Este 23 de maio é o Dia Internacional para Acabar com a Fístula Obstétrica.
Este ano, o tema é “Acabe Agora com a Fístula: Invista em Cuidados de Saúde de Qualidade, Empoder as Comunidades”.
Problemas mentais
A fístula é uma ruptura no canal vaginal geralmente causada por partos demorados ou obstruções na hora de dar à luz, e pela ausência de cuidados médicos. A fistula obstétrica causa incontinência e vazamento das fezes.
Se não for tratada, pode gerar infecção, doença e infertilidade. Muitas mulheres acabam marginalizadas, estigmatizadas e isoladas.
E em alguns casos, elas são abandonadas por maridos, parceiros e família, perdem oportunidades de empregos, são lançadas na pobreza e podem até começar a sofrer de problemas mentais.
Casamento infantil
A fístula obstétrica é também uma doença de países pobres e do sistema de saúde precário. Em nações ricas, ela quase não existe. Em todo o mundo, 500 mil meninas e mulheres vivem com o problema.
Meninas jovens demais ou vítimas de casamento infantil são mais propensas à fístula obstétrica.
O Fundo de População das Nações Unidas, Unfpa, lembra que essa é uma lesão evitável e tratável. Em 55 países, a agência lidera uma campanha para acabar com a fístula. A lesão pode ser tratada com uma cirurgia de reconstrução do canal vaginal, mas muitas mulheres e meninas não sabem acessar os cuidados ou as informações.
Cirurgias reparadoras
Somente o Unfpa já apoiou 120 mil cirurgias reparadoras.
A fístula é a causa de 8% dos casos de mortes maternas e em 90% das ocorrências resulta na morte do bebê.
As meninas e mulheres mais afetadas vivem em mais de 55 países na África Subsaariana, Ásia e Pacífico, Estados Árabes, América Latina e Caribe.
Os países-membros da ONU aprovaram uma resolução para acabar com a fístula até 2030.
A fístula obstétrica é um tema de desenvolvimento e de saúde pública, mas é também uma questão de direitos humanos. Um assunto que dá a cada um o direito à saúde, à vida e à dignidade.
1.Existem tipos diferentes de fistula obstétrica
Enquanto o tipo mais comum é uma cavidade entre o canal de nascimento e a bexiga (chamado fístula vesicovaginal), outros tipos incluem:
Fístula retovaginal: Buraco entre canal de nascimento e o reto
Fístula uretrovaginal: Buraco entre canal de nascimento e uretra (carrega urina da bexiga para fora do corpo)
Fístula ureterovaginal: Buraco entre ureteres do canal de nascimento (levar urina à bexiga) e canal de nascimento
Fístula vesicouterina: Cavidade entre bexiga e útero
Algumas fístulas são causadas durante operações ginecológicas (por exemplo, histerectomia) e cesarianas devido a cuidados de saúde abaixo do padrão assim como habilidades cirúrgicas inadequadas. São chamadas fístulas iatrogênicas. Fístulas traumáticas são causadas por violência sexual, especialmente em áreas de conflito; a destruição da vagina é considerada uma lesão de guerra.
2. As consequências físicas, sociais e psicológicas são arrasadoras
As mulheres que vivem com a fístula experimentam sofrimento físico e emocional ao longo da vida.
A condição pode levar a infecções, doença renal, feridas dolorosas, infertilidade e até à morte. O odor constante de urina e fezes deixa as mulheres envergonhadas e estigmatizadas, abandonadas por seus amigos e familiares e comunidades.
Muitas sofrem de depressão, pensamentos suicidas e outros problemas de saúde mental. Elas também têm mais tendência à pobreza e vulnerabilidade.
3. Mulheres jovens são mais vulneráveis
Aos 13 anos, Razia Shamshad se casou e engravidou. Depois de passar por um parto obstruído, por quatro dias, com uma parteira não qualificada, ela desenvolveu uma fístula obstétrica e um bebê natimorto.
A recuperação de Shamshad finalmente ocorreu, mas somente após várias cirurgias. Ela disse que "nenhuma mulher merece viver nessa situação deplorável principalmente quando existe tratamento.”
A fístula não discrimina por idade, mas as mulheres jovens são mais expostas à situação porque seus corpos ainda não estão formados e preparados para o parto.
Nove em cada 10 nascimentos de meninas entre 15 e 19 anos ocorrem em casamento ou união. Em todo o mundo, as complicações da gravidez e do parto são a principal causa de morte entre meninas entre 15 e 19 anos. É só mais uma razão pela qual o Unfpa trabalha para erradicar a prática do casamento infantil.
4. A fistula é mais comum em situação de pobreza e desigualdade
A fístula obstétrica desapareceu em países ricos com sistemas de saúde de qualidade e profissionais qualificados, que podem realizar cesarianas. Mas em países pobres, parteiras bem treinadas são parte da solução. A Confederação Internacional de Parteiras afirma que "acabar com a fístula obstétrica requer o envolvimento total das parteiras nos níveis comunitário, nacional, regional e global".
Além da falta de serviços de saúde de qualidade, a pobreza é um grande risco social porque está associada ao casamento precoce e à desnutrição. O subdesenvolvimento da pelve, bem como a desnutrição, a baixa estatura e as condições de saúde geralmente levam a fatores fisiológicos para o trabalho de parto obstruído. No entanto, mulheres mais velhas que já tiveram bebês também estão em risco.
Além disso, devido à desigualdade de gênero em muitas comunidades, as mulheres não têm autonomia para decidir quando começar a ter filhos ou onde dar à luz.
Maseray Bangura, que foi submetida a uma cirurgia de reparação de fístulas no Centro Feminino de Aberdeen, em Freetown, Serra Leoa, disse que sua dignidade foi restaurada. A construção da capacidade hospitalar para erradicar a fístula é apoiada pela Islândia e pelo Unfpa como parte da Campanha para acabar com a Fístula.
5. A fístula é tratável e sobretudo é evitável
Nem todos sabem que até 95% das fístulas podem ser fechadas com cirurgia. Um reparo cirúrgico custa US$ 600, mas que para a maioria das mulheres com fístulas é considerada uma fortuna. Muitas não sabem que existe tratamento para a fístula. Por meio de sua assistência aos países e da Campanha para acabar com a Fístula, o Unfpa apoiou mais de 121 mil cirurgias reparadoras que mudaram a vida dessas mulheres em 2003 e treinou milhares de profissionais de saúde para prevenir e tratar fístulas.
Mas antes mesmo de chegar à fase de tratamento, o foco deve ser a prevenção. Estas medidas incluem acesso ao planejamento familiar, assistentes de parto qualificados e atendimento obstétrico de emergência. Abordar fatores sociais que contribuem para a fístula como casamento infantil, união e gravidez precoces, educação das meninas, pobreza e falta de autonomia das mulheres também faz parte da estratégia campanha para acabar com a fístula.
Ter a vida comprometida por trazer vida nova é um destino arrasador. Mas com consciência e vontade, o objetivo de erradicar a condição até 2030 é alcançável.