Atenta

Duas máscaras

25 MAI 2016 • POR • 06h00
O último ato que levou à cassação do ex-senador Delcídio Amaral, veio de Romero Jucá, o ministro do Planejamento que foi oficialmente exonerado ontem, terça-feira, 24, lembrou a Isto É. Acusado de tentar obstruir as investigações da Lava Jato, Delcídio teve sua cassação acelerada após uma cartada de Jucá, que apresentou um requerimento de urgência para a realização da votação. Agora, é o ministro quem foi flagrado em uma gravação tentando travar as mesmas investigações. Não foi ironia, apenas duas máscaras que caíram uma na sequência da outra.

##### É brincadeira


"Depois da gravação do Mercadante, Lula e Dilma e essa agora do Jucá, com todo respeito, a minha conversa é uma Disney, uma grande brincadeira", afirmou Delcídio, em referência aos recentes grampos que tornaram públicas supostas tentativas de impedir o funcionamento da Justiça.

##### Plano de fuga


Jucá sugere para Sérgio Machado uma mudança no governo para "estancar" a Lava Jato. Já Delcídio foi pego tramando um plano de fuga para o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró.

##### Pro saco


Para o ex-senador, a ação de Jucá foi muito mais explícita e comprometedora. "Ele fala de tudo, e por muito menos eu fui pro saco. Ele cogita uma mudança de governo para se fazer um pacto contra a Lava Jato. É absurdo!". Delcídio cobrou que seja feito o pedido de cassação de Jucá, que reassume seu cargo no Senado, mas que seja dado a ele o direito de defesa que, segundo Delcídio, ele próprio não teve.

##### Atuação solo


O ex-líder do governo Dilma no Senado também analisa que o diálogo entre Jucá e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado demonstra mais do que uma atuação solo, mas uma ação "institucionalizada".

##### Um pacto


"O que essas gravações provam é que há uma obstrução de justiça institucionalizada, à nível presidencial e no Legislativo. Uma obstrução de justiça em cima de um pacto que passa pelo afastamento de uma presidente, isso é muito grave!" Para o ex-senador, a gravação de Jucá transmite a ideia de que não havia argumento constitucional para o impeachment de Dilma e que os motivos eram outros.

##### Nem deveria


Delcídio não quis se comprometer em dizer se Jucá deveria ou não ser preso, dada a semelhança do caso com o seu. Mas apostou que o senador licenciado não volta mais ao Ministério. "Ele não devia nem ter sido nomeado", disse.

##### Curta passagem


O ex-senador relembrou que Jucá já teve outra curta passagem pelo posto de ministro, à frente da Previdência em 2005, na gestão Lula. Sob pressão de denúncias, ele deixou a pasta em menos de quatro meses. "Essa indicação também foi um equívoco e durou muito pouco. Romero, o Breve", brincou Delcídio.

##### Quem vê


Ao comparar seu crime com os dos outros o senador Delcídio tenta passar a impressão de que ele não fez absolutamente nada e teve o seu mandato cassado por nada. Quem vê até pensa. Um crime não conserta o outro. De coitadinho Delcídio não tem nada. Aliás, nenhum deles. Não existe nenhuma brincadeira nesta história porque ninguém brinca de cometer crime.


##### Com banqueiro


A Polícia Federal prendeu Delcídio do Amaral (PT-MS), então líder do governo no Senado tentando atrapalhar apurações da Operação Lava Jato junto com o banqueiro André Esteves, do banco BTG Pactual e o chefe de gabiente de Delcídio, Diogo Ferreira. Era tão "poderoso" que tinha até banqueiro a tira colo.

##### Na compra


As prisões foram legitimas, atendendo pedido da Procuradoria-Geral da República e autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Na época Delcídio foi preso por tentar dificultar a delação premiada de Cerveró sobre uma suposta participação do senador em irregularidades na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

##### Pelo filho


Segundo os autos Delcídio chegou até a oferecer fuga a Cerveró, para que o ex-diretor não fizesse a delação premiada. A prova da tentativa de obstrução foi uma gravação feita pelo filho de Cerveró mostrando a tentativa do senador de atrapalhar as investigações e de oferecer fuga para o ex-diretor não fazer a delação.

##### O poder


A procuradoria levantou que Delcídio chegou a oferecer R$ 50 mil mensais para Cerveró em troca de o ex-diretor não citar o senador na delação premiada. "Eu acho que nós temos que centrar fogo no STF agora, eu conversei com o Teori (Zavascki), conversei com o (Dias) Toffoli, pedi para o Toffoli conversar com o Gilmar (Mendes), o Michel (Temer) conversou com o Gilmar também, porque o Michel tá muito preocupado com o (Jorge) Zelada, e eu vou conversar com o Gilmar também", disse Delcídio. Era tão poderoso que tinha intimidade com todos os ministros do STF.

##### Nos itinerários


Para Janot, com a conversa, fica "induvidoso que essas pessoas não estavam medindo esforços para influir nos itinerários probatórios da Operação Lava Jato". Ao final da conversa, Delcídio se refere ao filho de Cerveró e afirma: Bernardo, esse é o compromisso que foi assumido, né? E nós vamos honrar". Em outro trecho da conversa entre Delcídio e o filho de Cerveró, o petista afirma que o "foco" deve ser tirar o ex-diretor da Petrobras da prisão. "Agora a hora que ele sair tem que ir embora mesmo", sugere o senador.

##### Rota de fuga


Logo depois, o filho de Cerveró disse ao petista que estava pensando em uma rota de fuga pela Venezuela e que o "melhor jeito" seria fugir em um barco. Pouco depois, Delcídio sugere, então, que a melhor rota de fuga seria pelo Paraguai. "Tem que pegar um Falcon 50 (modelo de avião), alguma coisa assim. Aí vai direto, vai embora. Desce na Espanha", afirma Delcídio. "Falcon 50, o cara sai daqui e vai direto até lá", complementa. Articulado, Delcídio já planejava até mesmo o modelo de avião que usaria na fuga. Quer mais grave que isso?. Isso era brincadeira?

##### Que frase!


"É preciso dizer a verdade apenas a quem está disposto a ouvi-la". (Sêneca).