Política

Delcídio afirma que Lula comandava esquema de corrupção e Dilma sabia

21 MAR 2016 • POR • 06h00
Senador licenciado afirmou ainda que o ex-ministro da Justiça do governo Dilma e atual advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, usava o cargo para vazar informações. - Foto: Divulgação
O senador licenciado, Delcídio Amaral, ex-líder do governo, disse em entrevista à revista Veja, edição deste fim de semana, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comandava o esquema de corrupção da Petrobras e que a presidente Dilma Rousseff "sabia de tudo".



Durante delação, Delcídio afirmou que Lula tinha certeza que a Dilma e o José Eduardo Cardozo tinham um acordo cujo o objetivo era blindá-la contra as investigações. "A condenação dele seria a redenção dela, que poderia, então, posar de defensora intransigente do combate à corrupção", afirmou o senador à revista. Segundo Delcídio, Dilma entendia que nada aconteceria a ela.


Delcídio afirma que o ex-presidente Lula tentou interferir logo nos primeiros passos da Lava Jato.
"Na primeira vez que o Lula me procurou, eu nem era líder do governo. Foi logo depois da prisão do Paulo Roberto Costa [ex-diretor da Petrobras]. Ele estava muito preocupado. Sabia do tamanho do Paulo Roberto na operação, da profusão de nogócios fechados por ele e o amplo leque de partidos e políticos que ele atendia. O Lula me disse assim: ‘é bom a gente acompanhar isso aí. Tem muita gente pendurada lá, inclusive do PT’. Na época, ninguém imaginava aonde isso ia chegar", disse Delcídio.


O senador diz, ainda, que a presidente teria começado a trabalhar ao lado de Lula para frear a Lava Jato no ano passado. O reporter pergunta: O que fez a presidente mudar de postura?


Delcídio responde: "O cerco da Lava Jato ao Palácio do Planalto. O petrolão financiou a reeleição da Dilma. O ministro Edinho Silva, tesoureiro da campanha em 2014, adotou o achaque como estratégia de arrecadação. Procurava os empresários sempre com o mesmo discurso: ‘Você está com a gente ou não está? Você quer ou não quer manter seus contratos?’. A extorsão foi mais ostensiva no segundo turno. O Edinho pressionou Ricardo pessoa, da UTC, José Antunes, da Engevix, e Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez. Acho que Lula e Dilma começaram a ajustar os ponteiros em meados do ano passado. Foi quando surgiu a ideia de nomeá-lo ministro", informou.


Na entrevista, Delcídio afirmou ainda que o ex-ministro da Justiça do governo Dilma e atual advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, usava o cargo para vazar informações. "Cardozo faz o jogo que interessa a Dilma. Ele tinha acesso a informações privilegiadas e passava essas informações para Dilma. Vazava para ela operações que seriam realizadas pela Lava Jato. Cardozo soube com antecedência da condução coercitiva de Lula e alertou os principais interessados. Foi por isso que ele vazou um dia antes da minha delação premiada. Ele sabia que uma coisa abafaria a outra", prosseguiu Delcídio.


O senador contou que Lula pediu ajuda para definir uma estratégia de defesa na Lava Jato. "Lula havia me convocado para ir a São Paulo, junto com os senadores Renan Calheiros e Edison Lobão, para discutir estratégias de defesa na Lava Jato. Viajamos num jato e dividimos a conta. A minha parte eu paguei com cheque. Chegamos de volta a Brasília na madrugada de sábado. Fomos até fotografados, sem saber, no terminal 2 aeroporto. A foto foi publicada na internet com a legenda ‘o que Renan, Delcídio e Lobão faziam nesta madrugada no aeroporto de Brasília?’ ".


Em determinado momento da entrevista, o repórter da revista pergunta se Dilma "tem o poder de mudar votos no Supremo Tribunal Federal. Delcídio responde: "Dilma costumava repetir que tinha cinco ministros no STF. Era clara a estratégia do governo de fazer lobby nos tribunais superiores e usar ministros simpáticos à causa para deter a Lava Jato", afirmou o senador.


A Presidência da República acusa Delcídio de seguir uma estratégia de vingança contra os que não agiram para evitar que ele fosse mantido preso, acusado de tentar obstruir as investigações.