POLITICA

Suspeita de corrupção enterra planos de André e ameaça PMDB

12 MAI 2016 • POR • 08h33
André na superintendência da PF em Campo Grande
Suspeita de corrupção que está sob investigação da Polícia Federal por meio da Operação Lama Asfáltica deve enterrar os planos políticos do ex-governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, e ameaça as candidaturas do PMDB em Campo Grande e no interior do Estado.

A Polícia Federal cumpriu na terça-feira (10) mandado de busca e apreensão no apartamento do ex-governador, fato que repercutiu negativamente na mídia local e nacional.

Apesar de negar o desejo de disputar à sucessão do prefeito da Capital, Alcides Bernal (PP), André Puccinelli estava se preparando para participar das eleições municipais de outubro motivado pela iminente ascensão do vice-presidente Michel Temer (PMDB/SP), que deve assumir o comando do Palácio do Planalto a partir da aprovação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

As investigações contra o líder peemedebista no Estado, que nega as acusações, também colocam em xeque outras candidaturas na Capital e no interior.

Com a ausência de André Puccinelli, o PMDB perder força, já que outros nomes lembrados no partido também têm restrições.

O deputado federal Carlos Marun, por exemplo deve perder espaço depois do afastamento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), para quem ele fez forte lobby na Casa em favor de sua "blindagem", ganhando inclusive destaque na mídia nacional dado ao sua dedicação para salvar a pele do correligionário.

Os senadores Waldemir Moka e Simone Tebet também são lembrados no PMDB como opções de candidatura, no entanto, já deixaram claro que não têm interesse na disputa.

OPERAÇÃO

A Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão no apartamento do ex-governador, no início da manhã de terça. Policiais ficaram no imóvel, localizado no Jardim dos Estados, bairro nobre de Campo Grande, por aproximadamente duas horas e saíram de lá com malotes.

A ação faz parte da 2ª fase da Operação Lama Asfáltica, denominada Fazendas de Lama. Segundo a PF, os alvos são investigados por suspeita de envolvimento em corrupção em obras públicas. Os contratos sob investigação envolvem mais de R$ 2 bilhões.

André Puccinelli foi à Superintendência da PF logo depois que policiais e servidores da CGU (Controladoria-Geral da União) saíram do apartamento dele. Acompanhado do advogado Rene Siufi, o ex-governador disse que foi "espontaneamente" ao local.

O ex-governador chegou à Superintendência da PF cerca de uma hora depois dos policiais terem deixado o apartamento dele. Ele falou que quando os servidores federais chegaram, ele dormia.

O político também disse à imprensa que desconhece o que os policiais pegaram na casa dele, que não tem o que esconder e que "é bom que a verdade apareça".

Participam da ação, além de policiais, servidores da CCU (Controladoria Geral da União) e Receita Federal. Mandados estão sendo cumpridos em Campo Grande, Rio Negro (MS), Curitiba, Maringá (PR), Presidente Prudente (SP) e Tanabi (SP).

Até a publicação desta reportagem, mandados já tinham sido cumpridos também na casa do empresário João Amorim, na do ex-secretário de obras de Mato Grosso do Sul, Edson Giroto, e na residência da secretária de Amorim, Elza Amaral. Todos em Campo Grande.

Elza e Amorim chegaram à Superintendência da PF, na capital sul-mato-grossense, em viaturas. Policiais desceram no local com malotes.

Conforme a PF, o objetivo desta etapa da operação Lama Asfáltica é cumprir 28 mandados de busca e apreensão, 15 de prisão temporária e 24 mandados de sequestro de bens de investigados. Participam da ação 201 policiais federais, 28 da Controladoria Geral da União e 44 da Receita Federal.

CORRUPÇÃO

Os investigados teriam adquirido propriedades rurais com recursos públicos desviados de contratos de obras, de fraudes em licitações e ainda de recebimento de propinas, resultando também em crimes de lavagem de dinheiro.

As investigações sobre o suposto esquema de corrupção teve início em 2013. Na primeira fase da apuração, foi verificada a existência de um grupo que, por meio de empresas em nome próprio e de terceiros, superfaturaram obras contratadas com a administração pública, mediante corrupção de servidores públicos e fraudes a licitações, ocasionando desvios de recursos públicos.

LAVAGEM DE DINHEIRO

Em análise a material apreendido na primeira fase da operação, a CGU e a Receita Federal verificaram indícios de lavagem de dinheiro, inclusive decorrentes de desvio de recursos públicos federais e provenientes de corrupção passiva, com a utilização de mecanismos para ocultação de tais valores, como aquisição de bens em nome de terceiros e saques em espécie.

Segundo a polícia, o grupo investigado atua no ramo de pavimentação de rodovias, construções e prestação de serviços nas áreas de informática e gráfica.

PRIMEIRA FASE

No último mês de fevereiro, o MPE-MS (Ministério Público do Estado), denunciou 40 pessoas por envolvimento em corrupção em obras públicas de Mato Grosso do Sul. Esses denunciados tinham sido investigados pela PF. Na época, R$ 84 milhões em bens foram bloqueados.

A operação Lama Asfáltica foi deflagrada em 9 de julho, cumprindo 19 mandados de busca e apreensão em residências de investigados e em empresas que tinham contratos com o poder público. A PF e a Receita Federal também foram à Secretaria de Estado de Infraestrutura.

De acordo com o secretário estadual de Governo e Gestão Estratégica, Eduardo Riedel, quatro servidores foram afastados na época.

Na lista de obras investigadas na primeira fase estão o Aquário do Pantanal e as rodovias MS-171, MS-228 e MS-187. Todas foram executadas na administração de André Puccinelli. Na época, a assessoria do ex-governador informou que "todas as contratações seguiram rigorosamente a legislação vigente e aplicável ao caso" e "os pagamentos efetuados foram feitos após verificação dos fiscais de cada uma das obras.