive de comprar uns fardos de arroz e colocar aqui na loja que antes só vendia artesanatos do Brasil. É a única maneira que temos para lucrar", revela um comerciante que pediu anonimato.