CIÊNCIA

Cientistas encontram primeiro coração fossilizado

29 ABR 2016 • POR Do Progresso • 10h53
Imagem de tomografia do peixe fóssil e de seu coração feitas por laboratório de luz síncroton na França. - Foto: Divulgação
Fósseis são vestígios de animais que viveram na Terra há muito tempo. O mais comum é encontrar ossadas e pegadas, que não são decompostas por bactérias. Descobrir um órgão completo de animal fossilizado pode trazer contribuições fundamentais para pesquisas como a do biólogo José Xavier-Neto, que estuda como o coração evoluiu ao longo do tempo.

O primeiro coração fóssil foi encontrado em rochas da bacia do Araripe, sítio geológico localizado no Ceará. A descoberta já teve impactos em áreas da biologia e da medicina, para o entendimento da evolução na anatomia do coração e perspectivas para a cura de doenças cardíacas em humanos.

Completamente preservado, o coração pré-histórico é do peixe Rhacolepis buccalis, que existiu entre 113 e 119 milhões de anos atrás. Essa espécie de peixe, que media cerca de 15 centímetros, foi extinta há muito tempo. Após dez anos de investigações, a descoberta foi publicada na revista científica britânica eLife deste mês.

Uma equipe que envolveu 12 instituições brasileiras e estrangeiras, coordenada pelo Laboratório Nacional de Biociências (LNBIo), em Campinas (SP), reproduziu o coração em tamanho real e em imagens em três dimensões, a partir de tomografias feitas em 63 fósseis por um laboratório de luz síncroton, na França.

Os corações descobertos possuem cinco válvulas, em vez de apenas uma, como a dos peixes atuais. "Isso explica um mistério de 100 anos, que é o das válvulas da saída do coração", afirma Xavier-Neto ao site do Uol. Já era conhecido pela ciência que corações de animais primitivos possuíam dezenas de válvulas. O órgão fossilizado apresenta uma morfologia intermediária entre peixes primitivos e atuais.

O grupo de Xavier-Neto combina pesquisas sobre evolução com investigações em biologia do desenvolvimento para tentar desenvolver novos tratamentos cardíacos.

Essa abordagem visa entender como as características adquiridas no processo evolutivo são materializadas durante a formação dos embriões. No futuro, a compreensão desses fenômenos poderá possibilitar intervenções cardíacas complexas, como a restauração de válvulas do coração durante a gestação e o desenvolvimento de estruturas cardíacas a partir de células tronco.

Órgãos fósseis são raros

Há certos depósitos raros de fósseis em que os animais, no momento da morte, foram soterrados de forma rápida e em condições químicas especiais, que dificultaram ou impediram a decomposição. Assim, os tecidos do organismo são preservados. É o que ocorre quando corpos são encobertos em deslizamentos de terra ou envoltos por resinas, como o âmbar, que envolve um inseto pré-histórico no filme "Parque dos Dinossauros".

A bacia do Araripe, onde o coração fóssil foi encontrado, é formada por sedimentos do período cretáceo, compreendido entre 145 milhões e 66 milhões de anos atrás. No local, já foram encontrados fósseis bem preservados de dinossauros, répteis e anfíbios.