
A primeira é o empenho militar francês no combate ao Estado Islâmico (EI) na Síria, Iraque e Líbia. "Embora até o presente momento ainda não saibamos se foi um atentado reivindicado pelo EI, pois ainda não há reivindicação, sabemos que alguns grupos ligados ao EI já se congratularam nas redes sociais por este atentado", afirmou à Agência Brasil.
A segunda razão, de acordo com a professora, é que a França tem grandes comunidades de jovens que estão "desenraizados" e que são mais facilmente cooptados por grupos terroristas. "Os atentados em Bruxelas e em Paris foram cometidos por europeus, jovens que vivem na Europa, e que foram radicalizados no continente europeu", afirma.
Para o português Felipe Pathé Duarte, professor universitário e membro do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), o problema é social e político. "No caso específico da Europa, [são] jovens com 20 e poucos anos e com problemas sociais e políticos que vão beber dessa ideologia [jihadismo]. É um problema social e político", afirma o professor.
Para Duarte, é um engano relacionar terrorismo à questão religiosa. "Estamos falando de uma ideologia reacionária, violenta, enquadrada por questões religiosas, sem dúvida, mas é uma ideologia política, que procura tomar o poder. Não é salvar almas, é tomar o poder. Mas [os jihadistas] falam utilizando uma retórica religiosa".
Data nacional
Para Mónica, o ataque da noite de ontem (14), em Nice, no dia quando se comemora a Queda da Bastilha, foi simbólico. "É o dia nacional, dia no qual a França afirma liberdade, igualdade e fraternidade. É um ataque ao coração dos valores da nossa civilização, da forma como nós nos organizamos em sociedade. E a França é fonte inspiradora desses direitos e isso faz deles um alvo muito importante".
Felipe Pathé Duarte é autor do livro Jihadismo Global: das palavras aos actos e afirma que um dos grandes desafios atuais é acompanhar e monitorar o movimento de radicais que potencialmente poderão vir a ser violentos.
Repercussão
Quanto à dramaticidade e impacto dos ataques a locais públicos, como foi o caso do atentando de ontem, Duarte explica que a repercussão é amplificada pelo caráter aleatório da ação. "Quando há uma carnificina, qualquer pessoa pode ser eliminada desde que esteja passando no local, isso automaticamente aumenta o sentimento de insegurança", diz.
Em relação aos ataques realizados em aeroportos, como foi o caso de Istambul, no fim do mês passado, Duarte explica que estes locais são os chamados soft targets, onde a segurança efetiva é extremamente complexa por serem pontos de intenso fluxo de pessoas.
"Nos soft targets, a fluidez de pessoas é permanente. O fluxo é enorme e é impossível monitorar todas as pessoas. Se nós quisermos escrutinar individualmente todas essas pessoas, o fluxo diminui. Então, a essência daquela plataforma, que é o fluxo permanente de pessoas, é posta em questão em nome da segurança", argumenta o professor Duarte.
Segundo o especialista, há a insegurança e o sentimento de insegurança. E os dois nem sempre caminham juntos. Desta forma, a presença policial é fundamental, por ser um fator dissuasório e por aumentar o sentimento de segurança das pessoas. No entanto, o policiamento não pode ser excessivo a ponto de violar direitos, liberdades e garantias individuais.
Deixe seu Comentário
Leia Também

Internacional
Robô Perseverance pousa hoje em Marte, na busca por sinais de vida
18/02/2021 07:34

Internacional
Tempestade de neve atinge os EUA; milhões estão sem eletricidade
17/02/2021 08:42

Cotidiano
Israel testa remédio barato que salvou dezenas de pacientes graves com covid-19
09/02/2021 09:15

Moda
Tecidos feito à base de cacto e de bactérias substituem o couro animal
03/02/2021 09:17

Mundo
Larry King, apresentador, morre aos 87 anos
23/01/2021 14:05