Davi Roballo

A sabedoria infantil e a estupidez do adulto

18 JUL 2016 • POR • 06h00
Avida adulta exige tanto de nossas forças físicas e emocionais, que acabamos esquecendo o que somos e o que nos moldou ao longo dos anos. A modernidade além de incutir em nós a ilusão do futuro, transformou-nos também em máquinas, pois vivemos em um ritmo cíclico de repetições, não bastasse a mecanização do viver, abandonamos a capacidade de amar e pensar em equilíbrio, para repetir o que nos incutem, pois ao que parece, isso é mais cômodo ante a escassez de nosso tempo.


Se há algo do qual podemos estufar o peito e com toda certeza nos ufanar é da estupidez do homem moderno, o restante é incerteza. Mesmo assim, consideramo-nos os humanos mais espertos entre todos aqueles que nos antecederam. Pensamos assim, porque o homem moderno perdeu-se de si mesmo ao priorizar o futuro em detrimento ao passado e por não viver o presente.


Sempre que elegemos a razão como guia de nossas vidas, caminhamos em direção a desumanização de nossas próprias escolhas e ações, principalmente as que dizem respeito ao outro. Isso ocorre porque o cérebro não ama, o cérebro é razão, ele é frio, ele pensa, por isso temos a tendência a resistir ao ato de raciocinar, pois quando deixamos nos envolver pela razão tornamo-nos mais frios e sisudos, prova disso são as universidades e suas auras sepulcrais, pois nelas existe apenas o exercício da razão em prol do conhecimento.


Quem ama é o coração, e o coração somente se manifesta onde há inocência e a inocência onde há infância. Todo sábio é uma dualidade, ou seja, um adulto que pensa brincando com jogos infantis; e a criança que ama com toda inocência e desapego, o sábio é só infância.


A criança erroneamente é tida como boba, ingênua, mas segundo Rubem Alves ela é sábia devido ao fato de saber pensar brincando, além de amar e a perdoar sem ressentimentos, pois não está presa a noção de futuro. É bem possível existir na criança a ausência do ego, pois ela interage e pertence ao todo, capacidade que o adulto perdeu, pois deixou de ver o mundo e a natureza com os olhos de ver, deixou de se espantar com o novo.


Um homem só é sábio por saber se equilibrar entre essas duas formas de ver a vida: brincando e se espantando maravilhado com o que lhe apresenta os olhos e os demais sentidos. Nascemos sábios e morremos sábios, pois, sabedoria pertence apenas as crianças e aos velhos, e quando perambulamos pelo intervalo entre um e outro, o que nos move é a imbecilidade do consumo, a tirania do Ter e do ego, pois na fase adulta da vida perdemos a inocência e a capacidade de imaginar, de fantasiar, como nos mostra claramente Saint-Exupéry em seu livro "O Pequeno Príncipe".


O desmantelamento da inocência e da sabedoria da criança inicia-se na escola, logo na Pré-Escola, na qual a criança começa a ser podada pelo ensino sistematizado, homogêneo e engessado, pois segundo Augusto Cury "O embrião da formação de pensadores começa na Pré-Escola e no Ensino Fundamental é lá que promovemos ou enterramos os futuros pensadores, nas Universidades apenas fazemos a missa de sétimo dia".


Enquanto uma criança extasia-se com o novo e entra em um estado de completude com o desconhecido, o adulto quer apenas conhecer o desconhecido e acumular futilidades, pois é tiranizado pela razão, o que lhe causa a falta de espaço para a contemplação, para o êxtase. Quando ele perde esse contato com a natureza e com o viver, passa a agir como um tolo, um estúpido que inventou o conhecimento e não sabe para que serve, enquanto é consumido pelo mesmo.


Jornalista, Especialista em Comunicação e Marketing / Especialista em Jornalismo Político.. e-mail: daviroballo@gmail.com