Segundo eles, se o atual premiê, Saad al-Hariri, não conseguir manter uma maioria de parlamentares, poderá ver o Hezbollah e seus aliados mobilizando suas forças para formar um novo bloco majoritário no Parlamento.
De acordo com Paul Salem, diretor do Centro Carnegie para o Oriente Médio em Beirute, a questão estará centrada no líder druso Walid Jumblat, que já fez parte da coalizão governista liderada por Hariri, mas que desde 2009 vem se alinhando mais próximo à oposição.
\'Se Jumblat e seus parlamentares decidirem se juntar à oposição, o Hezbollah e seus aliados passarão a ter uma maioria no Legislativo do país e poderão indicar um novo premiê para formar um gabinete\', disse Salem.
Investigação
O governo de unidade nacional do Líbano entrou em colapso na quarta-feira depois que os 11 ministros - a maioria deles do grupo político e militar Hezbollah e seus aliados - anunciaram que estavam deixando o gabinete de 30 ministros liderado por Hariri.
A decisão de renunciar foi tomada após informações de que Saad Hariri recusou um pedido para que o gabinete fosse reunido com o objetivo de discutir a investigação do Tribunal Especial das Nações Unidas (ONU) sobre o assassinato de seu pai, o ex-premiê Rafik Hariri, em 2005.
Para outro analista, Sami Salhab, professor de Direito da Universidade Libanesa, o presidente Michel Suleiman terá que agir com habilidade para resolver a crise, achando um ponto comum aos diferentes grupos políticos por causa das desavenças em torno do tribunal da ONU.
\'Nós veremos agora um remanejo no cenário político libanês, novas alianças e jogadas políticas. E a oposição tem, certamente, aliados sunitas e poderia indicar para o posto de premiê\'.
Governistas
O Líbano vive uma crise política que se arrasta há vários meses em torno do tribunal da ONU e o possível indiciamento de membros do Hezbollah, acusando-os de envolvimento na morte de Hariri. A corte ainda não divulgou oficialmente a data para apresentar seus resultados, mas especula-se que estes devem sair nos próximos dias.
O grupo xiita nega participação no atentado à bomba que matou o ex-premiê e qualificou o tribunal de ser \'politizado\' e de servir aos interesses de Estados Unidos e Israel.
Nos últimos meses, Síria e Arábia Saudita tentaram buscar uma saída para o impasse, mas os dois países anunciaram na terça-feira que seus esforços haviam falhado.
Para Salhab, o bloco governista de Hariri terá que reavaliar suas estratégias se não quiser perder seu poder.
\'Eles sabem que um governo liderado pelo Hezbollah irá colocar o Líbano em uma situação complicada junto aos países ocidentais. E sem contar que isso aumentaria a tensão com Israel\'.
Em tese, dizem os analistas, o presidente deverá indicar um governo provisório até a formação de um novo gabinete. No entanto, eles alertam que é possível que os dois blocos não consigam mobilizar os votos necessários para que indicar um novo líder de governo.
\'Aí teríamos um cenário em que o governo provisório poderia durar até 2013, quando haverá novas eleições parlamentares\', disse Paul Salem.
Violência
Segundo Sami Salhab, as negociações podem levar meses, mas a oposição fará uma mobilização popular para atingir seus objetivos e pressionar os governistas.
\'A oposição deve, em breve, organizar grandes protestos, usando pretextos econômicos e sociais semelhantes aos protestos entre 2006 e 2007, quando as instituições ficaram paralisadas\', falou ele.
Nas ruas, a população libanesa teme que a crise possa levar aos confrontos armados semelhantes aos de 2008, quando facções governistas e militantes do Hezbollah e seus aliados se enfrentaram em Beirute, quase levando o país a uma guerra civil.
Apesar do medo geral, os dois analistas alertam que violência e confrontos armados nas ruas entre militantes das facções políticas rivais não deve ocorrer num futuro próximo.
\'Os dois lados querem evitar confrontos porque levariam o país a um estado mais crítico e que poderia fugir ao controle. Mas se não sair uma solução política para a crise, um cenário de violência pode acontecer mais adiante\', dise Salem.
(G1.com)