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Nascem na África do Sul primeiros leões concebidos por inseminação artificial

10 Nov 2018 - 09h02Por da Redação
Nascem na África do Sul primeiros leões concebidos por inseminação artificial - Crédito: Reprodução/Instagram Centro de Conservação de Ukula... Crédito: Reprodução/Instagram Centro de Conservação de Ukula...

Embora à primeira vista pareçam somente filhotes, Victor e Isabel, dois leões sul-africanos de dois meses, são considerados um pequeno marco da ciência: graças a um projeto da veterinária espanhola Isabel Callealta, são os primeiros do mundo a nascer após serem concebidos por inseminação artificial.

Os filhotes vivem em Brits, no Centro de Conservação Ukutula, uma reserva privada a cerca de 70 quilômetros de Pretória.

No local, Callealta, estudante de doutorado na Universidade de Pretória, trabalha em uma pesquisa sobre reprodução de felinos selvagens.

Como uma brincadeira e homenagem dos funcionários do centro, os dois leões acabaram sendo batizados com seu nome e o de seu companheiro.

"Não são leões de proveta, já que não usamos técnicas in vitro", disse à Agência Efe esta madrilena de 34 anos, para explicar o que faz estes dois filhotes serem únicos.

Os protocolos desenvolvidos por Callealta - com a supervisão de dois professores da universidade - representam uma alternativa não cirúrgica às vias de fecundação usadas até agora, muito mais invasivas porque geravam os embriões "fora" do animal.

"Isto quer dizer que não é necessário submeter o animal a uma cirurgia para aplicar a técnica, mas, certamente, temos que fazer com sedação porque estamos falando de leões", brinca.

Explicado de forma simplificada, o sêmen de um leão macho é recolhido, a fêmea anestesiada e o líquido introduzido nela com um cateter, o que para os animais significa reduzir o tempo de sedação, cuidados pós-operatórios e efeitos secundários.

Até agora, a inseminação artificial em leões tinha registrado só dois casos bem-sucedidos, mas esta é a primeira vez que os filhotes nasceram de fato.

"Há muitos fatores que fazem o processo ser muito complicado. No geral, os felinos são espécies solitárias e, se analisarmos uma espécie em um centro de cativeiro, vai ter no máximo um ou dois indivíduos da mesma espécie. Porém, em pesquisa sempre é necessário um número alto (de amostras) para que os resultados sejam confiáveis", diz a especialista.

"São necessários muitos recursos, muito dinheiro e muita gente trabalhando nisso - acrescenta. No entanto, há poucos estudos e os que existem são com poucos animais. Podemos dizer que não foi possível realizar tal feito antes porque não era possível provar que daria certo".

Ao contrário de outros animais, como as vacas e os humanos, os felinos ovulam geralmente só quando há um macho perto ou, mais especificamente, quando há copulação.

"Se os inseminamos não há copulação, por isso não vão ovular naturalmente. Não só é preciso desenvolver um protocolo de inseminação artificial, mas, além disso, é preciso desenvolver um para fazê-los ovular", indica Callealta.

"Parece algo simples introduzir o sêmen em uma fêmea, mas há diversos passos dos quais ainda não se sabe nada e é preciso ir devagar", acrescenta.

O fato de os leões serem menos solitários porque vivem em manada e a possibilidade de estudá-los em um centro como Ukutula foi um bom ponto de partida, embora a pesquisadora não limite sua investigação ao "rei da selva".

"Queremos usar este protocolo como ponto de partida para outras espécies que precisam mais neste momento. Os leões são considerados hoje uma espécie vulnerável, mas muitas outras espécies de felinos selvagens ameaçados estão em uma situação ainda mais crítica", diz a cientista.

A população de leões cresce lentamente na África do Sul graças às reservas naturais nacionais e privadas, mas é uma exceção enquanto no resto do mundo os números retrocedem.

Estima-se que a população mundial, que em torno de 1800 era de 1,2 milhão de exemplares, caiu 98% nos últimos dois séculos.

Os pequenos Victor e Isabel foram o resultado de mais de um ano e meio de pesquisa.

"Foi muito emocionante ver que funcionava, mas ao mesmo tempo é uma grande responsabilidade. Significa que realmente é possível fazer, e que temos que continuar trabalhando para que funcione todas as vezes que testarmos e não só uma vez", afirma.

Uma vez consolidadas, as técnicas de Callealta poderiam ser aplicadas em espécies mais inacessíveis, solitárias e ameaçadas, como tigres e leopardos.

"A reprodução assistida e, especificamente, a inseminação artificial não é a única solução que vai salvar todas as espécies do planeta da extinção. Mas é uma ferramenta a mais que podemos usar para ajudar", conclui a veterinária.

 

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