Em um discurso ao Conselho de Segurança da ONU nesta segunda-feira, a coordenadora humanitária e de reconstrução para Gaza, Sigrid Kaag, destacou a gravidade da crise humanitária em Gaza e fez um apelo urgente por um cessar-fogo imediato, proteção dos civis e acesso humanitário.
Kaag pediu um cessar-fogo imediato e a liberação de todos os reféns e criticou a falta de proteção efetiva para os civis na região, enfatizando que infraestrutura para a sobrevivência deve ser protegida e que as partes do conflito devem cumprir o direito internacional humanitário.
Muitos habitantes de Gaza estão vivendo em abrigos temporários devido ao conflito - Foto: ©Unrwa
Um ano de crise
Quase um ano após o início da crise no enclave, ela avaliou a situação na região como um "abismo humanitário". Desde o início do conflito, mais de 41 mil palestinos foram mortos e cerca de 93 mil ficaram feridos.
Kaag ressaltou que 625 mil crianças permanecem fora da escola e a infraestrutura de saúde em Gaza foi severamente impactada.
Como parte de seu mandato, ela apontou a recente campanha de vacinação contra a pólio na Faixa de Gaza, que foi possível mesmo em meio à violência. Apesar de pausas temporárias nos combates permitirem avanços como a vacinação, Kaag ressaltou que é necessária uma vontade política real para implementar soluções duradouras.
Linhas de abastecimento
Segundo Kaag, a missão vem negociando rotas alternativas de abastecimento para Gaza através dos vizinhos Egito, Jordânia, Chipre, Cisjordânia e Israel. No entanto, Kaag afirmou que essas medidas ainda não são suficientes para atender às necessidades da população, devido à continuidade dos conflitos, ao colapso da lei e da ordem e aos saques de suprimentos.
Apesar dos esforços da ONU para melhorar as condições em Gaza, Kaag concluiu que a única solução sustentável é um acordo político. Ela apelou à comunidade internacional para responder à crise com compaixão e humanidade, reafirmando o compromisso com uma paz duradoura que assegure um Israel seguro e um Estado palestino independente e viável.
Kaag enfatizou que a ajuda humanitária é apenas uma solução temporária e que uma paz justa e duradoura só pode ser alcançada por meio de uma solução de dois Estados. Ela pediu a retomada das responsabilidades da Autoridade Palestina em Gaza e enfatizou a necessidade de iniciar a reconstrução da região, garantindo a participação da sociedade civil palestina e do setor empresarial local.
Crianças coletam água na Faixa de Gaza - Foto: © Unrwa
Vontade política
Na sequência, o diretor executivo do Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos, Unops, Jorge Moreira da Silva, reforçou que o abastecimento suficiente do enclave só será possível com vontade política, embora grandes esforços estejam sendo feitos por diversas entidades da ONU.
Silva destacou as negociações para agilizar a entrega de ajuda humanitária no enclave por meio do mecanismo implementado em maio deste ano. Segundo ele, desde sua ativação, 229 remessas de ajuda humanitária solicitaram liberação com 175 sendo aprovadas, 101 foram entregues, 17 estão pendentes e 37 foram rejeitadas.
Ele explica que são mais de 22 mil toneladas métricas de carga de ajuda humanitária entregues a Gaza por meio da facilitação do mecanismo, sendo 20 mil toneladas de alimentos e nutrição. Houve cerca de 1 mil toneladas de remessas de abrigo, aproximadamente 400 toneladas de suprimentos de higiene e mais de 170 toneladas de ajuda médica.
Ele concluiu seu discurso ressaltando os desafios da resposta humanitária em Gaza neste momento e adicionando que o projeto e a implementação do mecanismo são imensamente importantes.
Para Moreira da Silva, o fornecimento eficaz de ajuda na escala necessária simplesmente não será possível sem vontade política, garantias indispensáveis de segurança e proteção e ambiente propício.