José Carlos de Oliveira Robaldo

O “nós e eles”

10 MAR 2016 • POR • 08h49
José Carlos de Oliveira Robaldo

É bem provável que ainda esteja muito vivo na memória de muitos a insistência da então candidata à reeleição Dilma Rousseff, em separar os brasileiros entre "nós e eles". "Eles", por óbvio, eram não só os seus opositores, como todo e qualquer eleitor que não fosse seu simpatizante. "Eles" era o rótulo dado àqueles que eram "contra os interesses do Brasil". Ou seja, "nós somos do bem e eles do mal". Orientação essa, provavelmente, arquitetada pelo seu marqueteiro João Santana. A verdade é que a estratégia, conquanto maquiavélica, acabou dando certo. Venceu-se a eleição, ainda que com pequena margem, e deu no que deu.


Essa mesma metodologia de separação voltou à tona. Os críticos do atual governo passaram a ser taxados de "elite brasileira/conservadores". Chegou-se ao ponto de a própria presidente, quase que em um ato desesperador, afirmar que a "oposição está dividindo o país".


A propósito, em 31/10/2015, a Folha de S. Paulo, no Painel do Leitor, publicou um texto em que afirmamos que "ainda prevalece o velho conceito de elite: classe dominante, aquela que detém o poder, inclusive o econômico, e mora nos Jardins. Seria dessa elite que Rui Falcão se refere ao dizer que ‘Lula é o maior líder popular do país e resiste, hoje, a mais sórdida campanha que as elites e sua imprensa já fizeram contra um brasileiro?’ A imprensa tem noticiado que os filhos do Lula residem em umas das zonas residenciais mais valorizadas do país (Jardins). Ou se muda o discurso ou o conceito de elite".


Apenas para lembrar, à época, ainda não tinham vindo à tona, ao menos na proporção atual, as notícias de Atibaia, Guarujá, São Bernardo do Campo, etc.


O país está sem rumo e muito próximo do final do túnel. A cada dia - com delações e mais delações envolvendo direta e indiretamente o governo central - a situação fica ainda mais complicada. Isso tudo sem considerar as delações bombásticas que a imprensa e certos especialistas vêm prevendo. Punições ao lado da recuperação de altos valores surrupiados estão acontecendo. Contudo, o tsunami que esse quadro vem provocando na saúde da economia brasileira é arrasador. Inflação, desemprego, empresas fechando as portas, arrecadação em declínio assustador, etc. O quadro é tão complicado que o dólar caiu e a bolsa subiu. Seria por conta de medidas do Ministério da Economia ou em razão da condução coercitiva de Lula, ex-presidente da República? Seria isso a judicialização da econômica?


No entanto, qualquer constatação crítica nesse sentido ofende o governo e seus aliados, principalmente o PT e o PC do B e as críticas recaem sobre a "elite brasileira", que é na realidade quem produz, gera riqueza e consequentemente receita tributária e emprego.


Esquece-se, todavia, que a insatisfação com os rumos dados pelo governo ao país vem não só das classes produtoras, mas também da população de modo geral (consumidora). Basta atentar para as pesquisas, sobretudo de rejeição do atual governo. O que significa, com efeito, que se ampliou o conceito de elite/conservador. Reclamou, é elite!


A insatisfação é generalizada incluindo nesse rol pessoas com ideologias as mais variadas possíveis. O quadro inquestionavelmente está caótico, não é revanche de oposição e nem de conservador. O estômago fala mais alto! Seriam conservadores/direitistas: Almino Affonso, Hélio Bicudo, Flávio Bierrenbach, José Carlos Dias, José Gregori, entre outros?


Se de fato o governo Dilma tivesse humildade e reconhecesse os seus erros, poderia "ter feito um Pacto pelo país, incluindo líderes de oposição, logo após a reeleição", como afirmou Pezão, governador do Rio de Janeiro (Folha de S. Paulo, p. A9, 08.3.2016). Isso não aconteceu e infelizmente não há mais clima para tanto.
O titanic, pelas previsões, afunda em no máximo 6 meses. Culpa da elite (eles)!


Procurador de Justiça aposentado. Advogado. Mestre em Direito Penal pela UNESP. Professor universitário. e-mail: jc.robaldo@terra.com.br