Forças de segurança do Bahrein teriam disparado nesta sexta-feira (18) contra manifestantes contrários ao governo que teriam tentando voltar a ocupar a Praça Pérola, no centro da capital, Manama, segundo testemunhas e ativistas de oposição.
Os ataques, que provocaram cenas de pânico e caos, ocorreram no mesmo dia em que os manifestantes participavam dos funerais de quatro vítimas de confrontos com a polícia nos últimos dias.
Dezenas ficaram feridos nos confrontos. Profissionais da área médica disseram que pelo menos 25 ficaram machucados.
O príncipe Salman Bin Hamad Al Khalifa, filho do rei do Bahrein, fez um pronunciamento em rede nacional de TV prometendo o início de um diálogo nacional assim que a calma volte ao país.
Khalifa, que também é o vice comandante supremo do Exército, pediu a todos os manifestantes que deixem as ruas.
#####Funeral
O funeral de duas vítimas - dois homens, de 20 e 50 anos - ocorreu em um bairro xiita de Manama. Os caixões foram envoltos em bandeiras do país e levados em cortejo pelas ruas do bairro.
A multidão presente gritava pedindo \'justiça, liberdade e monarquia constitucional\'. Alguns disseram que estavam dispostos a sacrificar suas vidas para derrubar o governo.
\'Haverá violência, haverá confrontos\', disse à BBC um manifestante que se identificou como Sayed. \'Bahrein está passando por um túnel escuro.\'
Os manifestantes tentaram chegar a um hospital onde outros ativistas feridos estão internados. Mas, no caminho, passaram perto da Praça da Pérola - que tinha sido isolada pelo Exército, depois que os soldados expulsaram na quinta-feira manifestantes que lá estavam acampados - e aí foram atingidos.
Uma testemunha disse ao canal de televisão Al-Jazeera que as autoridades não deram aviso antes de atirar.
\'Eles simplesmente começaram a atirar contra nós. Agora há mais de 20 feridos no hospital. Um rapaz morreu, foi baleado na cabeça\', disse a testemunha.
#####\'Massacre\'
O mais importante clérigo xiita do país, xeque Issa Qassem, descreveu os ataques contra os manifestantes como um \'massacre\' e disse que o governo do Bahrein tinha fechado a porta para o diálogo.
Enquanto ele fazia seu sermão durante as orações de sexta-feira, os manifestantes gritavam \'vitória para o Islã\' e \'morte para Al Khalifa (a família real)\' e \'somos seus soldados\'.
Na quinta-feira, os Estados Unidos pediram comedimento ao governo bairenita na reação aos protestos. O pequeno país, com menos de um milhão de habitantes, é um aliado importante do governo americano na região - é lá que fica a base da Quinta Frota Naval dos Estados Unidos, responsável por operações em uma vasta área que inclui o Golfo Pérsico e o Mar da Arábia.
Desde sua independência da Grã-Bretanha, em 1971, o Bahrein tem registrado tensões entre a elite sunita e a maioria xiita, que se diz marginalizada e reprimida.
Agora, essas tensões ganharam força em meio à atual onda de levantes nos países árabes e muçulmanos, que já levaram à renúncia dos presidentes da Tunísia e do Egito.
O uso da força militar nos protestos recentes colocou a família real de Bahrein em rota direta de confronto com os xiitas, que compõem a maioria dos manifestantes, relata o correspondente da BBC no Oriente Médio Jon Leyne.
(G1)