As negociações climáticas em Baku, Azerbaijão, nesta quarta-feira, tiveram como foco a crescente demanda por minerais essenciais para a produção de veículos elétricos e painéis solares. Esse é considerado um dos temas centrais da 29ª Conferência da ONU sobre Mudança Climática, COP29.
Numa reunião de alto nível convocada pelo próprio secretário-geral da ONU, António Guterres, ele afirmou que a transição energética precisa estar “no rumo da justiça”.
Corrida gananciosa
Guterres ressaltou que “com muita frequência, os erros do passado são repetidos em uma corrida gananciosa que esmaga os pobres”.
A procura por minerais essenciais para a transição tende a aumentar, caso os governos cumpram a promessa de triplicar a capacidade global de energias renováveis até 2030 e eliminem gradualmente os combustíveis fósseis.
Para Guterres, a luta por recursos está fazendo com que “comunidades sejam exploradas, os direitos pisoteados e o meio ambientes destruído.”
O líder da ONU destacou ainda que para os países em desenvolvimento - ricos nesses recursos -, esta deve, ao contrário, se tornar uma grande oportunidade de gerar prosperidade, eliminar a pobreza e impulsionar o desenvolvimento sustentável.
No entanto, os países de renda média e baixa estão “sendo colocados no final das cadeias de valor, enquanto outras nações enriquecem com os seus recursos”.
Mercúrio é extraído manualmente nas Filipinas - Foto: UNEP/Veejay Villafranca
Tornando as cadeias de valor mais justas
Em resposta aos apelos dos países em desenvolvimento, o secretário-geral da ONU criou o Painel sobre Minerais Críticos para a Transição Energética.
A iniciativa, lançada na COP passada, nos Emirados Árabes Unidos, tem por objetivo reunir governos, organizações internacionais, indústria e sociedade civil para desenvolver princípios comuns e voluntários que guiem as indústrias extrativas “em prol da justiça e da sustentabilidade”.
O último relatório do Painel identifica sete princípios voluntários e cinco recomendações práticas para incorporar justiça e equidade em todas as cadeias de valor de minerais essenciais.
Guterres explicou que eles servem para capacitar comunidades, criar responsabilidade e garantir que a energia limpa “impulsione o crescimento equitativo e resiliente”.
Isso inclui promover ações para garantir que “o máximo valor seja adicionado em países em desenvolvimento ricos em recursos”. No ano passado, pela primeira vez, o valor investido em energias renováveis ultrapassou o valor gasto em combustíveis fósseis.
“Sistemas de alerta precoce não são um luxo”
Em um outro painel de alto nível também nesta quarta-feira, o chefe das Nações Unidas abordou outra injustiça climática: o fato de que quase metade dos países do mundo não estão cobertos por sistemas de alerta de desastres.
Em média, os países menos desenvolvidos e os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento dispõem de menos de 10% dos dados que necessitam para alertas eficazes.
Para o secretário-geral da ONU, “nesta era de catástrofe climática, os sistemas de alerta precoce e a proteção contra o calor extremo não são luxos. São necessidades. E bons investimentos”.
Esses mecanismos podem proporcionar um retorno de quase dez vezes sobre o que seria gasto caso eles não existissem. Além disso, medidas básicas de segurança ocupacional em resposta ao calor extremo poderiam economizar mais de US$ 360 bilhões por ano.
Estudantes participam de um exercício de evacuação de segurança na província costeira de Koh Kong, no Camboja - Foto: Pnud/Kate Jean Smith
Todas as pessoas cobertas até 2027
Guterres enfatizou que as Nações Unidas estão atuando para garantir que estas proteções básicas não sejam negadas a ninguém.
A iniciativa de Alerta Precoce para Todos, liderada pela ONU, busca garantir que todas as pessoas do planeta estejam cobertas por sistemas de alerta precoce multi-riscos até 2027.
Ele concluiu dizendo que A COP29 deve concretizar uma nova meta de financiamento climático, que garanta de recursos para ações necessárias.