Tensão

Conflito em fazenda deixa um índio morto

15 JUN 2016 • POR • 06h00
Registro fotográfico no fim da tarde de ontem mostra a fumaça do fogo que consome canaviais na fazenda. - Foto: Sidnei Lemos/94
A ocupação de uma fazenda em Caarapó, no fim de semana, precedeu um confronto entre agricultores e índios ontem, dia 14, que resultou na morte de uma pessoa e deixou outras 8 feridas, incluindo três policiais que acabaram reféns de índios. Morreu atingido por disparos de arma de fogo o índio Cloudione Rodrigues Souza, de 26 anos. Outro índio atingido teria morrido já no hospital em Dourados, mas a informação não foi confirmada até o fechamento desta edição.


No início da noite de ontem, a Polícia Federal negociava com líderes dos índios a possibilidade de tentar reaver as armas e coletes tomados durante um conflito. Lavouras de cana próximas estão em chamas e o clima é tenso no local. A estrada está bloqueada em três pontos e a situação ficou mais complicada com a chegada da noite. Segundo informação do Campo Grande News, são seis fazendas invadidas, de acordo com moradores da região.


O comando da Polícia Militar em Caarapó teria acionado um grupo de 150 policiais militares que estavam de folga para seguir até a área e tentar mediar o conflito.


Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Polícia Federal foram acionadas para socorro às vítimas e tentativa de contenção do conflito.


A Polícia Militar esteve no local e, após auxiliar o Corpo de Bombeiros no resgate das vítimas, três policiais militares acabaram reféns dos índios e foram, segundo a polícia, espancados, despidos e tiveram os corpos encharcados com gasolina. Depois de intervenção de um pastor da aldeia, eles teriam sido soltos, mas perderam as armas.


O cacique da aldeia disse que os militares foram feitos reféns depois da confirmação da morte do agente de saúde. Um pneu da viatura teria furado. Batalhão de Choque da Polícia Militar de Campo Grande acompanha o caso e está de prontidão para intervenção, caso necessário. A Polícia Federal é responsável pela investigação.
O comando da Polícia Militar em Caarapó acionou ontem um grupo de 150 policiais militares que estavam de folga para seguir até a área e tentar mediar o conflito.


O confronto teria iniciado quando um grupo de fazendeiros tentou aproximação do local tomado por centenas de índios da aldeia Tey Kue, vizinha à propriedade. A fazenda faria parte do território indígena, estando em fase de homologação. Os índios alegam que foram ao local pacificamente e ontem teriam sido alvejados por fazendeiros.


Segundo o proprietário da fazenda, de 59 anos, o caseiro, a mulher dele e uma criança de oito meses estariam como reféns dos índios e motivaram a ida ao local de um grupo de fazendeiros.


O sindicato rural de Caarapó informou a sites de notícia da cidade que o presidente da entidade foi para a região do conflito em busca de mais informações. A Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) também apura o que aconteceu.


Lorivaldo Nantes, cacique da aldeia, informou á imprensa da Capital que o grupo espera que a Polícia Federal resolva o conflito e não descarta novos confrontos, já que, segundo ele, 7 mil indígenas se organizam para manifestar contra a morte do agente de saúde. "Vamos enterrar ele na fazenda onde foi morto", disse em entrevista.


Índios entrevistados por sites da Capital relataram que agricultores teriam ‘chegado atirando’ ao local do confronto. Duas crianças acabaram feridas com queimaduras. A prefeitura de Caarapó realizou reunião ontem na busca de soluções para os conflitos. O deputado federal Zeca do PT emitiu nota lamentando a morte do índio que trabalha como agente de saúde. Nenhum agricultor falou sobre o ocorrido.


Na segunda-feira, dia 13, a ocupação da Fazenda Ivu foi veiculada em noticiários do Mato Grosso do Sul. Os índios da aldeia Tey Kue teriam ido ao local no domingo, formando um grupo de centenas de pessoas. Conforme informou o Caarapo News, um boletim de ocorrência de preservação de direito teria sido registrado na manhã de segunda-feira na Delegacia de Polícia Civil de Caarapó pelo proprietário da fazenda depois que um funcionário foi impedido por um grupo de índios de entrar na propriedade. Os índios estariam próximo à sede.
O Caarapó News informou ainda na segunda-feira, que na manhã de ontem, um grupo de produtores rurais de Caarapó "tentaria se aproximar do local para saber a real situação". A partir de então surgiram as informações do confronto.


Por meio de nota, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) lamentou a morte do agente de saúde indígena. "O jovem agente foi morto covardemente, por homens armados que atiraram em cerca de mil indígenas, incluindo quatro agentes de saúde indígena, que estavam reunidos no território próximo a aldeia, quando foram surpreendidos por homens armados, em aproximadamente 60 veículos (caminhonetes). Que Deus proteja e conforte todos os povos indígenas e familiares neste momento de dor", afirmou o secretário especial de saúde indígena do Ministério da Saúde, Rodrigo Rodrigues.